quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

"Flores pra você". Ass: Boto.

Na mitologia amazônica, o boto assume a forma humana e é irresistivelmente sedutor. Assim, conquista as mulheres desacompanhadas... Um modo de explicar ao marido como foi possível ficar grávida na sua ausência... Agora, os botos estão ainda mais perigosos.

O artigo de Marcelo Leite para o Jornal da Ciência, fala das pesquisas de Vera Fereira (Inst. Nacional de Pesquisas) e Tony Martin (Serviço Antártico Britânico). Estes estudos parecem mostrar que os botos carregam plantas aquáticas e pedaços de pau para "conquistar" a fêmea. Mais interessante do que isso é que este comportamento não é intrínseco à espécie. Há grupos que "entregam flores" e outros que não. Alguma coisa parecida com "cultural".

domingo, 9 de dezembro de 2007

Audiolivros

Nos EUA, o mercado de audiobooks é bastante intenso e é possível achar muitíssimos títulos lidos por alguém (by the way, a nice way to learn English!), desde os "best-sellers" como The Da Vinci Code (Dan Brown) e Harry Potter (J.K. Rowling), até clássicos como The Trial (Franz Kafka) e The Lord of the Rings (J. R. R. Tolkien) e até mesmo científicos, como The Origin of the Species (Charles Darwin), The Fabric of Spacetime (Brian Greene) e Dreams of a Final Theory (Steven Weinberg), ou o Surely You're Joking, Mr. Feynman (Richard P. Feynman)... bom, já chega. O ponto é: tem para todos os gostos! Para audiobooks gratuitos em inglês, veja o LibriVox. (Entretanto, alguns dos que citei aqui não são gratuitos... mas é facílimo encontrá-los em qualquer servidor de torrents, por exemplo... hehehe).

Em português, há poucos livros disponíveis. Mas agora já temos alguns clássicos gratuitos na rede. Na Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa (BibVirt) tem vários audiolivros disponíveis... Machado de Assis, Castro Alves, Camões, José de Alencar, Adolfo Caminha, Eça de Queiroz, etc. O único "problema" é que os arquivos estão em ".ra", que é uma terminação para Real Player (no meu computador, tive que, no momento de salvar, acrescentar ".ram" ao nome do arquivo para que eu o ouvisse sem problemas, de modo que o arquivo ficava, por exemplo, "arquivo.ra.ram"). Mas é possível convertê-lo para mp3 sem grandes dificuldades, imagino. Há programas gratuitos que fazem isso. Por exemplo, veja este, no Superdownloads.

O site tem muito mais coisa além disso. Ainda não o explorei completamente e, quando o fizer, postarei aqui o que eu for achando de mais legal.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Aniversário

Todo ano a mesma coisa: "Parabéns, felicidades e tal". O que não vem, senão acompanhado da pergunta natural que se faz o próprio aniversariante: "O que esse dia tem de especial? Estão me parabenizando pelo que, afinal? Já que não foi por mérito meu que vim ao mundo...".

Ao que parece, há, sim, algo de especial neste dia. É uma quebra na invariância temporal à que estamos acostumados. Por vezes, o tempo nos parece o mesmo em todas as direções e se pensamos em fazer algo, qualquer pequeno contratempo justifica um adiamento. Afinal, "amanhã", é igual a "hoje". Não posso hoje, mas farei amanhã, por certo. Chegando o amanhã, novos contratempos. "Trabalho...." E pior é o caso dos velhos amigos. Ligar? Pra que? Dizer o que? "Hoje não estou muito pra conversa. Um dia eu ligo..." Quando somos deixados à escolher algo, muitas vezes não conseguimos lidar com isso e preferimos seguir alguma diretriz já estabelecida.

E foi assim que em algum momento, alguém teve a idéia genial de criar um período que por definição seria diferente. Tudo isso pode ser posto como um problema matemático cuja solução seria de grande importância para a sociedade:
Seja Q = {q°, q¹, q², q³, ...} o conjunto dos entes queridos e seja I = {i°, i¹, i², i³, ...} o conjunto formado por intervalos de tempo. Encontre f: Q -> I.
O primeiro ponto a ser decidido seria a escolha destes intervalos. Escolher um por pessoa, tornaria os encontros muito esparsos entre si... Sendo vários por pessoa, teríamos uma complicação no problema. Afinal, começamos por querer escolher um momento para cada pessoa querida e terminamos por ter que decidir vários. O melhor, então, seria que fossem periódicos, e nesse serviço, a Natureza nos daria exemplos e apoio. Temos o ciclo do Sol, da Lua e das Estações, para citar apenas os mais evidentes. O ciclo do Sol é muito curto e algumas pessoas não são tão queridas assim a ponto de querermos vê-las a todo dia... Deve ter sido alguém com um amigo deste tipo que propôs o ciclo das Estações. Sua idéia foi acatada e hoje cada ente querido tem um momento para si uma vez por ano, pelo menos. Um momento em que ele se destacaria dentre todos os outros e teria direitos e atenções.

Mas é claro que a duração deste momento é de fundamental importância... se marcássemos uma hora para cada ente querido, teríamos pouca mobilidade. Sem contar que quem tem bons amigos logo rejeitaria tal proposta, afirmando que "uma hora é muito pouco". Dessa vez, o grupo daqueles com bons amigos ganhou. Cada pessoa tem um dia inteiro pra si. A coisa à esta altura já estava praticamente resolvida quando alguém lembrou que restava ainda um detalhe. Dado algum q, qual seria o i correspondente?. Ou seja, faltava definir a função f: Q -> I.

Algum sábio (que, por descuido, não tem seu nome registrado na História), decidiu que f seria simplesmente o nascimento. Então, f(q) = Nascimento de q. Afinal, esta função estaria bem definida para todos os habitantes do planeta, em qualquer época futura ou passada. Até mesmo Jesus Cristo, que não nasceu do modo usual, tem a si um dia associado! E mais: cada pessoa tem apenas uma data pra si. Novamente, até mesmo Jesus que tem duas datas de morte, tem uma única de nascimento.

E assim ficou decidido. A idéia foi um sucesso. Até hoje, as pessoas comentam "Vamos comemorar! Afinal, não é todo dia que se faz aniversário". E modificam seus planos e fazem um esforço para ver ou falar com a pessoa querida ao menos uma vez a cada ano: "Hoje é aniversário do Fulano, tenho que ir"...

Então, resumindo, parabenizam pela sua existência. Não é que as pessoas não estejam felizes por sua existência nos outros dias. É que em somente um dia por ano, dizem isso. O aniversário é apenas o dia previamente combinado para fazê-lo.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Saliva usada para detectar HIV

Há, desde 2004, nos EUA, um teste de HIV que não usa amostras de sangue, mas somente uma amostra de saliva. O resultado sai em 20min e é 99% confiável. O "OraQuick" não é comercializado em farmácias, e é encontrado apenas em centros de saúde e hospitais e custa (nos EUA) o equivalente a R$ 35,00.

Pois muito bem, parece que o Brasil o terá a partir de janeiro/2008. O exame aguarda aprovação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A médica Ely Cortês enfatiza que o "fluido oral" (ela evita falar "saliva"...) não transmite AIDS, embora possa ser usada para detectá-la. ("É preciso deixar isso muito claro. O que pode existir no fluido oral são os anticorpos do vírus, que não são transmitidos para uma outra pessoa"). Aqui o exame também não estará disponível em farmácias ("Não é brincadeira. Se der positivo, [aquele que fez o teste] recebe o aconselhamento. Se der negativo, ele também deve ser orientado porque, se fez o teste, é porque esteve numa situação de risco", diz a médica Ely Cortês).

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Analema, o desenho do Sol

Receita: Fotografe o Sol todos os dias na mesma hora durante um ano inteiro. (Sei, "fotografar o Sol" não é legal... ao lado, uma alternativa: Numa tábua com um pino cravado, marque a ponta da sombra na tábua todos os dias, na mesma hora, durante um ano.)

Resultado: O desenho será semelhante a um "8" (pode ser mais, ou menos inclinado, dependendo da hora que vc escolheu pra tirar as fotos). Pra ser sincero, eu mesmo não fiz o experimento e peço que se alguém fizer, comente aqui o resultado.


Comentários: O nome da figura formada é analema. No Astronomy Picture of the Day, vários analemas já foram mostrados (com fotos tiradas na Ucrânia e Grécia, por exemplo). No dia de hoje, fizeram um vídeo, mostrando uma sequência de fotos tiradas em Nova Jersey (EUA). (OBS: se forem clicar pra ver o vídeo, sugiro que usem o modo "tela cheia", normalmente, a tecla F11)

É claro que o analema que observamos é dependente do movimento da Terra em torno do Sol. Em outros planetas, veríamos algo diferente. Eis um analema visto em Marte:


Para saber mais sobre tudo isso, veja o site Observatório, do Observatório Astronômico de Lisboa.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Momento de pessimismo...

domingo, 2 de dezembro de 2007

Vida de estudante

O cartunista nova-iorquino Sidney Harris fez fama desenhando sobre temas científicos, desde 1955. Os desenhos de S. Harris apareciam (ou "aparecem".. sei lá) em revistas científicas e publicações com ficção científica. Tomei conhecimento do seu trabalho com a recente publicação de "A Ciência Ri", pela Editora Unesp. Exempli gratia:


sábado, 1 de dezembro de 2007

Idéia para bancos e supermercados

Não seria legal ter caixas de auto-atendimento nos bancos programados para fazer uma única operação por cartão? Isso evitaria, por exemplo, que alguém espere muito tempo só para sacar míseros R$ 10,00, esperando (início de mês é terrível...) as pessoas que têm que pagar conta, tirar saldo, sacar, transferir, etc.

Para os supermercados, penso que seria uma boa a criação de um caixa que não dá troco. Quem já tem o dinheiro trocado, tem a vantagem de usá-lo. Se sua compra custa R$ 0,98 e vc tem R$ 1,00 e está disposto a "comprar" um naco de tempo por R$ 0,02 vc também poderia usá-lo.

Mas já me disseram que isso não seria factível. Sei lá, mas estas idéias voltam sempre que estou numa fila.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Poema de Raul Seixas

No site Casa do Bruxo, encontrei poesias atribuídas à Raul Seixas. Essa é de 1976:

A saudade é um parafuso
Que quando a rosca cai
Só entra se for torcendo
Porque batendo não vai
Mas quando enferruja dentro
Nem distorcendo não sai.

sábado, 24 de novembro de 2007

Arte, Matemática, Física e Engenharia

O que o homem não consegue imaginar, eu não sei o que é (pois não consigo imaginar o que seja). Aquilo que a mente humana consegue conceber e desperta o interesse de outra mente, é chamado de Arte. Dentre as coisas que despertam interesse, há aquelas que têm uma lógica (ou seja, não são contraditórios entre si) e esse subconjunto de pensamentos é a Matemática. Além disso, dentre os pensamentos que têm lógica, há aqueles que de fato existem na Natureza (i.e., são representações mentais de fenômenos naturais que nos cercam); e lidar com estes pensamentos é tarefa da Física. Por fim, entre as coisas que podemos conceber, são interessantes, têm lógica e existem na Natureza, há aquelas que podemos manipular e esse é o interesse da Engenharia.... Para algumas pessoas somente é útil aquilo que podemos conceber, é interessante, tem lógica, existe na Natureza e cuja manipulação gera dinheiro.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Aumento nas bolsas de CNPq e CAPES

Os valores das bolsas de mestrado e doutorado serão reajustados. A partir de março de 2008, o valor aumentará 20%. É o terceiro aumento do governo Lula, que tenta corrigir a total ausência de ajuste das bolsas no governo anterior.

Além disso, o governo pretende aumentar a quantidade de bolsistas. A meta é atingir 155 mil bolsas do CNPq e da Capes até 2010. Hoje são concedidas 95 mil bolsas e em 2006 foram 65 mil, de acordo com informações do governo (Para ler mais, veja a notícia no site da CAPES, ou em [1, 2, 3, 4]).

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ATUALIZAÇÃO:

Hoje, quarta-feira, 30/abril/2008, recebi o seguinte email:
Reajuste do valor das bolsas a partir de 1/6/2008.

Durante a comemoração dos 57 anos do CNPq nesta quarta-feira (30/04), o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, anunciou que as bolsas de pós-graduação terão reajustes de 27% e 29% a partir de 1o. de junho deste ano. Assim, a bolsa de Mestrado passa ao valor de R$ 1.200,00 e a de Doutorado para R$ 1.800,00.

Com relação à implementação anteriormente prevista, o atraso se deve à demora na aprovação do Orçamento da União. Em compensação, os aumentos a serem concedidos excedem os 20% anteriormente anunciados.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Festa do Livro da USP e Livros Brasileiros de Física

Depois de amanhã, quarta-feira, 21 de novembro, inicicia-se a feira anual da USP, em que as editoras oferecem um desconto mínimo de 50% sobre quaisquer de suas publicações. Para mim, é um evento aguardadíssimo :-)

A notícia "oficial" pode ser lida no site da EDUSP, e a lista de editoras participantes pode ser vista aqui.

Falando em livro, uma coisa que acho legal no mercado editorial recente é observar que hoá um crescente número de publicações brasileiras em física. Hoje, é quase possível fazer um (bom!) curso de graduação usando como livros-textos apenas livros em português. Melhor do que isso: Livros escritos por brasileiros! Eis alguns exemplos:

Física Básica:
- Alaor Chaves;
- Moysés Nussenszeig;

Mecânica Analítica:
- Nivaldo A. Lemos;

Termodinâmica:
- Walter F. Wreszinski;
- Mário José de Oliveira;

Mecânica Estatística:
- Silvio Salinas;

Mecânica Quântica:
- A. F. R. de Toledo Piza;
- Waldemar Wolney Filho;

Eletromagnetismo:
- Kleber Daum Machado;

E há também cursos de assuntos matemáticos, como as Notas de Física-Matemática, da profa. Carmen Lys Ribeiro Braga. E cursos avançados como o Teoria Quântica dos Campos, do prof. Marcelo Gomes, além de muitos outros textos especializados em estado sólido, cosmologia, equações diferenciais e biofísica.

É claro que para uma formação completa o estudante deve sempre recorrer à uma extensa bibliografia, lendo também os clássicos internacionais como os livros de Landau, Dirac e Jackson. Assim, a máxima de que "inglês é importante" continua valendo, já que é neste idioma que encontramos os tais clássicos (embora não sejam sempre escritos originalmente em inglês, todos os que eu conheço têm uma versão em inglês). Mas há um prazer todo especial em ler em português: É nossa produção.

sábado, 17 de novembro de 2007

Por um Aurélio mais preciso

Definição: Seja P o conjunto de problemas que dizem respeito à sociedade e S o conjunto de soluções. Considere ainda os subconjuntos Pi e Sj e suponha que exista o conjunto de funções fij: Pi --> Sj. Denominamos profissonal aquele que conhece (ou busca conhecer) pelo menos uma das funções fij e utiliza este conhecimento (ou os resultados preliminares de sua busca) para benefício de outros seres. Chamamos de profissão aquilo que o profissional faz.

Note que o dinheiro não é requisito para definir o profissional. Por ser uma parte importante do processo, o dinheiro é usado para classificar os profissionais em três subgrupos: Se um profissional recebe dinheiro de um outro profissional pré-determinado para exercer sua profissão, recebe o nome de empregado. Se, por outro lado, recebe dinheiro de alguma outra pessoa, é chamado profissional liberal. E se não recebe dinheiro de ninguém, é chamado filantropo.

Note ainda que na definição de profissão, faz-se necessário que o conhecimento (ou resultados parcias da busca deste) seja utilizado em benefício de outros seres, que não devem ser necessariamente humanos. Alguns biólogos o utilizam em benefício de animais e florestas. Uma pessoa que conhece (ou busca conhecer) algum f sem o objetivo de beneficiar outrem, é chamado culto, ou interessado no assunto. Por fim, Aquele que tem o objetivo de ajudar outros, mas simplesmente não é capaz de encontrar alguma solução e nem mesmo uma versão preliminar que se possa usar, é chamado frustrado.

Por exemplo, o artista é aquele para o qual Pa inclui coisas como estar entediado com a vida.

Outro exemplo de profissional é o professor:

Definição: Professor (ou educador) é aquele profissional para o qual P = Pe U Pa, em que Pe é o conjunto formado pelas problemas que resultam das dificuldade em se ensinar algo a outro ser humano, e Pa é o conjunto de problemas relacionados a alguma atividade.

Assim, um professor de química é aquele para o qual Pa inclui coisas como reconhecer um ácido, fabricar detergentes, classificar os diversos materias que compõem o Universo, etc. Um caso especial de professor é quando este ensina um futuro professor, i.e., Pa = Pe, ao qual denominamos professor de pedagogia.

O aluno é a criatura que é beneficiada diretamente pela atividade do professor. Em outras palavras, o aluno é aquele que provoca os problemas listados em Pe. De modo que o "ser humano" que consta na definição de Pe não é outro senão este a quem nos referimos por "aluno".

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Da capacidade de admiração

Para apreciar a beleza de uma resposta, é necessário compreender a profundidade da pergunta.

É por isso, no meu entender, que acontece coisas como a que aconteceu comigo quando estava no segundo grau e tive que ler - e odiei - o poema Morte e Vida Severina, que me pareceu um excelente texto quando o reli anos depois. Entendo que nas artes há a beleza evidente e aquela oculta. A beleza oculta na poesia de Camões está na estrutura dos versos e a beleza oculta da pintura de Escher está no jogo que ele procura fazer com a representação de três dimensões em apenas duas. Em outras palavras, para apreciar a beleza de um triângulo de Penrose (ao lado) é necessário compreender que aquilo que está diante de si é uma representação do impossível.

Com tudo isso em mente, entendo que a ciência nos mostra a beleza oculta da Natureza. É buscando compreendê-la que entendemos o quão delicada e sofisticada é. E isso me lembra este vídeo, de Richard P. Feynman:



(resumidamente, em tradução livre):
"Tenho um amigo artista que [...] mostra uma flor e me diz: 'Veja como é bonita. Como artista, eu vejo esta beleza. Vocês cientistas a dividem em partes e a analisam e ela se torna uma coisa chata!', mas eu não concordo com ele. A beleza que ele vê pode ser vista por outras pessoas, inclusive por mim. Mas ao mesmo tempo, eu vejo muito mais naquela flor, pois eu vejo as células e os processos todos que ocorrem nesta escala tão pequena, em que também há beleza. Quero dizer, há beleza também na estrutura interna da flor, além daquela visível a olho nu."

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Garrafas no oceano cósmico

O desenho acima foi escrito numa placa metálica e posta a bordo das espaço-naves Pioneer 10 e 11 (a primeira delas, lançada em 1972). A idéia é que estas naves eventualmente sairiam do Sistema Solar e, se fossem encontrada por algum extra-terrestre, ele poderia ter notícias nossas (queremos ter notícias diretas deles e por isso, achamos que eles querem também...). No topo, uma representação do hidrogênio, que é (ou parecia ser) o troço mais abundante do Universo. O "asterisco" dá a localização do nosso Sistema Solar em relação a 14 pulsares. O desenho do homem e da mulher está sobre o desenho esquemático da nave, para que as criaturinhas tenham idéia do nosso tamanho. E bem abaixo, uma representação do nosso Sistema Solar, indicando de onde veio a nave (The Third Rock From The Sun... rsrs).

Outra tentativa de se comunicar com o cosmo foi feita com as naves Voyager, lançadas em 1977. Dessa vez, fomos mais sofisticados e enviamos um disco de ouro contendo algumas de nossas músicas e outros "sons da Terra".

As naves já estão na beiradinha do Sistema Solar. Dos objetos em que o homem pôs a mão, são os mais distantes de nós. Tudo isso era só para dar o contexto para o que seria o único motivo da postagem: mostrar-lhes este site, que mostra a localização atual das espaço-naves.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Quando falar inglês?

O texto do Feynman que publiquei ontem remete a uma questão sobre a qual penso há tempos: "Quando falar inglês?".

Nos encontros internacionais, me parece claro que a coisa mais razoável é que os palestrantes falem em inglês, mesmo sendo um encontro sediado no Brasil e que a maioria dos ouvintes sejam brasileiros. Eu não gostaria nem um pouco de ir lá na Rússia para um encontro internacional e alguém falasse em russo.

O que eu não sei bem como responder é quando há estrangeiros num encontro nacional, algo parecido como o que o Feynman relata. Por exemplo, neste ano, no Encontro Nacional de Física de Partículas e Campos, havia convidados de fora. Estavam lá, por exemplo, Glenn Starkman e Lee Smoolin. Esses caras foram convidados para fazer com que os próprios brasileiros se inscrevessem no encontro, já que se estivessem lá apenas palestrantes daqui, eu sei que o número de participantes diminuiria. Aí, pedimos aos gringos que, por favor, venham aqui darem o ar de sua graça. Não seria educado de nossa parte permitir que participassem do restante do encontro? Por outro lado, e os brasileiros? Claro que para ir a um encontro nacional, o sujeito não precisa saber o inglês e é claro que em caso de optar, é mais justo agradar aos donos da casa... O Feynman contou a história de modo a parecer absurdo que tentassem agradá-lo. Não sei se foi tão absurdo como o tom jocoso dele indica...

Bom, tudo isso é pra me justificar, pois se eu fosse um daqueles palestrantes, eu teria talvez optado pelo inglês e me sentiria ofendido pelas palavras do Feynman. (É bem verdade que ali, tínhamos um caso especial, já que o gringo falava um pouco de português).

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Deve ser brincadeira, Sr. Feynman!

Richard P. Feynman foi um dos grandes físicos do século XX. Participou do projeto americano de fazer a bomba atômica, deleitava-se abrindo cofres (sem saber a senha) e tocava bongô. Além disso, tinha um humor e um grande talento para contador de história. Juntando tudo isso num mesmo homem, resultou numa vida cheia de episódios bons de contar. O próprio Feynman contou alguns deles.

Abaixo, um trecho do livro "Deve ser brincadeira, Sr. Feynman!", em que fala de sua experiência no Brasil.

No Brasil, pensei, a princípio, que faria minhas palestras em inglês, mas percebi uma coisa: quando os estudantes explicavam algo para mim em português, eu não entendia muito bem, apesar de saber um pouco de português. [...] Aí descobri que, se quisesse conversar com eles e tentar ensiná-los, seria melhor eu falar em português, mesmo sendo precário como era. Seria mais fácil para eles entenderem.

Na primeira vez que estive no Brasil, por seis meses, fui convidado a fazer uma apresentação na Academia Brasileira de Ciências, sobre algum trabalho em eletrodinâmica quântica que eu havia acabado de fazer. [...] Comecei escrevendo minha palestra em um português totalmente confuso. [Aí, dois estudantes brasileiros] ajeitaram a gramática, consertaram as palavras e deram uma melhorada. [...]

Cheguei à reunião da Academia Brasileira de Ciências, e o primeiro palestrante, um químico, levantou-se e deu a palestra – em inglês. Ele estava tentando ser educado, ou o quê? Eu não conseguia entender o que ele estava dizendo, por causa de sua pronúncia, que era péssima, mas talvez alguma outra pessoa tivesse o mesmo sotaque e tenha conseguido entendê-lo; eu não sei. Então o próximo palestrante levanta-se e dá a palestra em inglês!

Quando chegou a minha vez, levantei-me e disse: “Desculpem; eu não havia percebido que a língua oficial da Academia Brasileira de Ciências era inglês, e por isso não preparei minha palestra em inglês. Então, por favor, desculpem-me, mas terei de fazê-la em português”.


Além do trecho acima, há mais para ler sobre a experiência de Feynman no Brasil neste link.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Um Autor em Busca de um Personagem.

[ATUALIZAÇÃO: uma versão modificada deste texto foi publicada na edição #6 da Revista Originais Reprovados, página 15. Para ir direto ao PDF, clique aqui.]

Eu quero escrever, mas não tenho história alguma pra contar. Não conheço ninguém suficientemente diferente dos demais a ponto de ser um personagem interessante. Aliás, isso de personagem interessante é a causa dos acontecimentos novelescos. Muita gente fala que é inverossímil que o personagem principal de uma trama qualquer escape ileso de tantos incidentes. Mas não vejo nada de perturbador nisso... é uma espécie de Seleção Natural. Se o sujeito morre logo e não escapa de nada, é igual. Sendo igual, por que seria "principal"? Para ser personagem principal, tem que haver algo mais, algo de interessante e diferente, o que me lembra que eu não tenho personagem e, portanto, não tenho história... Mas há muita gente no mundo e não é difícil escolher alguém. Nem peço seis! Um só, já seria de bom tamanho!

Pensar em muita gente me faz pensar nos malditos ônibus lotados que tomamos por necessidade. Por "necessidade", quero dizer aqueles que tomamos para ir ou voltar ao trabalho, por exemplo. Na ida, uma pessoa entra no trabalho e, com seu uniforme e comportamento-padrão, esforça-se por parecer muito igual. Não pode ser interessante um indivíduo que dá tudo de si para parecer normal... Na volta, há esperanças de conhecermos alguém. E foi por este motivo que escolhi um ponto de ônibus para encontrar nosso personagem, a quem me refiro no masculino aqui por que é assim que funciona nosso idioma, mas que, para contrariar, tomarei uma mulher por personagem. Aquela serve.

Ela já sobe. Levava o dinheiro já contado na mão. Faz bem. É detestável quando alguém perde tempo buscando moedas na bolsa, enquanto os outros espremem-se para que a porta do ônibus fosse fechada com eles dentro do veículo. Mantinha o olhar na frente, até mesmo quando entregava o dinheiro ao cobrador. Acho que busca por um lugar vago, o que não era de todo impossível, já que alguém dos que estavam sentados bem poderia levantar-se neste exato momento. Embora possível, não é razoável supor que o lugar ficasse vago até que ela cruzasse a roleta e se dirigisse até lá. Mas olhava assim mesmo... Na verdade, talvez nunca tivesse parado para pensar que talvez não fosse razoável aquilo que fazia instintivamente. No mais, parece que não tinha um lugar melhor para olhar.

Parou de avançar quando chegou suficientemente perto da porta dianteira, por onde desceria. Fixou o olhar na janela. Não é possível a este narrador saber se olhava para sua própria imagem, se via através do vidro, ou se via o que não olhava. Nem se podia saber se estava feliz ou trite. É uma pessoa sem expressão... Ou melhor, estava sem expressão naquele momento e é uma lição que aprendemos rápido que as expressões são fortemente modificadas na presença de conhecidos. Acho que não conhecia ninguém ali naquele ônibus... Provavelmente, não... Certamente, arrisco dizer...

E, enquanto eu me perco arriscando coisas que não são de fato acessíveis à mim, nossa personagem sussura um "Dá licença", que saiu tão inaudível quanto o seu "Obrigado" ao motorista. Ambos aparentemente imperceptíveis à qualquer criatura daquele ônibus, como saem algumas das nossas gentilezas verbais...

Estamos numa rua escura, com pouco movimento de carros. A mulher segue em direção ao estabelecimento mais iluminado que se vê daqui. Parece uma padaria ou algum pequeno...

...Não! Enganei-me. Virou à esquerda. Ali, era tudo de mesma luminosidade. Só casas. Entrou numa qualquer... presumivelmente, a dela. Estava escura, mas a adaptação que a má luminosidade da rua proporcionou aos olhos me permitiu ter uma idéia da distribuição de móveis e uma noção geral da casa. Não era grande, nem pequena. Isso se ela morasse sozinha. Talvez dividisse com alguém (o que a faria pequena), talvez morasse com os pais (o que a faria menor)... não sei. Sem acender luz alguma, e com passos no mesmo ritmo que caminhou do ponto de ônibus até aqui, dirigiu-se à um cômodo, de onde saiu antes que eu a acompanhasse e foi ao banheiro, que era agora o único cômodo iluminado da casa. Hesitei... Talvez devesse esperá-la sair... Dane-se: Segui. Tomou banho sem pressa, nem prazer aparente. A desgraçada era completamente desinteressante e sem surpresas! Ensaboava-se sem malícia, nem cuidado (nem chegou a lavar o pé!). Ao fim daquele espetáculo sem graça, o primeiro indício de alguma emoção: ao enxugar o rosto, desceu com a toalha até o peito e ali a segurou por um momento com as duas mão. Imóvel, fixava o olhar profundamente na direção de um azulejo que não tinha nada de especial. Enfim, um torcido na boca que pareceria um sorriso a quem tivesse disposto a ver um. Ah! Se ao menos tivesse outras pessoas na casa, ou se a maldita infeliz conversasse sozinha... Saindo dali, foi deitar. Dormiu rápido e quase não se mexeu durante a noite... Ninguém chegou na casa. Somente a manhã chegou no mesmo instante em que eu saí. Não foi de todo perdido... Mesmo não sendo interessante minha escolha, este texto morre junto como tempo que este narrador queria matar.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Uso apropriado da fonte

Quando apresentamos uma idéia que lemos em algum lugar, devemos defendê-la usando argumentos próprios e pertinentes à questão. Nunca usar a fonte como argumento. Se você entendeu e concorda com os argumentos da fonte, é completamente desnecessário dizer o nome do autor para dar suporte à idéia.

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P.S. Mas por vezes é necessário que a fonte seja dita explicitamente para que não se deixe uma impressão sobre quem defende a idéia (sem tê-la criado) além de suas reais capacidades intelectuais.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Quando dizer que entende?

Mais do que a notícia, me interessou este trecho da reportagem:
Pois é, os cientistas às vezes são engraçados: primeiro eles lhe dão uma explicação "brilhante", daquelas que não parecem dar qualquer margem a dúvidas. Depois, eles descobrem uma explicação melhor e vêm dizendo: "Até hoje ninguém sabia realmente como..." e etc.
A notícia à qual me refiro e o contexto em que isso foi dito é entendido se eu mostrar outro trecho do texto:
Cientistas holandeses descobriram como a bicicleta funciona! Se você fizer uma busca no Google descobrirá milhares de sites com explicações sobre como a bicicleta funciona. Será que os cientistas não costumam usar a Internet?
... Para ler mais, clique no trecho acima. Mas, como eu disse, a notícia em si não me despertou o interesse tanto quanto aquela observação...

Isso tudo me lembra uma coisa que o Freeman Dyson escreveu no texto que eu já citei aqui. Disse ele: "O público não vê utilidade em um cientista que diz, 'Desculpem, mas nós não sabemos'. O público prefere ouvir cientistas que dão respostas confiantes às perguntas e faz previsões confiantes do que acontecerá como resultado da ação humana. Então acontece que os especialistas [...] tendem a falar mais claramente do que eles pensam. Eles fazem previsões confiantes acerca do futuro e terminam por acreditar em suas próprias predições. As previsões se toram dogmas que não são questionados. O público é levado a crer que os dogmas científicos da moda são verdade, e às vezes pode acontecer de estarem errados. É por isso que são necessários os heréticos que questionam os dogmas".

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Super buraco negro

Um grupo internacional de astrônomos localizou um buraco negro estelar de proporções excepcionais em órbita em torno de uma estrela gigante. Com massa 16 vezes maior do que a do Sol, trata-se do maior buraco negro estelar conhecido.
Infelizmente, estou sem tempo para pesquisar e comentar a notícia. O trecho acima foi copiado ipsis literis do site Inovação Tecnológica. O artigo foi publicado na Nature e também tem a versão gratuita no arXiv:0710.3165 (astro-ph). No resumo do artigo, os autores dizem que o buraco negro possui 15.65 (+/- 1.45) massas solares e que os modelos astrofísicos têm dificuldades em descrever buracos negros estelares em sistemas binários com massas superiores a 10 massas solares.

sábado, 27 de outubro de 2007

Idéia para ficar rico

Se eu fosse um empreendedor, investiria num Dicionário com Índice Remissivo. Para slogan, poria: "Mais eficiência e organização em sua busca". Sucesso garantido...

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O que é um físico?

No ano passado, no Encontro Nacional de Física de Partículas e Campos, David Gross comentou que há físicos trabalhando em tantas áreas que às vezes ele se procurava por uma boa definição para um físico. Disse que a melhor que encontrou, foi:
  • Um físico é aquele que aprendeu eletrodinâmica pelo Jackson.
Segundo ele, esta definição tem a vantagem de excluir engenheiros e outros profissionais que, em algumas situações, tanto se parecem com os físicos... Embora sem a vantagem apontada pelo Gross, uma boa definição também seria:
  • Um físico é uma máquina que transforma café em teoria;
E tem também aquela redundante:
  • Físico é aquele que se comporta como outros físicos.
Mas físicos de áreas diferentes têm costumes diferentes... quando vamos numa palestra de um físico experimental, temos a nítida impressão de que:
  • Físico experimental é aquele que vê três retas no desenho abaixo:
E, já que falei dos experimentais e não quero criar confusão, digo aquela clássica:
  • Físico teórico é aquele que descreve uma vaca como sendo "aproximadamente uma esfera".
E há frases características:
  • Quando descreve alguma coisa, acrescenta: "Ou coisa do tipo"
  • Quando pressionado a dar o valor numérico de alguma coisa: "Da ordem de..."
  • "Transição de fase", para falar de alguma coisa que mudou.
  • "Em primeira aproximação", quando não quer entrar em detalhes.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Preconceitos sobre o preconceito

Há quem diga que os preconceitos são maléficos. Não são. A habilidade de julgar alguma coisa antes de conhecer é fundamental para nossa segurança em muitos casos. É assim que tomamos decisões. Não conhecemos o futuro. Baseamos-nos tão somente nos nossos pré-julgamentos. E estes últimos baseiam-se em experiências anteriores que tivemos, ainda que tais experiências não tenham sido nem vastas, nem completas e, muitas vezes, nem livre de enganos.

O problema começa quando estes pré-julgamentos são usados para justificar o injustificável. Você é LIVRE para ACHAR que alguém que vc acabou de conhecer não é capaz, que é sujo, ou perigoso, ou que é estúpido, corrupto, etc. Mas vc NÃO pode agir COMO SE ele fosse tudo isso! Devemos ter em mente que preconceitos são preconceitos, apenas. Que são esboços sujeitos a reparos. Devemos considerar a possibilidade de estarmos errados em nossa hipótese inicial.

Recentemente, James Watson, que fora um dia aclamado como um "benfeitor da humanidade" (em princípio, condição necessária para se ganhar um Prêmio Nobel), foi imensamente criticado por ter declarado que negros são menos inteligentes do que brancos por razões genéticas. O deslize de Watson é evidente: Como uma autoridade no assunto, sua opinião pode ser tomada como um fato científico e justificar maltratos maiores à gente que já sofre muito.

O preconceito sobre o preconceito é tanto que há preconceitos que têm o mesmo caráter daquele racial, mas é, entretanto, apoiado pelo povo. Para dar um exemplo recente, o filme Tropa de Elite retrata uma polícia violenta e corrupta. Quando alguém sai do filme dizendo que os policiais são violentos e corruptos, essa opinião não é atacada. O mesmo para os políticos corruptos. Ninguém acha absurdo a classe de piadas que tem como elemento central o fato de que "não existe político honesto", ou que "todos os políticos vão para o Inferno". Por outro lado, o filme Cidade de Deus retrata uma favela violenta e cruel. Mas não se diga que favelados são violentos e cruéis. Piadas sobre isso são chamadas "humor negro", ou "de mal gosto".

É claro que não estou defendendo aqui que as pessoas que vivem em favelas são todas ligadas ao tráfico. O argumento é justamente o inverso. Quero convencê-los de que xingar e criticar toda a classe de políticos e policiais deve ser condenável tanto quanto falar da favela quando se vê o caso de um traficante. O mesmo para atores, ou cantores de axé, ou negros, ou playboys, ou gays, ou...

Novamente: Preconceitos não são ruins. Ruins são os usos. Xingamentos, violências e humilhãções são coisas ruins quer estejam baseadas em preconceitos, ou não.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Frase de Paulo Autran

Ontem, assisti uma entrevista que Paulo Autran deu ao Roda Viva no dia 09/set/2002. Muito boa a entrevista. Recomendo se puderem assistir (por exemplo, esperando a transcrição no Portal). Uma coisa que ele disse durante a entrevista que eu achei interessante/engraçado foi:
"O teatro é a arte do ator; o cinema é a arte do diretor; e a TV é a arte do anunciante."

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Deus e Papai Noel

Quando pequeno, eu não sabia se acreditava, ou não, em Papai Noel. Desconfiava, isso, sim. Não conseguia imaginar um mecanismo segundo o qual um senhor distribuía presentes pelo mundo inteiro, quase que ao mesmo tempo. No mais, muitos diziam que o Papai Noel, era o mesmo Papai que eu chamava de pai, assim mesmo, com pê minúsculo. Esta última hipótese era mais aceitável, mas eu não tinha provas. Prova seria vê-lo no momento em que ele punha o presente embaixo da cama. E assim, eu esperava. Para disfarçar melhor, fechava os olhos e tão bem disfarçava que só os abria na manhã seguinte em que já tinha o tal do presente ali e eu perdia minha chance de verificar alguma coisa. Todos os anos eu tinha a chance de verificar, de modo que algum dia, após tantas chances perdidas, eu consegui o que queria por outros modos: O presente não chegava mais e meu pai disse que ele fora desde sempre o Papai Noel. (Só o meu, é claro).

E hoje me parece muito próximo de tudo o que diziam sobre o Papai Noel, tudo o que dizem sobre Deus. E, embora eu não veja mecanismos, nem compreenda como Ele faz o que faz, dizem que tem poderes mágicos, assim como os tinha o Noel. Mas desta vez não posso testar qualquer hipótese todo ano. Posso testá-la apenas ao fim da vida. Lá terei uma resposta.

E parece que Deus e Papai Noel são muito próximos, só que Deus é um Papai Noel cujo tempo entre um Natal e outro é uma vida. O presente, é claro, é o Paraíso.

Quanto aos outros modos, quem seria o candidato? Quem diria que fora, desde sempre, meu Deus? Esta hipótese parece ainda menos plausível... Mas é claro que não estão tão intimamente ligados a ponto da inexistência de um servir como prova, ou mesmo indício da inexistência do outro.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Frases Legais II

- Consigo resistir à tudo, menos à tentação.

- Amar a Humanidade é fácil.... Difícil é amar o próximo. (Henry Ford)

- Direitos humanos são para humanos direitos!

- Não podemos resolver problemas usando a mesma linha de raciocínio que seguimos para criá-los. (Albert Einstein... Mais frases dele aqui).

- Os dispostos se atraem. Os opostos se distraem.

- Que o mel é doce, é coisa de que me nego afirmar. Mas que parece doce, isso eu afirmo plenamente. (Raul Seixas... Mais frases dele aqui).

- Na média, a humanidade tem 01 testículo e 01 seio.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

As heresias de F. Dyson

Freeman Dyson é um físico norte-americano que deu importantes contribuições para a teoria quântica dos campos. Uma das mais importantes foi mostrar que a formulação de Feynman para a Eletrodinâmica Quântica (usando integrais de trajetória) é equivalente à formulação (canônica) de Schwinger e Tomonaga.

Em agosto deste ano, ele publicou o que chamou de "Pensamentos heréticos sobre ciência e sociedade". O primeiro destes pensamentos é que as heresias são necessárias. Em minha opinião, isso não chega a ser heresia, já que todo cientista sério concorda que a ciência necessita de gente que questiona as bases. Embora, é claro, tais heresias não são sempre recebidas de braços abertos. Dyson conta a história de um colega seu (Tommy Gold), que teve dificuldades em ter suas teorias aceitas... Mas este exemplo já está no texto do Dyson... Eu cito outro exemplo: No livro "Uma breve história de quase tudo", Bill Bryson conta a história do geólogo canadense Lawrence Morley, que encontrou dificuldades em publicar seu artigo (e portanto é desconhecido hoje) sobre a expansão do fundo do Oceano. Esta expansão serve hoje como base para o Modelo da Deriva Continental (que afirma que os continentes se afastam aos poucos). Segundo Bryson, o editor da revista Journal of Geophysical Research comentou: "Tais especulações seriam interessantíssimas num coquetel, mas não é o tipo de coisa para ser publicada numa revista científica séria". Quando tais opiniões são desfavoráveis à uma idéia que mostrou-se certa, achamos ridículas. Mas acho que a resistência à novas teorias é um fenômeno natural e, até certo ponto, aceitável. Cabe ao desafiante mostrar-se certo. (É claro que tudo isso poderia ser feito com menos arrogância!)

O texto de Dyson, entretanto, é dedicado a apresentar a sua maior heresia: Ele considera exagero tudo o que é dito sobre as mudanças climáticas. Afirma, com razão, que o sistema que tratam é extremamente difícil de ser modelado e que suas previsões não são confiáves. Há muitas coisas que não entendemos bem e isso pode influir nos cálculos. Em entrevista à Scientific American em julho de 2007, por exemplo, o glaciólogo brasileiro Jefferson Simões afirma que o aquecimento global provoca um derretimento ínfimo do gelo antártico. Segundo Simões, até 2100, teríamos uma elevação de apenas 10cm no nível do oceano. A situação é diferente, entretanto, para o norte. A Groelândia, por exemplo, derrete em uma taxa bem mais elevada. (ATUALIZAÇÃO: Veja este link.)

Acredito que nosso conhecimento sobre o planeta não nos permite fazer previsões seguras. Mas acho que o exagero é importante (e aqui vai minha heresia). Penso que é melhor exagerar nestes efeitos do que mostrar toda a insegurança que temos nos dados. Eu sei do compromisso da ciência com a verdade e blá-blá-blá. Mas acho que para o público geral, os costumes não se modificariam se disséssemos que "modelos imprecisos de computador indicam que o efeito do homem é nocivo"... As empresas, com sua mínima "preocupação ambiental", só o fazem por que parte da população está assustada. Gosto da campanha exagerada que está sendo feita. É importante que os cientistas tenham ciência das falhas e inseguranças. Mas ao público e aos governos, dizemos que o mundo vai se acabar!!! (Rsrsrsrs)

sábado, 13 de outubro de 2007

Dia das Crianças na Estação Ciência

Ontem foi o dia das crianças e eu levei a minha pra visitar a Estação Ciência. Por causa da data, a entrada era gratuita e o local estava cheio de crianças. Eu já havia visitado a Estação outras vezes, mas desta vez foi muito melhor: todos os experimentos funcionaram bem e, além disso, há coisas novas como uma sala em que somos submetidos à um terremoto de grau 5 na escala Richter. Brinquei de gerador de Van der Graff e tive medo de me meter com a bobina de Tesla. Saí de lá suado, rouco, cansado e feliz. Como qualquer outra criança que tira o dia para brincar.

E quando vou nesses lugares, eu penso: "Ciência é massa! Como pode não gostarem?" E me lembro da minha prima de 8 anos que me disse, certa vez: "Eu odeio física!". Eu perguntei: "Você já viu física?!". Ela disse que não, mas que já odiava. E eu fico muito triste quando eu vejo isso... Mas ontem, eu vi crianças sendo apresentadas à ciência propriamente.

À certa altura, eu conversava com meus amigos sobre um dos experimentos da Estação (uns feixes de laser indicavam o caminho da luz num olho normal, hipermétrope e míope, depois mostrando como os óculos resolvem o problema). E um garoto.... devia ter seus 10 anos, não sei.... o moleque escutava a conversa atentamente e eu perguntei pra ele se ele entendia aquele experimento. Ele disse que não e eu expliquei. Quando avistou sua mãe, ele disse, feliz: "Mãe! Eu entendi como funciona isso!". E explicou à sua mãe. Mas não ouvi a explicação, saí de perto para dar-lhe confiança de continuar sem ter um "árbitro" julgando suas palavras. Afinal, ele já tinha entendido o principal: É divertido.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Será esse o Universo em que vivemos? (ENFPC - II)

A palestra de abertura do Encontro Nacional de Física de Partículas e Campos foi dada por Glenn Starkman. O título da palestra é uma "provocação" à física de que dispomos hoje, que explica tão pouco do Universo. Segundo Starkman, o modelo que temos para explicar os dados experimentais, o Modelo da Concordância (ou, em inglês, Inflationary Lambda Cold Dark Matter Big Bang Model) é um modelo fenomenológico que indica uma falta de uma física mais fundamental.

Cada um dos termos do Modelo da Concordância, foi introduzido quase que independentemente para explicar diferentes observações estranhas. O "Inflationary" procura resolver, por exemplo, o chamado "problema do horizonte". Na palestra, Starkman explicou este problema solicitando que todos contássemos juntos em voz alta até 5 e batêssemos palma. Depois, pediu que contássemos até cinco mentalmente e de olhos fechados e batêssemos palma ao fim deste tempo. Não foi surpresa a ninguém o fato de que no segunto caso as palmas não foram uníssonas. Em outras palavras, sem uma comunicação entre os diversos indivíduos, o comportamento não foi homegêneo... Com o Universo, acontece que ao olharmos para a esquerda e para a direita vemos regiões que não se comunicam (já que a luz demora um tempão pra ir de uma ponta a outra e é o troço mais rápido que temos). O problema do horizonte é que essas duas regiões são essencialmente iguais, ainda que não se comuniquem! A idéia de inflação diz que o Universo passou por uma fase de rápida expansão levando pontos que estavam próximos e se comunicavam para regiões muito distantes (o que observamos hoje).

O "Lambda" refere-se à letra que usamos para representar uma constante adicionada às equações de Einstein. A "constante cosmológica" resulta numa certa repulsão. Como se fosse uma gravidade às avessas, e isso dá conta (ou pelo menos é uma proposta para dar conta) da energia escura. O problema que isso busca resolver é o seguinte: Quando uma coisa explode, tende a se afastar do centro da explosão, mas perde velocidade com o tempo. No dia-a-dia, a perda de velocidade deve-se, principalmente, ao atrito com o ar. No caso do Universo (que acredita-se ter surgido numa explosão - o big bang), essa desaceleração era esperada, já que matéria atrais matéria e, como todo mundo se puxando, não se vai muito longe... O problema é que na década passada, descobriram que o Universo está aumentando a velocidade com que se expande! Como se tivesse alguma coisa que vencesse a gravidade, que tenta puxar tudo de volta... Essa coisa estranha, é a "energia escura" e a constante cosmológica é apenas uma das alternativas. Há ainda modelos como quintaessência e outro com gás de Chaplygin, dos quais eu nada sei.

O "Cold Dark Matter", ou matéria fria e escura, é um tipo de matéria que é adicionada às nossas teorias para explicar o fato de que os objetos que observamos no céu não dão conta de explicar o que vemos. Aparentemente, há alguma coisa lá que não emite radiação eletromagnética (por isso, "fria" e "escura"). Estamos um tanto quanto perdidos para explicar o que seria isso. Há propostas de que seriam objetos (chamados coletivamente de MACHO's) como anãs-brancas e buracos negros. Há também a proposta de que a matéria escura seja um tipo de partícula que interage muito fracamente, mas que possuem massa (WIMP's). Essa coisa de matéria escura não é somente teoria. Tempos atrás, o telescópio Hubble descobriu o que seria um anel de matéria escura. Embora não se possa ver este tipo de matéria, sua gravidade distorce a luz de objetos "próximos"... Embora esteja, infelizmente, em inglês, o vídeo abaixo pode ser de alguma ajuda para entender a descoberta do Hubble:



Bom, acho que falei tudo o que é viável dizer numa postagem de blog sobre os termos que juntos nomeiam o Modelo da Concordância. O ponto principal aqui, que por tabela segue o que me pareceu ser o ponto principal da palestra do Starkman, é enfatizar que cada um desses nomes é adicionado ao Modelo do Big Bang quase que à força e que há muito o que fazer em física... Não disse acima, mas essas "coisas escuras" constituem cerca de 95% do Universo. Ou seja, tudo o que é descrito pela física é apenas uma ínfima minoria... "Será que o Universo descrito pelos físicos é aquele em que vivemos?", pergunta Starkman.

A palestra terminou dizendo que vivemos numa época frutífera:
A perfect time for observers to observe, experimentalists to experiment and for young minds to invent.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Tempo, tempo, tempo, mano velho!

Eu sei, eu sei... Nem dá vontade de vir aqui, já que as postagens têm sido tão esparsas, né? Quando me falavam desse tal de doutorado, me diziam que era necessário estar disposto a estudar em fins-de-semana de vez em quando. Eu, que nunca tive problemas em estudar em fins-de-semana, pensei que seria uma boa: Estudaria (de vez em quando) nos fins-de-semana e faria alguma outra coisa durante as semanas. Mas eis que esse troço tá me exigindo que eu estude também durante a semana e é por isso que escrevo pouco aqui... A menos que seja bobagem como essa, que me vem à mente a custo zero. Para escrever outra coisa, tem que pesquisar, ler, cuidado nos acentos, nas letras, nos links... resumindo: tempo.

Há muita coisa legal pra dizer aqui. Muita coisa que queria mostrar aos poucos que vêm aqui. Tanta coisa atolada, que quando tiver tempo não as escreverei mais de tão antigas. Mas pelo menos quero terminar de falar de umas coisas que ouvi no ENFPC. Parte da explicação pela demora, além da coisa do tempo, é o fato de que eu pedi ao Glenn Starkman pra ele me enviar os slides que ele usou na palestra dele e ele ainda não o fez... provavelmente não o fará... hehehehe... Vou ter que me basear só nas minhas anotações... Em breve! (Espero!)

Por enquanto, resta-me apenas entretê-los com alguma coisa. Fiz este vídeo tempos atrás. É uma música de Raul Seixas (of course!), baseada num livro de Richard Bach. O livro chama "Ilusões - As Aventuras de Um Messias Indeciso", e a música é "Messias Indeciso". Pus legendas em inglês na esperança de divulgar o trabalho do Raulzito para quem não sabe português. Sem mais delongas, ei-lo:



domingo, 30 de setembro de 2007

ENFPC - Parte I

Entre 24 e 28 de setembro, houve o XXVIII Encontro Nacional de Física de Partículas e Campos, em Águas de Lindóia, SP. O comitê deste ano, liderado pelo professor Silvio P. Sorella, passou por uma saia justa: receberam 60 mil reais a menos do que no ano passado. Disseram que o motivo disso foi que houve atraso na nomeação de um ministro, que resultou no atraso na nomeação para outros cargos e tudo isso finalmente implicou que a FINEP atrasou a abertura de editais para financiamento de eventos e este órgão em nada contribuiu. Como resultado, tivemos cancelamento de uma peça (E Agora, Sr. Feynman? do grupo Arte e Ciência no Palco), que estava no programa inicial, e algumas outras restrições. Mas a comissão conseguiu fazer um bom trabalho e considerei um ótimo evento.

Em outras postagens, falarei um pouco de algumas palestras que lá houve. Nesta aqui, em que já comecei com política, encerro este assunto, falando logo da assembléia que houve no segundo dia (veja a pauta, em PDF). Um dos tópicos que vieram à tona, foi a divulgação do site da Comissão de Partículas e Campos (CPC). O objetivo da CPC é representar a comunidade de físicos de partículas e campos junto à Sociedade Brasileira de Física (SBF). O site contém utilidades como, por exemplo, uma lista de eventos da área.

Há algum tempo, a CPC enviou emails para os pesquisadores brasileiros solicitando que informassem a atual ocupação dos seus ex-orientandos. O objetivo é conhecer a absorção dos físicos de nossa área no mercado de trabalho. Mas somente 6 respostas foram recebidas... não é coincidência o fato de que 6 também é o número de membros da CPC... Talvez nossos pesquisadores estejam muito envolvidos em entender a origem do Universo... Disse Einstein que "política é para o momento, mas uma equação é para a eternidade". Mas (acho que) foi este mesmíssimo cientista quem disse: "Aprenda com o ontem, viva o hoje e tenha esperanças pelo amanhã".

O professor Nathan J. Berkovits, que fez parte da organização da última Escola de Verão Jorge André Swieca, fez um protesto contra a política das agências de fomento, que restringem o uso do dinheiro, e não permitem que seja usado para pagar despesas de alunos interessados em ir à Escola. Nathan argumentou, com razão, que os cursos ali apresentados tem como público-alvo os estudantes. O professor Victor O. Rivelles, membro da CPC, falou que a Comissão procurará meios de resolver o problema com o auxílio financeiro para estudantes.

... Se eu lembrar de algo mais que ocorreu na assembléia, acrescentarei aqui depois.

sábado, 22 de setembro de 2007

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Quem somos nós?

Umas vezes, penso que somos um bolinho químico com tais e tais características que vieram de tais e tais fontes. Mas estas características são mudadas com o tempo, o que me leva a crer que somos nossas memórias. Afinal, entre gêmeos as diferenças parecem vir de fatos ocasionais, as vivências e aprendizados... Assim, nosso "eu" vai crescendo com o tempo, e nossa essência vai, por assim dizer, se formando, sem nunca estar pronta. Pensando assim, me pergunto o que é a reencarnação... Em que possível sentido posso ter sido "eu" o fulaninho trespassado por uma lança de um espartano? O que há de mim lá? A alma? Que é isso? Não lembro de nada, não tenho o mesmo corpo, as mesmas idéias, etc. Mas aí, já é outra história. No começo, queria só me achar, e eis que já me encontro morto, ora essa!

De volta à vida, penso no livre-arbítrio, em que eu posso modificar meu corpo (quase) como bem entender. Troca-se de fígado, de coração e de sexo. Fazem lobotomia, tranquilizam-nos por remédios e dão o próprio sentimento de amor à vida aos depressivos em caixas com tarja preta. Seguindo assim, somos nossas escolhas. Mas... E o que rege tais decisões? As memórias, os aprendizados, ou talvez uma disposição genética.... Aí, estamos noutra parte de nós, e fechamos o ciclo.

Por vezes, isso me parece uma realização quase material do Id, Superego e Ego. O primeiro são os instintos, o segundo, a moral e o terceiro, um coitado aturdido, sem saber a quem agradar. O primeiro é o corpo e os instintos que nossos ancestrais escreveram nos genes. O segundo, o que aprendemos com mamãe e papai, e as lembranças de vida. O terceiro somos nós, angustiados, com uma decisão pra tomar, buscando satisfazer o corpo, sem desonrar nossa história.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Boicote à Dell

O físico nuclear brasileiro Paulo Gomes, da Universidade Federal Fluminense comprou dois computadores da Dell para seu laboratório. Ao se identificar como físico, a empresa exigiu que fosse assinado um documento em que o físico se comprometeria a não usá-los em colaboração com cientistas do "Eixo do Mal":
"Não transferiremos, exportaremos, ou reexportaremos, direta ou indiretamente, quaisquer produtos adquiridos da Dell para: Cuba, Irã, Coréia do Norte, Sudão, e/ou Síria, ou a qualquer estrangeiro com dupla nacionalidade, ou a qualquer outro país sujeito a restrições sob leis e regulamentos aplicáveis onde não estejamos situados, sob o controle de um indivíduo natural ou residente deste país"
O cientista brasileiro, que tem trabalhos em colaboração com um físico cubano, recusou-se a assinar e devolveu os computadores à Dell, que deve devolver o dinheiro ao CNPq. Comunicou o ocorrido à Sociedade Brasileira de Física (leia boletim aqui), ao Ministério da Ciência e Tecnologia e a outros físicos, solicitando que seja feito um boicote à Dell Inc, empresa norte-americana e segunda maior fabricante de computadores do mundo.

Leia mais sobre o assunto nos sites [1, 2, 3], ou nos blogs [4, 5].

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Trava-língua quântico

Saiu hoje um trabalho cujo título é um verdadeiro trava-língua quântico:

Would Bohr be born if Bohm were born before Born? (*)

Postei isso aqui só porque achei o título do trabalho engraçado. Mas, já que começei, deixem-me dizer mais ou menos do que se trata. Os três homens são grandes personalidades na história da mecânica quântica.

Max Born propôs, em meados da década de 1920, que a o quadrado da função que aparecia na equação de Schrödinger fornece a probabilidade de a partícula estar em um determinado estado. Baseado nesta idéia, Niels Bohr fundou a chamada "interpretação de Copenhague da mecânica quântica", segundo a qual a Natureza não nos permite um conhecimento completo de um sistema físico, mas apenas em termos probabilísticos.

Já David Bohm, tomou um rumo diferente. Sua interpretação era de que a mecânica quântica era uma teoria incompleta e que o aspecto probabilístico era devido à "variáveis ocultas". Formulou então uma interpretação determinística por volta de 1950.

Segundo H. Nikolic, autor daquele título (o trabalho é o de menos... pra mim, ele é o "autor do título"!), a interpretação de Copenhague, que é hoje a mais aceita pela comunidade de físicos, teria menos adeptos se a interpretação determinística de Bohm tivesse surgido antes daquela probabilística de Born.

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(*) Em português, perdemos parte da graça, mas a tradução literal do título do trabalho é "Teria Bohr nascido se Bohm tivesse nascido antes de Born?".

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Telecinética é possível?

Mover um objeto usando apenas o pensamento para fazê-lo é algo denominado telecinese e é um prato cheio para ficções científicas. Muito embora não do modo como a Jean Grey ou o professor Xavier fazem em X-men, talvez isso venha a ser parte do nosso cotidiano em algumas décadas.

Possível, já é: Fizeram uma cadeira de rodas que movimenta-se através de comandos mentais:




Vi esta notícia no New Scientist e o projeto The Audeo pretende criar aparelhos que produzem sons obedecendo a comandos mentais. Pessoas que não falam há anos por problemas físicos, poderiam voltar a falar. (Se entiver interessado em maiores detalhes - muito mais detalhes, na verdade - a equipe do The Rehabilitation Institute of Chicago oferece informações, demonstrações e notícias para quem se cadastrar aqui).

Atualmente, por exemplo, o físico inglês Stephen Hawking movimenta apenas um dedo e o usa para movimentar sua cadeira de rodas e buscar palavras num monitor acoplado à sua cadeira de rodas e depois dar o comando para que o sintetizador de voz as pronuncie... Isso faz com que ele demore muito para completar uma sentença. (Mas Stephen diz que o seu único problema é o sotaque americano!) Se perdesse o movimento deste dedo, somente coisas como o que propõe o The Audeo permitiria que Stephen falasse.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

E se alguém lesse sua mente?

...Sua casa não tem paredes
Nem seu quarto de dormir
Sua coberta não te cobre
Feche bem os olhos
E tente dormir...
(Janela Indiscreta - Lulu Santos)

Conseguiram ler a mente de um rato! Antes de falar disso,deixe-me dizer uma outra coisa sobre o autor do trabalho: Joe Z. Tsien, atualmente na Boston University, foi manchete (inclusive na revista Time) nos idos 1999 quando descobriu que a memória está relacionada ao material genético. Usando ratos geneticamente modificados, ele obteve animais com aparente capacidade de memorização superior à normal ao alterar moléculas como os "receptores NMDA" [1]. (Para testar a capacidade de memorização, Tsien deu choque nos bichos e, dias depois, preparou o mesmo ambiente. Aqueles geneticamente modificados demostravam mais medo. Além disso, apresentaram aos animais peças de montar. Tempos depois, apresentaram a mesma peça e outras novas. O camundongos "mais espertos" dedicaram mais tempo às peças novas, enquanto os outros deram igual atenção a todas as peças, sem distinção entre novas e as "já conhecidas").

Bom, uma vez apresentado o homem, vamos ao que ele fez no ano passado ["Organizing principles of real-time memory encoding: neural clique assemblies and universal neural codes" - PDF]. Ele (juntamente com Remus Osan) usou métodos matemáticos que não vi explicado (e nem entenderia se visse) para reconhecer padrões na atividade neuronal e representar isso num gráfico (chamam-no "MDA - análise de discriminantes múltiplos".... se vc quiser pesquisar...). Viu que haviam áreas distintas: Uma representava o estado de repouso, outra quando o animal era submetido à um terremoto (botavam o podre bicho numa caixa e sacudiam: veja vídeo), outra para queda e outra para um ataque de uma coruja (em laboratório, simulavam isso através de um jato repentino de ar nas costas do rato).

O legal é que esses gráficos podem ser interpretados e, vendo quais bolhas estão ativas, dá pra saber o que ele está passando naquele momento. Ou seja, se a atividade passa da bolha de repouso para aquela de terremoto, vc já sabe que o rato está na caixa vibrante (99% de acerto, dizem eles!). Mais do que isso. Após o evento, a atividade vai e volta entre os estados "de repouso" e "de terremoto", só que com menos intensidade. Isso é interpretado como sendo o rato lembrando-se do que houve.

E outra: esses impulsos, ou seja, a passagem de uma zona pra outra podem ser codificadas em binários. Por exemplo, estabelecendo "SUSTOterremotoQUEDAataque", teríamos que 1100 é um rato que se assustou com um terremoto em algum momento, 1010 é uma queda repentina, etc. Aí, vc já sabe: Pôs em código binário, fez tudo! Daí a fazer download dos pensamentos ou usar isso para comandar máquinas é uma questão de tempo. Aliás, a equipe de Tsien fez uma caixinha com uma porta que abria quando o comando "1100" era dado. Aí, os caras sacudiam a caixa e a porta se abria se houvesse um rato lá dentro!

Com isso, desenvolveram o Código da Memória, baseado no que eles chamaram de "cliques neurais", cuja idéia principal é que a memória é guardada de forma hierárquica. Ou seja, no código binário descrito na parágrafo anterior, os eventos "terremoto", "queda" e "ataque" têm em comum o número 1 no início, pois são todos eventos assustadores. Os números seguintes, especificam mais o evento. Há até mesmo especificação além disso, havendo um código diferente se a caixa sacudida for azul, ou preta, por exemplo. Mas estas especificações estão agrupadas em "terremoto", de modo que há uma certa hierarquia e associação no modo como guardamos memórias.

Isso pode ser usado para melhorar os detectores de mentira, para saber sobre a atividade mental de alguém em estado vegetativo e desenvolver aparelhos que obedecem ao pensamento... Este último já foi até feito!! Mas vou falar disso noutra postagem.

(Leia mais sobre a "Mecânica da memória" aqui.)

terça-feira, 4 de setembro de 2007

A eterna busca, por C. F. Gauss

Disse Carl Friedrich Gauss:
A busca pela verdade te dá o mesmo prazer do que antes? Certamente não é o saber, mas o aprender, não é o possuir, mas a aquisição, não é o estar lá, mas o ir para lá, que proporciona a maior satisfação. Se algo se torna claro pra mim, ou se eu esgotei um assunto, eu o deixo para entrar novamente na escuridão. Assim é este homem insaciável tão estranho; quando ele completa uma estrutura, não foi com o intuito de a habitar confortavelmente, mas sim para costruir outra.
Por que a gente é assim??

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O Teorema Zero da história da física

Nem sabia que havia tal coisa, mas hoje um artigo apareceu no arXiv dando exemplos que corroboram esta "Lei Zero da História da Física". (Chamam-na "teorema" (Nullte Theorem), mas acho que é um nome inapropriado para uma ciência não-exata.)

O tal teorema, proposto por Ernst Peter Fischer em Julho de 2006 diz:
Uma descoberta (regra, regularidade, ou idéia) que leva o nome de alguém não se originou com aquela pessoa.
No artigo do arXiv, analisam, entre outros, o caso do calibre de Lorenz (i.e., escolher um potencial Aa que tenha um divergente nulo: Aª,a = 0), em que adicionam um "t" ao nome, atribuindo erroneamente essa condição ao holandês Hendrik Antoon Lorentz quando a primazia deveria ser atribuída à Ludvig Valentin Lorenz. Outro exemplo que o artigo dá é a função delta de Dirac (i.e, uma função que assume um valor infinito num ponto e zero em todos os outros), que já aparecia num texto anterior de Oliver Heaviside.

Comentam ainda sobre o "Efeito Mateus", proposto por Robert K. Merton. O nome vem da passagem bíblica (Evangelho Segundo São Mateus): "A todo aquele que acredita mais fé lhe será dada em abundância; e daquele que não crê lhe será tirado". Em outras palavras, mais à quem tem muito, menos à quem tem pouco. Em ciência, este efeito occore, por exemplo, quando o líder de um grupo de pesquisa é creditado pelas descobertas dos estudantes vinculados ao grupo.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Trilha para o Nada

Certos pensamentos são recorrentes. De tanto o reproduzirmos na imaginação, indo e vindo, sentimos a mata cerebral afundada num trecho, uma trilha. Se queres, exemplifico. Se não queres, estou contigo: deixas quieto o que está quieto. Pensar faz mal pra gente. Tu paras aqui, portanto. Mas eu prometi ao outro um exemplo, e não mais posso negá-lo. Ei-lo: O sentido das coisas. É com freqüência que o assunto de uma conversa geral corre para a física, para a matemática ou teoria de cordas, talvez por ser eu um físico, no departamento de física-matemática, estudando as cordas... "Para que serve isso na vida de uma pessoa?", perguntam. E já fico triste direto, porque o pensamento segue o rasgão na mata mental. Segue a trilha até o Nada.

A trilha começa com a idéia de que tem razão quem pergunta. É abstrato, não serve. Mas.... não seria abstrata a TV? E a cerveja? Dá, sim, pra viver sem isso. E gostamos de amizades e amores. Mas, tomados um a um, são todos dispensáveis. As faltas provocam choro, mas não a morte. Pensando bem a fundo, não há realmente necessidade de nada além de comida para se viver. E mais: comer para que? Para morrer ao final? E sobra o que? Aqui é já o fim da trilha, onde encontro o Nada e minha tristeza.... E se isso te pareceu bobo a primeira vista, não leia de novo, não tente ver, não deixe que te pegue. Eu juro que não faz bem.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Cientistas chineses sem medo de tentar

A China estuda a possibilidade de fazer uma emenda na lei dizendo:
"Scientists and technicians who have initiated research with a high risk of failure will still have their expenses covered if they can provide evidence that they have tried their best when they failed to achieve their goals."
Em bom português: "Cientistas que reportem um erro não serão privados de financiamento (se mostrarem evidências que deram tudo de si)".

O curioso disso é pensar que essa emenda é necessária. Os cientistas chineses tinham tanto medo de publicar erros e fracassos em seus projetos que somente neste mês, foram registrados 13 casos de fraudes!! Além disso, um número grande de pesquisadores confessaram plagiar e até mesmo subornar para terem seus trabalhos publicados!!!

É claro que isso é um absurdo! Quem se arriscaria a fazer uma proposta nova e arriscar perder financiamento para novos projetos? Para quem não sabe, Thomas Edison testou mais de 3000 materiais diferentes até conseguir a lâmpada elétrica.

Por falar nisso, um elogio ao governo Lula que, mesmo após sucessivas falhas na tentativa de termos nosso próprio foguete nos ares, manteve o investimento no projeto... E nós tentamos, tentamos... até conseguir!

Pra terminar, Raulzito: "Levante sua mão sedenta e recomece a andar... Se é de batalhas que se vive a vida, Tente outra vez!"

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Profissão: Futurólogo

Kssianu Xaves sempre quis trabalhar no ramo empresarial e havia direcionado seus estudos para a futurologia, que seu pai considerava uma área promissora.

Tinha 19 anos no ano de 2178 e estava na fila para fazer seu primeiro exame de Futurologia Aplicada. Irratava-se com a demora e sabia que escolas mais avançadas de seu país tinham um leitor ótico por aluno. Além disso, em alguns lugares do mundo, a própria impressão era desnecessária, já que a escrita manual tornara-se uma habilidade desnecessária e fazer os alunos decorarem os caracteres que representam cada fonema era um absurdo incompreensível para ele. No mais, conhecia grandes homens que tiveram sucesso profissional sem saber escrever o próprio nome sem o auxílio do decodificador de voz.

Chegando sua vez, Kssianu fixou o olhar no ponto vermelho e aguardou sua prova ser impressa. Como havia imaginado, o computador escolheu uma questão sobre decodificação de personalidade por mapeamento genético, já que havia sido 20% menos participativo nas aulas sobre este tópico.

Debruçando-se sobre a prova, leu a primeira questão:
Na figura abaixo, encontra-se um trecho do mapeamento genético de um estagiário. Com base nestes dados, responda: (a) O estagiário possui inclinação para doença grave antes dos 70 anos? Se sim, qual? (b) Esboce a reação mais provável do estagiário diante de uma crítica. (c) Você o contrataria para um cargo permanente? Justifique sua resposta.
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OBS: Este é um texto ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é... Bom, é assustadora!