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segunda-feira, 17 de junho de 2013
A maestria feminina na arte de retocar
O rapaz pedia uma segunda chance, aguardava resposta, cansou e ia-se, mas no mesmo instante a moça disse:
- Não vá!
Ele parou imediatamente e, sem saber o que fazer com o corpo, a questionou com os olhos. A moça subitamente compreendeu que não podia ser e mudou de ideia, mas, para não mostrar-se contraditória e dar razão definitiva pra ele em um dos tópicos em que mais discutiam, fez apenas uma leve correção na expressão para indicar-lhe enfado por ter que repetir e disse:
- Não, vá!
segunda-feira, 16 de abril de 2012
A generosidade do chefe
O chefe, que nas horas vagas era poeta, decidiu, após 15 anos de escreve-e-reescreve, colocar enfim um ponto final no seu Magnum Opus. Bancou de seu próprio bolso a publicação e distribuiu algumas cópias aos amigos mais íntimos. Num arroubo de generosidade, chamou o secretário e forneceu quatro cópias do Versos Maturados, dizendo:
- Olha, distribui isso pro pessoal... Não consegui mais cópias, então decidam entre vocês um sorteio justo... Ou como brinde por algum feito, se preferirem... O que você acha?
- Ok. Pode deixar. Vou ver com o pessoal.
- Ah! E fica com uma cópia pra você. Sorteia só três. Só não comenta... alguém pode... Né?
- Ah, tá. Obrigado... Sim, sim, claro. Pode deixar.
- Outra coisa. É melhor fazer isso num dia em que eu não esteja. Você sabe... eu fico sem graça por não poder dar uma cópia pra cada... É que são muitos... Você sabe...
- Sei, sim. Pode deixar.
Duas semanas depois, a intuição do chefe suspeitou de algo estranho no ar; resolveu perguntar ao secretário se houve desentendimentos na distribiução dos livros. Pego de surpresa, o outro não conseguiu inventar mentira e disse de uma vez que decidiram por uma corrida. Que ganhariam os livros os três últimos. Entretanto, conseguiu parar a língua aí, sem acrescentar a desnecessária informação de que os três primeiros foram convidados a representar a empresa no atletismo, mas nos treinos jamais conseguiram repetir as façanhas daquele dia.
O chefe, sensível como um poeta, ficou mais pensativo do que irritado e não ousou perguntar ao secretário o que ele fizera com sua cópia. E o secretário, coitado, olhava pro chão e esperava, sem coragem de dizer que gostou dos versos.
domingo, 13 de novembro de 2011
Miniantologia de Minicontos & Miniensaios
1-) A ARTE DA PRUDÊNCIA: O incauto apressou-se em parabenizar quando ouviu "casei no religioso e no civil", mas na verdade o outro tinha dito "casei no religioso e num serviu".
2-) EXPLICANDO A IRA DE DEUS: Na verdade, havia 3 pessoas no Paraíso. À terceira, irmã de Adão, o Senhor deu o nome Maçã.
3-) ELEIÇÕES: Estava decidido a votar na esquerda, mas ficou indeciso depois que perguntaram se era na esquerda de quem vem ou de quem vai.
4-) CULTURA HERMANA: Lá na Argentina, sexo é considerado uma situação muito embaraçosa... "Sólo con esto se puede embarazar", dizem os mais conservadores.
5-) DOENTE NA NOVA ERA: Infelizmente, a cura quântica não pôde salvá-lo. O paciente acabou por sucumbir à doença gravitacional.
6-) COISAS DE MÃE: Quando digo à minha mãe que não tenho novidades, ela diz: "graças a Deus!".
7-) PERSONALIDADES MÚLTIPLAS: O esperto mata dois coelhos com uma cajadada, o precavido mata um coelho com duas cajadadas e o lunático mata um cajado com duas coelhadas.
... um destes acima, e outros de outros foram publicados aqui pela Geração Editorial.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Torrões de açúcar
- Quantos torrões de açúcar o senhor põe no café?
- Depende... Quando estou em casa, ponho um. Quando na casa dos outros, ponho três..... Mas eu gosto mesmo é de pôr dois.
- Depende... Quando estou em casa, ponho um. Quando na casa dos outros, ponho três..... Mas eu gosto mesmo é de pôr dois.
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Um Autor em Busca de um Personagem.
[ATUALIZAÇÃO: uma versão modificada deste texto foi publicada na edição #6 da Revista Originais Reprovados, página 15. Para ir direto ao PDF, clique aqui.]
Eu quero escrever, mas não tenho história alguma pra contar. Não conheço ninguém suficientemente diferente dos demais a ponto de ser um personagem interessante. Aliás, isso de personagem interessante é a causa dos acontecimentos novelescos. Muita gente fala que é inverossímil que o personagem principal de uma trama qualquer escape ileso de tantos incidentes. Mas não vejo nada de perturbador nisso... é uma espécie de Seleção Natural. Se o sujeito morre logo e não escapa de nada, é igual. Sendo igual, por que seria "principal"? Para ser personagem principal, tem que haver algo mais, algo de interessante e diferente, o que me lembra que eu não tenho personagem e, portanto, não tenho história... Mas há muita gente no mundo e não é difícil escolher alguém. Nem peço seis! Um só, já seria de bom tamanho!
Pensar em muita gente me faz pensar nos malditos ônibus lotados que tomamos por necessidade. Por "necessidade", quero dizer aqueles que tomamos para ir ou voltar ao trabalho, por exemplo. Na ida, uma pessoa entra no trabalho e, com seu uniforme e comportamento-padrão, esforça-se por parecer muito igual. Não pode ser interessante um indivíduo que dá tudo de si para parecer normal... Na volta, há esperanças de conhecermos alguém. E foi por este motivo que escolhi um ponto de ônibus para encontrar nosso personagem, a quem me refiro no masculino aqui por que é assim que funciona nosso idioma, mas que, para contrariar, tomarei uma mulher por personagem. Aquela serve.
Ela já sobe. Levava o dinheiro já contado na mão. Faz bem. É detestável quando alguém perde tempo buscando moedas na bolsa, enquanto os outros espremem-se para que a porta do ônibus fosse fechada com eles dentro do veículo. Mantinha o olhar na frente, até mesmo quando entregava o dinheiro ao cobrador. Acho que busca por um lugar vago, o que não era de todo impossível, já que alguém dos que estavam sentados bem poderia levantar-se neste exato momento. Embora possível, não é razoável supor que o lugar ficasse vago até que ela cruzasse a roleta e se dirigisse até lá. Mas olhava assim mesmo... Na verdade, talvez nunca tivesse parado para pensar que talvez não fosse razoável aquilo que fazia instintivamente. No mais, parece que não tinha um lugar melhor para olhar.
Parou de avançar quando chegou suficientemente perto da porta dianteira, por onde desceria. Fixou o olhar na janela. Não é possível a este narrador saber se olhava para sua própria imagem, se via através do vidro, ou se via o que não olhava. Nem se podia saber se estava feliz ou trite. É uma pessoa sem expressão... Ou melhor, estava sem expressão naquele momento e é uma lição que aprendemos rápido que as expressões são fortemente modificadas na presença de conhecidos. Acho que não conhecia ninguém ali naquele ônibus... Provavelmente, não... Certamente, arrisco dizer...
E, enquanto eu me perco arriscando coisas que não são de fato acessíveis à mim, nossa personagem sussura um "Dá licença", que saiu tão inaudível quanto o seu "Obrigado" ao motorista. Ambos aparentemente imperceptíveis à qualquer criatura daquele ônibus, como saem algumas das nossas gentilezas verbais...
Estamos numa rua escura, com pouco movimento de carros. A mulher segue em direção ao estabelecimento mais iluminado que se vê daqui. Parece uma padaria ou algum pequeno...
...Não! Enganei-me. Virou à esquerda. Ali, era tudo de mesma luminosidade. Só casas. Entrou numa qualquer... presumivelmente, a dela. Estava escura, mas a adaptação que a má luminosidade da rua proporcionou aos olhos me permitiu ter uma idéia da distribuição de móveis e uma noção geral da casa. Não era grande, nem pequena. Isso se ela morasse sozinha. Talvez dividisse com alguém (o que a faria pequena), talvez morasse com os pais (o que a faria menor)... não sei. Sem acender luz alguma, e com passos no mesmo ritmo que caminhou do ponto de ônibus até aqui, dirigiu-se à um cômodo, de onde saiu antes que eu a acompanhasse e foi ao banheiro, que era agora o único cômodo iluminado da casa. Hesitei... Talvez devesse esperá-la sair... Dane-se: Segui. Tomou banho sem pressa, nem prazer aparente. A desgraçada era completamente desinteressante e sem surpresas! Ensaboava-se sem malícia, nem cuidado (nem chegou a lavar o pé!). Ao fim daquele espetáculo sem graça, o primeiro indício de alguma emoção: ao enxugar o rosto, desceu com a toalha até o peito e ali a segurou por um momento com as duas mão. Imóvel, fixava o olhar profundamente na direção de um azulejo que não tinha nada de especial. Enfim, um torcido na boca que pareceria um sorriso a quem tivesse disposto a ver um. Ah! Se ao menos tivesse outras pessoas na casa, ou se a maldita infeliz conversasse sozinha... Saindo dali, foi deitar. Dormiu rápido e quase não se mexeu durante a noite... Ninguém chegou na casa. Somente a manhã chegou no mesmo instante em que eu saí. Não foi de todo perdido... Mesmo não sendo interessante minha escolha, este texto morre junto como tempo que este narrador queria matar.
Eu quero escrever, mas não tenho história alguma pra contar. Não conheço ninguém suficientemente diferente dos demais a ponto de ser um personagem interessante. Aliás, isso de personagem interessante é a causa dos acontecimentos novelescos. Muita gente fala que é inverossímil que o personagem principal de uma trama qualquer escape ileso de tantos incidentes. Mas não vejo nada de perturbador nisso... é uma espécie de Seleção Natural. Se o sujeito morre logo e não escapa de nada, é igual. Sendo igual, por que seria "principal"? Para ser personagem principal, tem que haver algo mais, algo de interessante e diferente, o que me lembra que eu não tenho personagem e, portanto, não tenho história... Mas há muita gente no mundo e não é difícil escolher alguém. Nem peço seis! Um só, já seria de bom tamanho!
Pensar em muita gente me faz pensar nos malditos ônibus lotados que tomamos por necessidade. Por "necessidade", quero dizer aqueles que tomamos para ir ou voltar ao trabalho, por exemplo. Na ida, uma pessoa entra no trabalho e, com seu uniforme e comportamento-padrão, esforça-se por parecer muito igual. Não pode ser interessante um indivíduo que dá tudo de si para parecer normal... Na volta, há esperanças de conhecermos alguém. E foi por este motivo que escolhi um ponto de ônibus para encontrar nosso personagem, a quem me refiro no masculino aqui por que é assim que funciona nosso idioma, mas que, para contrariar, tomarei uma mulher por personagem. Aquela serve.
Ela já sobe. Levava o dinheiro já contado na mão. Faz bem. É detestável quando alguém perde tempo buscando moedas na bolsa, enquanto os outros espremem-se para que a porta do ônibus fosse fechada com eles dentro do veículo. Mantinha o olhar na frente, até mesmo quando entregava o dinheiro ao cobrador. Acho que busca por um lugar vago, o que não era de todo impossível, já que alguém dos que estavam sentados bem poderia levantar-se neste exato momento. Embora possível, não é razoável supor que o lugar ficasse vago até que ela cruzasse a roleta e se dirigisse até lá. Mas olhava assim mesmo... Na verdade, talvez nunca tivesse parado para pensar que talvez não fosse razoável aquilo que fazia instintivamente. No mais, parece que não tinha um lugar melhor para olhar.
Parou de avançar quando chegou suficientemente perto da porta dianteira, por onde desceria. Fixou o olhar na janela. Não é possível a este narrador saber se olhava para sua própria imagem, se via através do vidro, ou se via o que não olhava. Nem se podia saber se estava feliz ou trite. É uma pessoa sem expressão... Ou melhor, estava sem expressão naquele momento e é uma lição que aprendemos rápido que as expressões são fortemente modificadas na presença de conhecidos. Acho que não conhecia ninguém ali naquele ônibus... Provavelmente, não... Certamente, arrisco dizer...
E, enquanto eu me perco arriscando coisas que não são de fato acessíveis à mim, nossa personagem sussura um "Dá licença", que saiu tão inaudível quanto o seu "Obrigado" ao motorista. Ambos aparentemente imperceptíveis à qualquer criatura daquele ônibus, como saem algumas das nossas gentilezas verbais...
Estamos numa rua escura, com pouco movimento de carros. A mulher segue em direção ao estabelecimento mais iluminado que se vê daqui. Parece uma padaria ou algum pequeno...
...Não! Enganei-me. Virou à esquerda. Ali, era tudo de mesma luminosidade. Só casas. Entrou numa qualquer... presumivelmente, a dela. Estava escura, mas a adaptação que a má luminosidade da rua proporcionou aos olhos me permitiu ter uma idéia da distribuição de móveis e uma noção geral da casa. Não era grande, nem pequena. Isso se ela morasse sozinha. Talvez dividisse com alguém (o que a faria pequena), talvez morasse com os pais (o que a faria menor)... não sei. Sem acender luz alguma, e com passos no mesmo ritmo que caminhou do ponto de ônibus até aqui, dirigiu-se à um cômodo, de onde saiu antes que eu a acompanhasse e foi ao banheiro, que era agora o único cômodo iluminado da casa. Hesitei... Talvez devesse esperá-la sair... Dane-se: Segui. Tomou banho sem pressa, nem prazer aparente. A desgraçada era completamente desinteressante e sem surpresas! Ensaboava-se sem malícia, nem cuidado (nem chegou a lavar o pé!). Ao fim daquele espetáculo sem graça, o primeiro indício de alguma emoção: ao enxugar o rosto, desceu com a toalha até o peito e ali a segurou por um momento com as duas mão. Imóvel, fixava o olhar profundamente na direção de um azulejo que não tinha nada de especial. Enfim, um torcido na boca que pareceria um sorriso a quem tivesse disposto a ver um. Ah! Se ao menos tivesse outras pessoas na casa, ou se a maldita infeliz conversasse sozinha... Saindo dali, foi deitar. Dormiu rápido e quase não se mexeu durante a noite... Ninguém chegou na casa. Somente a manhã chegou no mesmo instante em que eu saí. Não foi de todo perdido... Mesmo não sendo interessante minha escolha, este texto morre junto como tempo que este narrador queria matar.
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Profissão: Futurólogo
Kssianu Xaves sempre quis trabalhar no ramo empresarial e havia direcionado seus estudos para a futurologia, que seu pai considerava uma área promissora.
Tinha 19 anos no ano de 2178 e estava na fila para fazer seu primeiro exame de Futurologia Aplicada. Irratava-se com a demora e sabia que escolas mais avançadas de seu país tinham um leitor ótico por aluno. Além disso, em alguns lugares do mundo, a própria impressão era desnecessária, já que a escrita manual tornara-se uma habilidade desnecessária e fazer os alunos decorarem os caracteres que representam cada fonema era um absurdo incompreensível para ele. No mais, conhecia grandes homens que tiveram sucesso profissional sem saber escrever o próprio nome sem o auxílio do decodificador de voz.
Chegando sua vez, Kssianu fixou o olhar no ponto vermelho e aguardou sua prova ser impressa. Como havia imaginado, o computador escolheu uma questão sobre decodificação de personalidade por mapeamento genético, já que havia sido 20% menos participativo nas aulas sobre este tópico.
Debruçando-se sobre a prova, leu a primeira questão:
OBS: Este é um texto ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é... Bom, é assustadora!
Tinha 19 anos no ano de 2178 e estava na fila para fazer seu primeiro exame de Futurologia Aplicada. Irratava-se com a demora e sabia que escolas mais avançadas de seu país tinham um leitor ótico por aluno. Além disso, em alguns lugares do mundo, a própria impressão era desnecessária, já que a escrita manual tornara-se uma habilidade desnecessária e fazer os alunos decorarem os caracteres que representam cada fonema era um absurdo incompreensível para ele. No mais, conhecia grandes homens que tiveram sucesso profissional sem saber escrever o próprio nome sem o auxílio do decodificador de voz.
Chegando sua vez, Kssianu fixou o olhar no ponto vermelho e aguardou sua prova ser impressa. Como havia imaginado, o computador escolheu uma questão sobre decodificação de personalidade por mapeamento genético, já que havia sido 20% menos participativo nas aulas sobre este tópico.
Debruçando-se sobre a prova, leu a primeira questão:
Na figura abaixo, encontra-se um trecho do mapeamento genético de um estagiário. Com base nestes dados, responda: (a) O estagiário possui inclinação para doença grave antes dos 70 anos? Se sim, qual? (b) Esboce a reação mais provável do estagiário diante de uma crítica. (c) Você o contrataria para um cargo permanente? Justifique sua resposta.______________________
OBS: Este é um texto ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é... Bom, é assustadora!
terça-feira, 29 de maio de 2007
O Auto da Montanha
Há tempos sentia imensa alegria
Ao admirar aquela bela montanha.
Certa manhã, acordou à revelia
Decidido a tentar tal façanha.
Pois desejava o topo conquistar,
E chegar àquele longínquo cume,
Para sentir na face a brisa soprar
E respirar o seu leve perfume.
Assim, seguiu decidido à baia,
E montou em seu cavalo manco
E ali permaneceu, de tocaia,
Esperando por algum solavanco.
Mas logo viu que já na vertente
Havia cavaleiros e até romaria
E deduziu mais que corretamente
Que por ali jamais conseguiria.
Foi então que buscou outra trilha
Mais íngrime, mais extensa escalada.
Tomou fôlego e apertou bem a cilha,
E rumou enfim à crista desejada.
Por ser mais longa essa sua trilha,
Muito mais do cavaleiro ela exigia
Inclusive um estado de total vigília
E cuidado com as pedras que havia.
Mas aconteceu que, já cansadíssimo,
Pegou no sono no momento crucial,
No instante em que chegou ao cimo,
De onde prosseguiu seu manco animal.
E, estranhando a descida, acordou,
Vendo afastar de si a bela crista,
E as imagens com que há pouco sonhou
Pensando consigo, muito pessimista:
"Eis que não volta o tempo maldito!
Tampouco pára esse maldito cavalo!"
E sentiu pesar no seu peito aflito
A beleza da crista ainda a encantá-lo.
Ao admirar aquela bela montanha.
Certa manhã, acordou à revelia
Decidido a tentar tal façanha.
Pois desejava o topo conquistar,
E chegar àquele longínquo cume,
Para sentir na face a brisa soprar
E respirar o seu leve perfume.
Assim, seguiu decidido à baia,
E montou em seu cavalo manco
E ali permaneceu, de tocaia,
Esperando por algum solavanco.
Mas logo viu que já na vertente
Havia cavaleiros e até romaria
E deduziu mais que corretamente
Que por ali jamais conseguiria.
Foi então que buscou outra trilha
Mais íngrime, mais extensa escalada.
Tomou fôlego e apertou bem a cilha,
E rumou enfim à crista desejada.
Por ser mais longa essa sua trilha,
Muito mais do cavaleiro ela exigia
Inclusive um estado de total vigília
E cuidado com as pedras que havia.
Mas aconteceu que, já cansadíssimo,
Pegou no sono no momento crucial,
No instante em que chegou ao cimo,
De onde prosseguiu seu manco animal.
E, estranhando a descida, acordou,
Vendo afastar de si a bela crista,
E as imagens com que há pouco sonhou
Pensando consigo, muito pessimista:
"Eis que não volta o tempo maldito!
Tampouco pára esse maldito cavalo!"
E sentiu pesar no seu peito aflito
A beleza da crista ainda a encantá-lo.
sábado, 14 de abril de 2007
Profissão: Filósofo.
Certo dia, um vizinho o viu na varanda, espichado numa rede, olhando para o vazio.
- Bom dia, seu Patrício! Descansando, hein?
- Na verdade, estou trabalhando! - respondeu o outro.
Rindo da pilhéria, o vizinho seguiu seu caminho. Ao fim da tarde, passando novamente em frente à casa do filósofo, encontrou-o de calção, sujo de terra e encharcado de suor, às voltas com seu jardim.
- Opa, seu Patrício! Muito trabalho, aí?
- Agora, estou descansando um pouco....
Sorrindo, o vizinho comentou para si mesmo:
- Não tem jeito, esse seu Patrício! Sempre de brincadeira! Uma figura...
---------------
P.S. Sei lá quem é o autor... Acho que é do tal Anônimo, um prolífico escritor francês, alemão, brasileiro, húngaro, mexicano, chinês, canadense, egípcio, colombiano, australiano...
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