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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Trecho de Guerra & Paz

"Guerra & Paz não é um romance, muito menos um poema,
e menos ainda uma crônica histórica. É o que o autor quis
e foi capaz de expressar, na forma em que ele o expressou."

Liev Tolstói.


Depois de ter escrito sobre o cálculo diferencial e integral aplicado ao estudo da história, no início da terceira parte do tomo III, Tolstói, lá pelas tantas, faz uso dos conceitos de mecânica na física para explicar suas ideias sobre Guerra & Paz:

[…] a ciência militar avalia a força das tropas na exata medida do seu contingente. A ciência militar diz que, quanto mais tropas, maior a força. Les gros bataillons ont toujours raison. 
Ao dizer isso, a ciência militar se assemelha à mecânica, que, apoiando-se na avaliação das forças apenas com relação à massa, diria que as forças são iguais ou desiguais entre si porque a massa é igual ou desigual. 
A força (a quantidade de movimento) é o produto da massa vezes a velocidade. 
Na guerra, a força das tropas é também o produto da massa vezes algo, uma incógnita x. 
[…] Esse x é o ânimo das tropas, ou seja, o maior ou menor desejo de lutar e de se sujeitar-se aos perigos […] 
[…] Dez homens, batalhões ou divisões combatendo quinze homens, batalhões ou divisões venceram os quinzes, ou seja, mataram e fizeram prisioneiros a todos, sem sobrar nenhum, e perderam quatro; vale dizer, foram aniquilados de um lado quatro e de outro lado quinze. Portanto, quatro foram iguais a quinze e, portanto, 4x=15y. Portanto, x:y = 15:4. Essa equação não dá o valor da incógnita, mas dá a relação entre as duas incógnitas. E, da aplicação de tais equações às unidades históricas tomadas individualmente (as batalhas, as campanhas, as fases de uma guerra), obtém-se uma série de números, nos quais devem existir certas leis, que podem ser descobertas.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Momento inconveniente

Enquanto o avião sacudia em meio a uma turbulência, eis o que eu lia:

... e eu lhe contei um sonho que tivera com uma estranha figura árabe que me perseguia através do deserto; uma figura da qual eu tentava escapar; que finalmente me alcançava pouco antes de chegar à Cidade Protetora. "Quem era?" perguntou Allen. Refletimos. Sugeri que talvez fosse eu mesmo vestindo um manto. Não era isso. Algo, alguém, algum espirito perseguia a todos nós através do deserto da vida e estava determinado a nos apanhar antes que alcançássemos o paraíso. Naturalmente, agora que reflito sobre isso, trata-se apenas da morte: a morte vai nos surpreender antes do paraíso. A única coisa pela qual ansiamos em nossos dias de vida, que nos faz gemer e suspirar e nos submetermos a todos os tipos de náuseas singelas, é a lembrança de uma alegria perdida que provavelmente foi experimentada no útero e que somente poderá ser reproduzida -- apesar de odiarmos admitir isso -- na morte.
(On The Road, de Jack Kerouac).

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Caim

Abaixo transcrevo um trecho do livro Caim, de José Saramago. Aliás, uma vez que o livro é em si uma heresia, sinto-me tentado a cometer uma outra heresia, a saber, pontuar o texto de Saramago... vejamos quanto da beleza do texto se perde com isso de travessões.

Então caim contou a lilith o caso de um homem chamado abraão a quem o senhor ordenara que lhe sacrificasse o próprio filho, depois o de uma grande torre com a qual os homens queriam chegar ao céu e que o senhor com um sopro deitou abaixo, logo o de uma cidade em que os homens preferiam ir para a cama com outros homens e do castigo de fogo e enxofre que o senhor tinha feito cair sobre eles sem poupar as crianças, que ainda não sabiam o que iriam querer no futuro, a seguir o de um enorme ajuntamento de gente no sopé de um monte a que chamavam sinai e a fabricação de um bezerro de ouro que adoraram e por isso morreram muitos, o da cidade de madian que se atreveu a matar trinta e seis soldados de um exército denominado israelita e cuja população foi exterminada até à última criança, o de uma outra cidade, chamada jericó, cujas muralhas foram deitadas abaixo pelo clangor de trombetas feitas de cornos de carneiro e depois destruído tudo o que tinha dentro, incluindo, além dos homens e mulheres, novos e velhos, também os bois, as ovelhas e os jumentos.

- Foi isto o que eu vi - rematou caim - e muito mais para que não me chegam as palavras.

- Crês realmente que o que acabas de contar acontecerá no futuro? - perguntou lilith.

- Ao contrário do que costuma dizer-se, o futuro já está escrito, o que nós não sabemos é ler-lhe a página - disse caim enquanto perguntava a si mesmo aonde teria ido buscar a revolucionária ideia.

- E que pensas do facto de teres sido escolhido para viveres essa experiência?

- Não sei se fui escolhido, mas algo sei, sim, algo devo ter aprendido.

- Quê?

- Que o nosso deus, o criador do céu e da terra, está rematadamente louco.

- Como te atreves a dizer que o senhor deus está louco?

- Porque só um louco sem consciência dos seus actos admitiria ser o culpado directo da morte de centenas de milhares de pessoas e comportar-se depois como se nada tivesse sucedido, salvo, afinal, que não se trate de loucura, a involuntária, a autêntica, mas de pura e simples maldade.

- Deus nunca poderia ser mau ou não seria deus, para mau temos o diabo.

- O que não pode ser bom é um deus que dá ordem a um pai para que mate e queime na fogueira o seu próprio filho só para provar a sua fé, isso nem o mais maligno dos demónios o mandaria fazer.

- Não te reconheço, não és o mesmo homem que dormiu antes nesta cama - disse lilith.

- Nem tu serias a mesma mulher se tivesses visto aquilo que eu vi, as crianças de sodoma carbonizadas pelo fogo do céu.

- Que sodoma era essa?

- A cidade onde os homens preferiam os homens às mulheres.

- E morreu toda a gente por causa disso!?

- Toda, não escapou uma alma, não houve sobreviventes.

- Até as mulheres que esses homens desprezavam?

- Sim.

- Como sempre, às mulheres, de um lado lhes chove, do outro lhes faz vento.

- Seja como for, os inocentes já vêm acostumados a pagar pelos pecadores.

- Que estranha ideia do justo parece ter o senhor...

- A ideia de quem nunca deve ter tido a menor noção do que possa vir a ser uma justiça humana.

- E tu? Tem-na? - perguntou lilith.

- Sou apenas caim, aquele que matou o irmão e por esse crime foi julgado.

- Com bastante benignidade, diga-se de passagem - observou lilith.

- Tens razão, seria o último a negá-lo, mas a responsabilidade principal teve-a deus, esse a que chamamos senhor.

- Não estarias aqui se não tivesses matado abel, pensemos egoistamente que uma coisa deu para a outra.

- Vivi o que tinha de viver, matar o meu irmão e dormir contigo na mesma cama são tudo efeitos da mesma causa.

- Qual?

- Estarmos nas mãos de deus, ou do destino, que é o seu outro nome.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O Médico e o Monstro

Recomendo o último capítulo do Dr. Jekyll and Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson... Não que o resto do livro não seja bom, mas é que sendo uma história muito conhecida, o mistério que se constrói ao longo do livro não cativa, já que sabemos a solução desde o início. Por outro lado, o último capítulo é praticamente um ensaio sobre a natureza humana e vale a pena ser lido, mesmo que já se conheça a trama.... aliás, se alguém ainda não conhece a solução do mistério, sugiro que leia logo o livro antes que alguma reportagem, filme ou conversa de bar estrague o prazer desta leitura! E, novamente: Mesmo que já conheça a história por outros meios, não deixe de ler o último capítulo, que não demora nada e juro que não há inconvenientes em começar a leitura neste ponto!

sábado, 29 de agosto de 2009

Escola romana

Sobre a escola e seu papel na civilização romana, disse Paul Veynes, em História da Vida Privada:
[Os meninos estudavam] para adornar o espírito, para se instruírem nas belas-letras. Constitui estranho erro acreditar que a instituição escolar se explica, através dos séculos, pela função de formar o homem ou, ao contrário, adaptá-lo à sociedade; em Roma não se ensinavam matérias formadoras nem utilitárias, e sim prestigiosas e, acima de tudo, a retórica. É excepcional na história que a educação prepare o menino para a vida [...] Em Roma, decorava-se com retórica a alma dos meninos, assim como no século XIX vestia-se essas criaturinhas de marinheiros ou militares.

[... Na escola] começa a haver escritores "clássicos", assim como com as "leis" do turismo haverá lugares que será necessário visitar, monumentos que não se pode deixar de ver. A escola forçosamente ensinará a todos os notáveis atividades prestigiosas para todos, mas que interessam a pouca gente [...] E, como uma instituição logo se considera um fim em si mesma, ensinará principalmente, e dirá clássico, o que é mais facilmente ensinável; desde os tempos de Atenas clássica, a retórica soube elaborar uma doutrina mastigada e pronta para ser ensinada. Assim, os jovens romanos de doze a dezoito ou vinte anos aprendiam a ler os clássicos, depois estudavam a retórica. E o que é retórica?

Não uma coisa útil, que contribui com algo para a "sociedade".
Não admira que no início da Era Cristã - quando o Império Romano esteve no auge de sua extensão - tenha havido tão pouco progresso nas ciências, comparado com alguns séculos antes e muitos depois.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Maior dos Perigos

"O tormento no escuro era o perigo que eu temia, e esse perigo não me demoveu. Mas eu não teria vindo, se soubesse do perigo da luz e da alegria. Agora, com esta despedida, sofri meu maior ferimento, e não poderia haver pior nem mesmo que eu tivesse de ir nesta noite, diretamente ao encontro do Senhor do Escuro."
Gimli, Filho de Glóin, logo
após despedir-se de Galadriel.
(Em O Senhor Dos Anéis,
II.VIII - Adeus a Lórien)

domingo, 19 de outubro de 2008

Livros (por Sêneca)

Trecho de Sobre A Brevidade Da Vida, de Lúcio Anneo Sêneca, que fala sobre os sábios do passado, que nos falam através dos livros:
[...] Todos os anos que se passaram antes deles são somados aos seus. A não ser que sejamos muito ingratos, aqueles sábios fundadores das idéias sagradas nasceram para nós e nos preparam a vida. [...] Não nos é proibido o acesso a nenhum século, somos recebidos em todos. [...] Uma vez que a natureza nos permite comungar com toda a eternidade, por que não nos afastamos da estreita e pequena passagem do tempo e nos entregamos com todo nosso espírito ao que é ilimitado, eterno e dividido com os melhores? [...] Se dedicam aos melhores ofícios [aqueles] que querem desfrutar, todos os dias, da intimidade de Zenão, Pitágoras, Demócrito, Aristóteles, [Sêneca, Erasmo, Shakespeare, Machado] e outros mestres das boas artes. [Pois] nenhum deles [te] faltará, nenhum [te] mandará embora [sem deixá-lo mais feliz]; eles podem ser encontrados por qualquer mortal, seja durante o dia, seja à noite. Nenhum deles vai te levar para a morte, todos te ensinarão a morrer; [...] que bela velhice terá aquele que se propuser a ser cliente deles! Este terá com quem dialogar sobre as menores e maiores questões. [...] Costumamos dizer que não está em nosso poder escoher os pais que o destino nos deu; porém, podemos ter um [re]nascimento de acordo com nossa escolha. Há famílias dos mais nobre espíritos, basta escolher a qual delas desejas pertecer e receberás não apenas o nome, mas também os bens [i.e., a sabedoria e idéias que herdarás], os quais não precisarás vigiar de forma miserável e mesquinha, pois quanto mais forem compartilhados, maiores se tornarão. [...] Esta é a maneira de prolongar a vida, ou mesmo transformá-la em imortalidade. [...] Assim, a vida do sábio se estende por muito tempo, [pois] ele não tem os mesmos limites que os outros. [...] Algo se perde no passado? Ele recupera com a memória. Está no agora? Ele desfruta. Há de vir com o futuro? Ele antecede.

domingo, 9 de março de 2008

Mulheres na Ciência (por Peter B. Medawar)

Veio às minhas mãos o livro "Conselhos a um jovem cientista", de Peter Brian Medawar, e tenho achado um livro muito bom, até onde li. Aliás, um adendo: Sem saber absolutamente nada sobre o autor, ou a obra, achei por bem pesquisar quem foi o sujeito antes de iniciar a leitura. E grande foi a surpresa quando descobri que ele recebeu o prêmio Nobel de medicina e fisiologia em 1960 ("por seus estudos sobre resistência imunológica adquirida"). A surpresa, é claro, não está nesta informação, mas no fato de que Peter é brasileiro (ou pelo menos "foi"...). Nascido e criado no Rio de Janeiro até os 14 anos de idade.

Pq se diz, então, que nunca um brasileiro recebeu um Nobel? Pq à época do recebimento do prêmio, ele já não possuía a cidadania brasileira. Aconteceu que ele foi estudar na Inglaterra aos 14 anos de idade e quando chegou a época de servir ao exército (ou à Patria, como queiram), o jovem solicitou a dispensa do dever para continuar seus estudos. O governo brasileiro negou o pedido e Peter perdeu a cidadania brasileira, tornando-se um cidadão britânico... Tudo bem que os estudos avançados de Medawar foram feitos na Inglaterra, mas lembremo-nos que Albert Einstein deixou a Alemanha aos 15 anos de idade para ir para Itália e foi em seguida (aos 16 anos) fazer seus estudos superiores na Suíça. Além disso, Einstein também perdeu a cidadania alemã aos 17 anos (ele também a renunciou para fugir das obrigações militares).

Bom, isso era só um adendo. Devido à "semana da mulher", quero transcrever algumas coisas que li no livro supracitado de Medawar.

"No mundo inteiro, dezenas de milhares de mulheres [desenvolvem suas atividades científicas] tão bem ou tão mal quanto os homens e pelas mesmas razões: prosperam as que são autoconfiantes, inteligentes, 'dedicadas' e persistentes; esmorecem as pouco entusiastas, medíocres e sem imaginação"

"Em vista da importância atribuída à 'intuição' [...], poderíamos ser tentados a pensar que as mulheres são especialmente dotadas para as ciências. É um ponto de vista não compartilhado amplamente pelas mulheres, e acho eu que ele não apresenta vistos de autenticidade, porquanto a 'intuição' acima referida [...] tem mais a ver com uma percepção de feitio próprio nas relações humanas de que a imaginosa capacidade de conjeturar, que é o ato gerador na ciência."

"As jovens que defendem com entusiasmo a escolha da carreira científica [...], devem ser cautelosas e não citar Madame Curie como evidência de que mulher pode atingir grandes realizações na ciência; qualquer tendência de generalização, a partir de casos isolados, a ninguém convencerá [...] - Não é Madame Curie, mas as dezenas de milhares de mulheres bem pagas e freqüentemente felizes com a ocupação científica, a que se acham ligadas, que devem ser lembradas."

"Homens [...] que vão ao ponto extrema de se casarem com cientistas devem estar claramente avisados de antemão, em vez de aprenderem mais tarde, penosamente, que suas esposas estão presas a uma terrível obsessão que ocupa o primeiro lugar em suas vidas, fora de casa e, provavelmente, dentro [...]. O marido de uma cientista [...] não deve esperar que vá encontrar um cozido de frango ao vapor de Majorlaine pronto sobre a mesa, quando vem do trabalho para casa, [o trabalho do marido é] provavelmente menos atribulado do que de sua esposa".

[Medawar diz coisas semelhantes no caso de mulheres que casam com cientistas e fala também de casais de cientistas, argumentando sobre o benefíco, ou malefício de uma instituição permitir marido e mulher no mesmo grupo de pesquisas, mas omiti tais passagens]

domingo, 9 de dezembro de 2007

Audiolivros

Nos EUA, o mercado de audiobooks é bastante intenso e é possível achar muitíssimos títulos lidos por alguém (by the way, a nice way to learn English!), desde os "best-sellers" como The Da Vinci Code (Dan Brown) e Harry Potter (J.K. Rowling), até clássicos como The Trial (Franz Kafka) e The Lord of the Rings (J. R. R. Tolkien) e até mesmo científicos, como The Origin of the Species (Charles Darwin), The Fabric of Spacetime (Brian Greene) e Dreams of a Final Theory (Steven Weinberg), ou o Surely You're Joking, Mr. Feynman (Richard P. Feynman)... bom, já chega. O ponto é: tem para todos os gostos! Para audiobooks gratuitos em inglês, veja o LibriVox. (Entretanto, alguns dos que citei aqui não são gratuitos... mas é facílimo encontrá-los em qualquer servidor de torrents, por exemplo... hehehe).

Em português, há poucos livros disponíveis. Mas agora já temos alguns clássicos gratuitos na rede. Na Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa (BibVirt) tem vários audiolivros disponíveis... Machado de Assis, Castro Alves, Camões, José de Alencar, Adolfo Caminha, Eça de Queiroz, etc. O único "problema" é que os arquivos estão em ".ra", que é uma terminação para Real Player (no meu computador, tive que, no momento de salvar, acrescentar ".ram" ao nome do arquivo para que eu o ouvisse sem problemas, de modo que o arquivo ficava, por exemplo, "arquivo.ra.ram"). Mas é possível convertê-lo para mp3 sem grandes dificuldades, imagino. Há programas gratuitos que fazem isso. Por exemplo, veja este, no Superdownloads.

O site tem muito mais coisa além disso. Ainda não o explorei completamente e, quando o fizer, postarei aqui o que eu for achando de mais legal.

domingo, 5 de agosto de 2007

O Primo Basílio

Motivado pelo iminente lançamento do filme, estou lendo o livro de Eça de Queiroz. Destaco alguns trechos interessantes, tomando o cuidado para nada revelar sobre o enredo:

Tinha a certeza do seu direito a estas felicidades, e como elas tardavam chegar ia se tornando despeitado e amargo; andava amuado com a vida. (Gostei deste trecho pq resume bem o que penso sobre o amor-próprio ou auto-confiança que, quando fora de controle nos conduzem à tristezas mais do que ao sucesso.)

Porque nos temperamentos sensíveis as alegrias do coração tendem a completar-se com as sensualidades do luxo. (Desconheço a intenção do autor... em minha interpretação, isto é uma ironia: "sensíveis" deve ser entendido como "fracos", e "completar-se" deve ser compreendido como "confundir-se".)

- Que nos importa a nós o princípio da vida? Importa-me tanto quanto a primeira camisa que vesti! [...] O fisiologista, o químico, não têm nada com os princípios das coisas; o que lhes importa são os fenômenos! (Uma crítica à ciência básica em prol da aplicada... Deixo registrado que não sou de acordo com tal opinião!)

Já não havia aquelas conversas pueris, cheias de risos, divagadas e tontas, [...] em que esqueciam, depois da hora ardente e física, quando ela ficava numa lassitude doce, com o sangue fresco, a cabeça deitada sobre seus braços nus!

- [...] Queres que me atire de joelhos, que declame, que revire os olhos, que faça juras, outras tolices?...
- São tolices que tu fazias...
- Ao princípio! - respondeu ele brutalmente. - Já nos conhecemos muito para isso, minha rica. (Um trecho tristemente verossímil... "Conhecer muito" uma pessoa não deveria ser motivo... mas costuma ser, por aí...)

Onde estava o defeito? No amor mesmo, talvez! [...] Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois!... Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?... ( Será?)

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Amante vs. Amigo

Hoje é o Dia do Amigo! O curioso é que o dia foi inventado por um inimigo íntimo dos brasileiros: um argentino. Ele se inspirou na chegada do homem à Lua (20 de Julho de 1969) e viajou na batatinha ao considerar aquilo um primeiro passo para uma amizade com outros seres do Universo.

Falando de amizade, lembrei do Fedro, do Platão. É um diálogo em que Fedro lê o discurso de Lísias para Sócrates. O ponto que Lísias defende é que apaixonar-se é uma coisa ruim e traz ruínas a um homem. Pelo contrário, um amigo é muito mais valioso. Depois, Sócrates discute longamente o tema.... Recomendo!

Mas, como hoje é Dia do Amigo, focarei no discurso de Lísias. Lá, ele diz:

"Aquele que não é apaixonado [...] não sentirá inveja dos que cercam o amado; pelo contrário, odeia os que não querem ter convivência com ele, supondo que o desprezam, persuadido de que este pode ter proveito com o convívio dos bons amigos. [...] Ademais, a concupiscência de muitos amantes tem por alvo preferido muito mais a beleza do corpo do que o caráter e as condições pessoais. Em conseqüência disto, é sempre duvidoso que eles, uma vez satisfeito o desejo, esteja dispostos a continuar a amizade. [...] Aqueles a quem o amor não perturba, já antes haviam iniciado uma mútua amizade; não é provável, pois, que nesses a amizade diminua ou desapareça logo que o desejo se satisfaz. Ao contrário, na mútua amizade encontrarão outros motivos e garantias para novos favores."

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Mais física numa casca de noz

(Em tempo: "in a nutshell" é uma expressão idiomática em inglês que significa "em poucas palavras". Literalmente, significa "numa casca de noz")

Recentemente (abril/2007) foi lançado o livro "String Theory in a Nutshell", de Elias Kiritsis. A princípio, pensei que o livro fosse apenas uma versão não-grátis do famoso "Introduction to Superstring Theory", um review de Kiritsis de 1997. Mas não é. O livro preenche bem o espaço entre o livro de Barton Zwiebach (A First Course in String Theory) e os dois volumes de Polchinski (String Theory).

O livro do Zwiebach é um ótima introdução mas não fornece elementos à quem deseja fazer pesquisa em teoria de cordas. Por outro lado, o Polchinski é terrível! Confesso que somente recorro ao Polchinski quando o assunto não é tratado por nenhum outro autor.

O livro do Kiritsis me parece bem abrangente e bastante claro. Embora alguns assuntos sejam deixados de fora como, por exemplo, os formalismos de Green-Schwarz e os espinores puros de Berkovits.

O livro é mais um dos grandes assuntos da física a serem espremidos numa casca de noz. Em 2002, Stephen Hawking lançou O Universo numa Casca de Noz (The Universe in a Nutshell), que achei bem difícil de ler mas, por algum motivo, foi um sucesso aqui no Brasil.

Anthony Zee foi outro que usou uma noz como recipiente para um assunto muito vasto. Seu livro, Quantum Field Theory in a Nutshell, é agradabilíssimo. A melhor introdução à teoria de campos quânticos que eu já vi. A leitura desse livro proporciona até risadas em alguns momentos. Cito apenas a última frase do livro: "As the Beatles said, Quantum Fields Forever!"

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Muitos livros, pouco tempo.

No episódio 11 da série Cosmos (ou o capítulo 11 do livro), entitulado "A Persistência da Memória", Carl Sagan fala sobre os bits como unidade de informação, da memória genética e do cérebro. E fala também da memória extrassomática, ou seja, aquela que fica guardada fora do corpo. Nos livros, por exemplo. Gostaria de descrever aqui uma cena que gostei bastante.

Carl Sagan está na biblioteca pública de Nova Iorque, onde há um acervo de milhões de livros e nos fala que, se lêssemos um livro por semana, durante toda nossa vida adulta, teríamos lido, ao final de uma vida com a duração normal, uns poucos milhares de livros. "Nesta biblioteca, isso corresponde a daqui até aqui", diz Sagan apontando para 10 estantes cheias de livros. A câmera continua além da décima estante, mostrando a enorme quantidade de livros a mais. Nesse momento, ele diz:

"O TRUQUE É SABER QUAIS LIVROS LER".

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Crítica à leitura

Acabo de ler "A Arte de Escrever", que é uma coletânea de 5 textos retirados do Parerga e Paralipomena (1851), de Arthur Schopenhauer (filósofo alemão, 1788 - 1860). Nele o autor discorre sobre a literatura, o estilo dos autores e pensamento filosófico. Muito bom!

Comecei a ler o livro num feriado em que todos viajaram e me vi confinado em casa durante 3 dias. Angustiado com a solidão, busquei companhia nos livros. Começava a ler quando acordava e parava para dormir, praticamente sem pausas. E dei boas risadas com a coincidência de ter escolhido justamente este livro para ler. Eis alguns trechos:

"Ler significa pensar com uma cabeça alheia, em vez de pensar com a própria. Nada é mais prejudicial ao pensamento próprio [...]"

"Desse modo, o excesso de leitura tira do espírito toda a elasticidade, da mesma maneira que uma pressão contínua tira toda a elasticidade de uma mola."

"Assim, uma pessoa só deve ler quando a fonte de seus pensamentos próprios seca, o que ocorre com bastante frequência mesmo entre as melhores cabeças. Por outro lado, renegar os pensamentos próprios, originais, para tomar um livro nas mãos é um pecado contra o Espírito Santo."

Tem toda razão! Lia para não pensar...