Mostrando postagens com marcador Ciência Básica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ciência Básica. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cientistas não conhecem Shakespeare; Humanistas não conhecem Termodinâmica

Gostaria de publicar aqui trechos de um artigo escrito por João Moreira Salles (documentarista e professor da PUC-Rio). O artigo publicado na "Folha de SP", em 07 de junho, acho que no caderno "Ilustríssima", e pode ser lido online na íntegra na edição de 8 de junho do Jornal da Ciência, sob o título "Um documentarista se dirige a cientistas", ou no site da Academia Brasileira de Ciências, onde Salles discursou. O texto é principalmente uma crítica à sociedade brasileira que supervaloriza as artes e a desvalorização das ciências exatas. Para a maioria, são considerados 'intelectuais' os jornalistas, cineastas e sociólogos, enquanto as ciências exatas amargam uma posição sem status e até mesmo marginal.

Abaixo, o que considerei mais interessante do artigo aparece editado e grifado por mim. Por ser um texto muito bom, não pude cortar muito, mas consegui, a grandes custos, reduzir um pouco para abreviá-lo.

----------


Sou ligado ao cinema documental e, mais recentemente, ao jornalismo, atividades que, se não são propriamente artísticas, decerto existem na fronteira da criação. Jornalismo não é literatura nem documentário é cinema de ficção. Nosso capital simbólico é muito menor e nosso horizonte de possibilidades é limitado pelos constrangimentos do mundo concreto.


Não podemos voar tanto, e essa é a primeira razão pela qual, com notáveis exceções, o que produzimos é efêmero, sem grande chance de permanência. Não obstante, é fato que minhas afinidades pessoais e profissionais estão muito mais próximas de um livro ou de um filme do que de uma equação diferencial.


Em 1959, o físico e escritor inglês C.P. Snow deu uma palestra sobre a relação entre as ciências e as humanidades. Snow observou que a vida intelectual do Ocidente havia se partido ao meio.


De um lado, o mundo dos cientistas; do outro, a comunidade dos homens de letras, representada por indivíduos comumente chamados de intelectuais, (um termo sequestrado pelas humanidades e pelas ciências sociais, segundo Snow).


Aos artistas, interessaria refletir sobre a precariedade da condição humana e sobre o drama do indivíduo no mundo. O interesse dos cientistas, por sua vez, seria decifrar os segredos do mundo natural e, se possível, fazer as coisas funcionarem. Como frequentemente obtinham sucesso, não viam nenhum despropósito na noção de progresso.


Na qualidade de cientista e homem de letras, Snow se movia pelos dois mundos, cumprindo um trajeto que se tornava cada vez mais penoso e solitário. Ele concluiu que a falta de diálogo fazia mais do que partir o mundo em dois. A especialização criava novos subgrupos, gerando células cada vez menores que preferiam conversar apenas entre si.


Seria um desperdício não haver comunicação com com matemáticos, por exemplo, pois a matemática, para além dos seus usos, é guiada por um componente estético, por um conceito de beleza e de elegância que a maioria das pessoas desconhece.


O que move os grandes matemáticos e os grandes artistas, desconfio, é um sentimento muito semelhante de síntese e ordem. Os dois grupos teriam muito a dizer um ao outro, mas, até onde sei, quase não se falam. (No passado, o poeta Paul Valéry deu conferências para matemáticos e o matemático Henri Poincaré falou para poetas.)


Segundo Snow, com a notável exceção da música, não há muito espaço para as artes na cultura científica: "Discos. Algumas fotografias coloridas. O ouvido, às vezes o olho. Poucos livros, quase nenhuma poesia."


Talvez seja exagero, não saberia dizer. Posso falar com mais propriedade sobre a outra parcela do mundo, e concordo quando ele diz que, de maneira geral, as humanidades se atêm a um conceito estreito de cultura, que não inclui a ciência.


Os artistas e boa parte dos cientistas sociais são quase sempre cegos a uma extensa gama do conhecimento. Numa passagem famosa de sua palestra, Snow conta o seguinte: "Já me aconteceu muitas vezes de estar com pessoas que, pelos padrões da cultura tradicional, são consideradas altamente instruídas. Essas pessoas muitas vezes têm prazer em expressar seu espanto diante da ignorância dos cientistas. De vez em quando, resolvo provocar e pergunto se alguma delas saberia dizer qual é a segunda lei da termodinâmica. A resposta é sempre fria - e sempre negativa. No entanto, essa pergunta é basicamente o equivalente científico de 'Você já leu Shakespeare?'. Hoje, acho que se eu propusesse uma questão ainda mais simples - por exemplo: 'Defina o que você quer dizer quando fala em 'massa' ou 'aceleração'', o equivalente científico de 'Você é alfabetizado?' -, talvez apenas uma em cada dez pessoas altamente instruídas acharia que estávamos falando a mesma língua".


O que eu teria a dizer sobre ciência fica perto do zero. Por outro lado, como especialista na minha própria ignorância, posso discorrer sobre ela sem embaraços. Com as devidas ressalvas às exceções que devem existir por aí, estendo minha ignorância a todo um grupo de pessoas e me pergunto de quem seria a responsabilidade por sabermos tão pouco sobre as leis que regem o que nos cerca.


As respostas são previsíveis. Em parte, a responsabilidade é dos próprios cientistas, que não fazem questão de se comunicar com a comunidade não-científica; em parte é dos governos, que raramente têm uma política eficaz de promoção da ciência nas escolas; e em parte - e essa é a parte que mais me interessa- é nossa, das humanidades, que tomamos as ciências como um objeto estranho, alheio a tudo o que nos diz respeito.


A quase totalidade dos personagens de classe média da literatura e do cinema brasileiro contemporâneos pertence ao mundo dos artistas e intelectuais. São jornalistas, escritores (geralmente em crise e com bloqueio), professores (quase sempre de história, filosofia ou letras), antropólogos, viajantes (à deriva), cineastas, atores, gente de TV ou filósofos de botequim. Quando muito, um empresário aqui, um advogado acolá. Cientistas são pouquíssimos, se bem que no momento não me lembro de nenhum.


--> [LIB: Uma exceção que me ocorre agora é o filme O Maior Amor do Mundo, de Cacá Diegues, mas ainda que achássemos outras 10, sequer arranharíamos o argumento de Salles!]

É como se, do lado de fora das disciplinas criativas, não houvesse redenção. Em "Cidade de Deus", o menino escapa do ciclo de violência quando recebe uma máquina fotográfica e vira fotógrafo. Não parece ocorrer a ninguém -nem aos personagens, nem ao público- a possibilidade de ele virar biólogo, meteorologista ou mesmo técnico em ciência.


Uma das minhas obsessões é folhear a revista dominical do jornal "O Globo". Existe ali uma seção na qual eles abordam jovens descolados na saída da praia, de cinemas, lojas e livrarias, para conferir o que andam vestindo. No pé da imagem, informa-se o nome e a profissão da pessoa.


Acompanho essas páginas há um bom tempo, e estatisticamente o resultado é assombroso. Conto nos dedos o número de engenheiros, médicos ou biólogos que vi passar por ali. Eles não podem ser tão malvestidos assim. De duas, uma: ou são relativamente poucos, ou a revista prefere destacar as profissões que considera mais charmosas.


As duas alternativas são muito ruins, mas a segunda me incomoda particularmente, pois sei por experiência como é poderosa a atração exercida por algumas profissões com alto cachê simbólico.


Existem no Rio quatro universidades que oferecem cursos de cinema; no Brasil, são ao todo 28, segundo o Cadastro da Educação Superior do MEC. No ano passado, a PUC-Rio formou três físicos, dois matemáticos e 27 bacharéis em cinema.


Existem 128 cursos superiores de moda no Brasil. Em 2008, segundo o INEP, o país formou 1.114 físicos, 1.972 matemáticos e 2.066 modistas. Alimento o pesadelo de que, em alguns anos, os aviões não decolarão, mas todos nós seremos muito elegantes.


Segundo dados de um relatório do IEDI, a taxa de formação de engenheiros no Brasil é inferior à da China, da Índia e da Rússia, países emergentes com os quais competimos.


Compramos coisas que foram pensadas lá longe, as quais serão brevemente superadas por outras coisas que também não terão sido pensadas aqui. É um processo estéril. Escritores, cineastas e editores de suplementos dominicais se espantariam em saber que, na China, a proficiência em matemática desfruta de uma forte valorização simbólica.


Na Índia, um jovem programador de software se sente no topo do mundo.


Enquanto isso, como lembra o matemático César Camacho, diretor do IMPA, várias universidades brasileiras têm vagas abertas para professores de matemática, não preenchidas por falta de candidatos. A valorização das ciências entre nós é pífia. Sempre me espanto com a presença cada vez maior de projetos sociais que levam dança, música, teatro e cinema a lugares onde falta quase tudo.


Nenhuma objeção, mas é o caso de perguntar por que somente a arte teria poderes civilizatórios. Ninguém pensa em levar a esses jovens um telescópio ou um laboratório de química ou biologia? Centenas de estudantes universitários gostariam de participar de iniciativas assim.


É imprudente tomar uma decisão definitiva aos 18 anos de idade, mas é exatamente o que têm de fazer os alunos ao entrar na universidade - embora, como norma, eles não saibam para o que têm vocação.


Se em algum momento a vocação se manifesta, em geral o aluno e sua família consideram que é tarde. Circunstâncias econômicas ou psicológicas dificultam muito um ajuste de rota. (Começar de novo exige determinação férrea... Sei bem como é, porque foi o meu caso.)


É absolutamente certo que, neste momento, alguns milhares de jovens estão prestes a cometer o mesmo equívoco.


Muitos se revelarão apenas medianos ou preguiçosos, e é provável que a ciência não tenha como alcançá-los. Sem desmerecer os excelentes alunos de cinema, letras ou sociologia, é impossível negar que, para alguém sem grande talento ou dedicação, será sempre mais fácil ser medíocre num curso de humanas do que num de exatas.


Alguns desses jovens sem orientação provavelmente terão inclinação para as ciências e ainda não descobriram. É preciso criar mecanismos que os ajudem a escolher o caminho certo. Infelizmente, as artes e as humanidades, pelo menos por enquanto, não colaboram muito. Ao contrário. Nós disputamos esses jovens e, infelizmente, até aqui estamos ganhando a guerra.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Investimento privado em pesquisa

Há uma preocupação natural com crescimento das universidades privadas: Elas 'consomem' profissionais com formação em ciência básica, mas não contribui para formá-los. Universidades privadas geralmente não têm cursos de biologia, física, matemática ou química, de modo que o aumento do número de pessoas com nível superior no Brasil não seria acompanhado com um aumento no nível da pesquisa científica desenvolvida aqui.

Mas tem uma proposta interessante. Obrigar as universidades privadas a 'doarem' parte do seu lucro para uma fundação de fomento à pesquisa. Vi essa notícia no Jornal da Ciência e transcrevo aqui uma parte do texto:
Projeto de Lei do Senado obriga as instituições de ensino superior privadas a constituir a Fundação de Pesquisa Universitária, destinada a promover o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas

De acordo com a proposta original, do senador Hélio Costa (PMDB-MG), a fundação seria mantida com contribuição oriunda de 2% do faturamento bruto das universidades, faculdades e institutos de educação superior e 3% do faturamento bruto dos centros universitários.


[...] a fundação teria sede em Brasília, mas poderia manter centros de pesquisa em qualquer parte do território nacional. A Fundação de Pesquisa Universitária deveria, ainda, destinar recursos para entidades públicas ou privadas de fomento à pesquisa científica e tecnológica e atuar na formação e aperfeiçoamento de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa e tecnologia, além de prestar serviços de natureza tecnológica a instituições privadas ou públicas.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Os Efeitos Colaterais de uma Maçã.

Em diversos sítios [1, 2, 3] há uma crônica de Luís Fernando Veríssimo sobre a curiosidade humana, que começou com uma mordida numa maçã que Deus proibira e avançou a tal ponto que gastamos cerca de R$ 10 bilhões para construir um túnel de quase 27 km para chocar dois prótons (coisa que a maioria das pessoas nunca viu, e provavelmente nunca verá) só para ver se de lá surge uma partícula chamada Higgs (que ninguém nesse planeta viu até agora). Além disso, com o Grande Colisor de Hádrons (LHC) pretende-se descobrir [4, 5, 6] porque há mais matéria do que antimatéria (novamente, coisa que poucos já ouviram falar.... depois do livro do Dan Brown, o termo ficou até mais familiar para alguns, mas estes continuam a saber nada sobre o assunto). E otras cositas más (supersimetria [7], buracos negros, plasma de quarks-glúons, etc), mas quero falar é sobre a crônica do Luís Fernando Verísimo.

É claro que somente ficamos sabendo o que o Veríssimo pensa sobre o assunto pq contamos hoje com um sistema de troca de informação chamado internet, que foi desenvolvido na Organização Européia de Pequisas Nucleares (CERN), local onde o povo estuda essas coisinhas que ninguém vê. Mas eu não vou repetir toda aquela história de ciência básica, nem recontar a velha história de Michael Faraday perguntando à rainha da Inglaterra pra servem os bebês, muito menos pesquisar tudo o que foi desenvolvido à partir de idéia que eram, à princípio, apenas curiosidade, ou 'vaidade científica', como diz o Veríssimo... Abaixo, reproduzo na íntegra essa crônica, que tirei de uma das fontes que dei acima:

A Doença da Curiosidade - (Luís Fernando Veríssimo)

Santo Agostinho escreveu que entre as tentações, uma das mais perigosas era a “doença da curiosidade”, que nos levava a tentar descobrir os segredos da natureza, “aqueles segredos que estão além da nossa compreensão, que em nada nos beneficiarão e que o Homem não deve tentar saber”. Foi, em outras palavras, o mesmo conselho que Deus deu a Adão e Eva no Paraíso, advertindo-os a não comer o fruto da árvore do saber para não contrair a doença. Eva – sempre elas – não se agüentou e comeu o fruto proibido. Resultado: o Homem perdeu o paraíso da ignorância satisfeita e está, desde então, tentando descobrir que diabo de lugar é este em que o meteram, esta bola girando entre outras bolas num espaço imensurável, sem manual de instrução. Santo Agostinho e outros tentaram nos convencer a aceitar os limites da fé como os limites do conhecimento. Tentar compreender mais longe só nos traria perplexidade e angústia e nenhum benefício. Mas a doença já estava adiantada demais.

A fase mais aguda da doença da curiosidade chegou com a inauguração, esta semana, num subterrâneo na fronteira da Suíça com a França, do tal acelerador gigante que jogará prótons contra prótons em condições inéditas para tentar reproduzir a origem de tudo, liberar uma subpartícula atômica que até agora só existe em teoria e chegar mais perto de descobrir como funciona o Universo. Quer dizer, os descendentes de Adão e Eva pretendem levar a rebeldia do casal ao máximo e espiar por baixo do camisolão de Deus. Segundo alguns, o que o novo acelerador também pode trazer é um castigo terminal pela desobediência humana: o desaparecimento num buraco negro não só dos cientistas envolvidos e de alguns suíços e franceses na superfície, mas do mundo todo. Com você e eu, que não temos nada a ver com a história, atrás.

O cataclismo é improvável, mas mesmo que a insubmissão do Homem não seja punida, resta a outra questão posta por Santo Agostinho, a do benefício. Que proveito, salvo para a vaidade científica, trará descobrir o que pretendem? Quanto mais se sabe sobre o funcionamento do Universo mais aumentam a perplexidade e a angústia por não se saber mais, por jamais se poder compreender tudo – pelo menos não com este cérebro que mal compreende a si mesmo.

Mas a toxina daquela fruta era forte e ainda age no organismo. E a doença é incurável.

------
... Um texto muito bom, como são sempre os textos do Veríssimo. Mas nos deixa com a idéia de que a ciência básica é apenas um capricho... Depois que provamos daquela maçã, não só tivemos em nós a curiosidade despertada, como também a vergonha e talvez a auto-crítica. O homem quase que instintivamente analisa seu próprio comportamento em sociendade e, para ver até onde nossas emoções podem chegar, criamos imagens e textos que nos provocam a alma. Seguindo a mesma linha de raciocínio, eu me pergunto se não seria a arte, a música e a literatura também apenas um fruto da 'vaidade humana', ou seja, mais um efeito colateral da maçã... Afinal, um livro como Comédias da Vida Privada não tem pretensões de curar doenças. Apenas nos conduz à uma viagem pesoal através dos nossos próprios sentimentos, dos comportamentos do 'homem civilizado', e das nossas emoções. E quem de nós viu isso? Quem de nós viu o amor mais do que a um próton? Penso que não só os cientistas, mas todos os seres humanos estão condenados pela mordida que Adão e Eva deram naquela maçã, quando ainda eram apenas inocentes macacos.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

LHC

Foi posto hoje em funcionamento o Grande Colisor de Hadrons (Large Hadron Collider - LHC). Abaixo, um rap que resume bem as atividades do LHC.

sábado, 13 de outubro de 2007

Dia das Crianças na Estação Ciência

Ontem foi o dia das crianças e eu levei a minha pra visitar a Estação Ciência. Por causa da data, a entrada era gratuita e o local estava cheio de crianças. Eu já havia visitado a Estação outras vezes, mas desta vez foi muito melhor: todos os experimentos funcionaram bem e, além disso, há coisas novas como uma sala em que somos submetidos à um terremoto de grau 5 na escala Richter. Brinquei de gerador de Van der Graff e tive medo de me meter com a bobina de Tesla. Saí de lá suado, rouco, cansado e feliz. Como qualquer outra criança que tira o dia para brincar.

E quando vou nesses lugares, eu penso: "Ciência é massa! Como pode não gostarem?" E me lembro da minha prima de 8 anos que me disse, certa vez: "Eu odeio física!". Eu perguntei: "Você já viu física?!". Ela disse que não, mas que já odiava. E eu fico muito triste quando eu vejo isso... Mas ontem, eu vi crianças sendo apresentadas à ciência propriamente.

À certa altura, eu conversava com meus amigos sobre um dos experimentos da Estação (uns feixes de laser indicavam o caminho da luz num olho normal, hipermétrope e míope, depois mostrando como os óculos resolvem o problema). E um garoto.... devia ter seus 10 anos, não sei.... o moleque escutava a conversa atentamente e eu perguntei pra ele se ele entendia aquele experimento. Ele disse que não e eu expliquei. Quando avistou sua mãe, ele disse, feliz: "Mãe! Eu entendi como funciona isso!". E explicou à sua mãe. Mas não ouvi a explicação, saí de perto para dar-lhe confiança de continuar sem ter um "árbitro" julgando suas palavras. Afinal, ele já tinha entendido o principal: É divertido.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

terça-feira, 24 de julho de 2007

Viagem ao Centro da Matéria

Nos tempos de Rutherford, as partículas eram aceleradas na direção de um material e um aluno era encarregado de contar quantas passaram direto, voltaram ou o quanto foram desviadas.

Hoje, mesmo um empenhado estudante não é capaz de monitorar os resquícios das colisões dos grandes aceleradores de partículas. O Grande Colisor de Hádrons (LHC) entrará em funcionamento em maio do próximo ano (se não adiarem de novo.... estava previsto para novembro de 2007...)

Para lidar com a enorme quantidade de dados gerados, precisaremos de um supercomputador, e o modo de fazer isso é através de uma rede global (grid). O Brasil contribuirá nessa empreitada com o seu Centro Regional de Análise de São Paulo (SPRACE).

O SPRACE desenvolve muitos outros projetos. Entre eles, a divulgação da física de partículas. Nas escolas, vemos tabelas periódicas espalhadas por toda parte. Há tabelas periódicas até em agendas não-escolares. Mas já sabemos mais sobre a matéria há mais de meio século! Sabemos, por exemplo, que os prótons têm uma estrutura interna e que eles interagem com os neutrôns através da força forte. O nosso conhecimento atual da estrutura da matéria é conhecido como Modelo Padrão das Interações Fundamentais e um dos projetos do SPRACE é por esta informação num cartaz e divulgá-lo para todas as escolas brasileiras até o fim deste ano. [O projeto chama-se "Um cartaz em cada escola". [Clique para ampliar].


Como entregar um cartaz bonitinho não é suficiente para ensinar física, o SPRACE mantém o site Estrutura Elementar da Matéria, onde há um fórum de discussão para responder as dúvidas de alunos sobre o assunto.

Espero que os professores das escolas brasileiras se encarreguem de explicar a importância deste estudo para os alunos que tendem a queixar-se com seus amigos, freqüentemente via MSN, sobre a inutilidade da física. (NOTA: a internet como conhecemos hoje foi desenvolvida no CERN, um laboratório de física nuclear, onde está localizado o LHC).

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Notícias curtas

Manter isso atualizado e conduzir o doutorado é tarefa além de minhas capacidades, às vezes...

... Mas há muita coisa legal pra ser comentada. Devido à falta de tempo, vai assim, como notícia relâmpago:
  • Na última Ter, 10 de Julho, Brian Greene e Janna Levin publicaram um troço legal! Propõem usar a energia de Casimir devido ao tamanho finito das dimensões extras pra explicar por que elas ficam encolhidinhas. E por que há somente 4 expandindo. De quebra, argumentam que essa energia seria observada em 4dim como uma energia escura.
  • Estou cada vez mais inclinado a crer que não somos em nada especiais... Duas coisas:
  1. Bernd Heirinch e Thomas Bugnyar fizeram uns experimentos com corvos... Botavam a comida de tal forma que o bicho só podia pegar se executasse uma seqüência de movimentos bem definidos. A configuração da coisa era tal que não fazia parte da experiência cotidiana deles, ou seja, era a primeira vez que viam tal "problema" diante de si. Os corvos olhavam para a comida por um tempo considerável e depois faziam a seqüência certinha. Ou seja, NÃO era na base da tentativa-e-erro! Eles planejam, raciocinam, é o que dizem os autores. Há mais experimentos que eles fizeram.... Isso é a 5ª reportagem listada em [1]
  2. Na Scientific American desse mês, descrevem um experimento feito com ratos. Os ratos tinham a opção de entrar ou não no "jogo". Se não entrassem, ganhavam um POUCO de comida. Se entrassem, mas não conseguissem o objetivo do jogo, não ganhavam nada, nem perdiam. Se entrassem no jogo e conseguissem atingir o objetivo, ganhavam MUITA comida. E não é que os desgraçados só participavam do jogo quando era fácil!? Chamam isso de "metacognição", a habilidade de avaliar suas próprias capacidades, seus próprios conhecimentos.
  • Por último, mas não menos importante: O Brasil ocupa agora o 15º lugar em publicação científica. Passamos Suécia e Suíça, que estavam na frente em 2005. O presidente da CAPES espera que subamos mais uma posição, passando a Rússia em dois anos, ou menos.
É isso.

sábado, 12 de maio de 2007

Matemática e Física

Depois de anos de trabalho
Fez o carpinteiro um dia
Uma ferramenta de belo talho
Que não tinha serventia.

Mas o objeto era bem feito
E encantou toda a cidade
Apesar do grande defeito
De não ter real utilidade.

Colocaram até um encarte
Procurando quem soubesse dizer
O que, com essa obra de arte,
Deveríamos então fazer.

Até que um dia surgiu
Um nobre e sábio cidadão
Com um problema sutil
E tal ferramenta era a solução.

É esse busca incessante
Da mais perfeita união
Que torna o mundo fascinante
E dá à minha vida uma direção.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Para que serve o estudo?

Quando estudante de primeiro grau, nos idos anos 80, eu tive aulas de Técnicas Comerciais (ensinava, por exemplo, o que é a bolsa de valores), Desenho Geométrico (como desenhar um triângulo isósceles retângulo usando apenas régua e compasso, por exemplo) e Educação Artística (desenho, por exemplo).

Minha tia estudou numa época em que ensinavam francês no colégio. Hoje, optar por essa língua chega a ser quase um capricho perante o domínio do inglês no mercado de trabalho.

No meu segundo grau, a "educação artística" era literatura (ler os livros que seriam cobrados no vestibular). Para quem não lesse, um professor resumia a história numa aula. No terceiro ano, quando cada mensalidade do colégio seria suficiente para comprar um aparelho de DVD, aprendi que numa prova de 50 questões de múltipla escolha (a, b, c, d, e), o gabarito correto contém 10 vezes cada letra. Desse modo, o melhor é fazer as questões que temos certeza, contarmos quantas vezes cada letra aparece e marcar a letra que menos apareceu até ali em todas as outras questões.

Para o futuro, me atormenta uma coisa: é notório o crescimento das universidades privadas. Há cursos de ciências contábeis, farmácia, medicina e engenharias. Mas pouquíssimas possuem bacharelado em matemática, química, biologia e física. Baseados em que confiamos nas engenharias, na medicina e tomamos remédio? O que estudam os contadores?