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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cientistas não conhecem Shakespeare; Humanistas não conhecem Termodinâmica

Gostaria de publicar aqui trechos de um artigo escrito por João Moreira Salles (documentarista e professor da PUC-Rio). O artigo publicado na "Folha de SP", em 07 de junho, acho que no caderno "Ilustríssima", e pode ser lido online na íntegra na edição de 8 de junho do Jornal da Ciência, sob o título "Um documentarista se dirige a cientistas", ou no site da Academia Brasileira de Ciências, onde Salles discursou. O texto é principalmente uma crítica à sociedade brasileira que supervaloriza as artes e a desvalorização das ciências exatas. Para a maioria, são considerados 'intelectuais' os jornalistas, cineastas e sociólogos, enquanto as ciências exatas amargam uma posição sem status e até mesmo marginal.

Abaixo, o que considerei mais interessante do artigo aparece editado e grifado por mim. Por ser um texto muito bom, não pude cortar muito, mas consegui, a grandes custos, reduzir um pouco para abreviá-lo.

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Sou ligado ao cinema documental e, mais recentemente, ao jornalismo, atividades que, se não são propriamente artísticas, decerto existem na fronteira da criação. Jornalismo não é literatura nem documentário é cinema de ficção. Nosso capital simbólico é muito menor e nosso horizonte de possibilidades é limitado pelos constrangimentos do mundo concreto.


Não podemos voar tanto, e essa é a primeira razão pela qual, com notáveis exceções, o que produzimos é efêmero, sem grande chance de permanência. Não obstante, é fato que minhas afinidades pessoais e profissionais estão muito mais próximas de um livro ou de um filme do que de uma equação diferencial.


Em 1959, o físico e escritor inglês C.P. Snow deu uma palestra sobre a relação entre as ciências e as humanidades. Snow observou que a vida intelectual do Ocidente havia se partido ao meio.


De um lado, o mundo dos cientistas; do outro, a comunidade dos homens de letras, representada por indivíduos comumente chamados de intelectuais, (um termo sequestrado pelas humanidades e pelas ciências sociais, segundo Snow).


Aos artistas, interessaria refletir sobre a precariedade da condição humana e sobre o drama do indivíduo no mundo. O interesse dos cientistas, por sua vez, seria decifrar os segredos do mundo natural e, se possível, fazer as coisas funcionarem. Como frequentemente obtinham sucesso, não viam nenhum despropósito na noção de progresso.


Na qualidade de cientista e homem de letras, Snow se movia pelos dois mundos, cumprindo um trajeto que se tornava cada vez mais penoso e solitário. Ele concluiu que a falta de diálogo fazia mais do que partir o mundo em dois. A especialização criava novos subgrupos, gerando células cada vez menores que preferiam conversar apenas entre si.


Seria um desperdício não haver comunicação com com matemáticos, por exemplo, pois a matemática, para além dos seus usos, é guiada por um componente estético, por um conceito de beleza e de elegância que a maioria das pessoas desconhece.


O que move os grandes matemáticos e os grandes artistas, desconfio, é um sentimento muito semelhante de síntese e ordem. Os dois grupos teriam muito a dizer um ao outro, mas, até onde sei, quase não se falam. (No passado, o poeta Paul Valéry deu conferências para matemáticos e o matemático Henri Poincaré falou para poetas.)


Segundo Snow, com a notável exceção da música, não há muito espaço para as artes na cultura científica: "Discos. Algumas fotografias coloridas. O ouvido, às vezes o olho. Poucos livros, quase nenhuma poesia."


Talvez seja exagero, não saberia dizer. Posso falar com mais propriedade sobre a outra parcela do mundo, e concordo quando ele diz que, de maneira geral, as humanidades se atêm a um conceito estreito de cultura, que não inclui a ciência.


Os artistas e boa parte dos cientistas sociais são quase sempre cegos a uma extensa gama do conhecimento. Numa passagem famosa de sua palestra, Snow conta o seguinte: "Já me aconteceu muitas vezes de estar com pessoas que, pelos padrões da cultura tradicional, são consideradas altamente instruídas. Essas pessoas muitas vezes têm prazer em expressar seu espanto diante da ignorância dos cientistas. De vez em quando, resolvo provocar e pergunto se alguma delas saberia dizer qual é a segunda lei da termodinâmica. A resposta é sempre fria - e sempre negativa. No entanto, essa pergunta é basicamente o equivalente científico de 'Você já leu Shakespeare?'. Hoje, acho que se eu propusesse uma questão ainda mais simples - por exemplo: 'Defina o que você quer dizer quando fala em 'massa' ou 'aceleração'', o equivalente científico de 'Você é alfabetizado?' -, talvez apenas uma em cada dez pessoas altamente instruídas acharia que estávamos falando a mesma língua".


O que eu teria a dizer sobre ciência fica perto do zero. Por outro lado, como especialista na minha própria ignorância, posso discorrer sobre ela sem embaraços. Com as devidas ressalvas às exceções que devem existir por aí, estendo minha ignorância a todo um grupo de pessoas e me pergunto de quem seria a responsabilidade por sabermos tão pouco sobre as leis que regem o que nos cerca.


As respostas são previsíveis. Em parte, a responsabilidade é dos próprios cientistas, que não fazem questão de se comunicar com a comunidade não-científica; em parte é dos governos, que raramente têm uma política eficaz de promoção da ciência nas escolas; e em parte - e essa é a parte que mais me interessa- é nossa, das humanidades, que tomamos as ciências como um objeto estranho, alheio a tudo o que nos diz respeito.


A quase totalidade dos personagens de classe média da literatura e do cinema brasileiro contemporâneos pertence ao mundo dos artistas e intelectuais. São jornalistas, escritores (geralmente em crise e com bloqueio), professores (quase sempre de história, filosofia ou letras), antropólogos, viajantes (à deriva), cineastas, atores, gente de TV ou filósofos de botequim. Quando muito, um empresário aqui, um advogado acolá. Cientistas são pouquíssimos, se bem que no momento não me lembro de nenhum.


--> [LIB: Uma exceção que me ocorre agora é o filme O Maior Amor do Mundo, de Cacá Diegues, mas ainda que achássemos outras 10, sequer arranharíamos o argumento de Salles!]

É como se, do lado de fora das disciplinas criativas, não houvesse redenção. Em "Cidade de Deus", o menino escapa do ciclo de violência quando recebe uma máquina fotográfica e vira fotógrafo. Não parece ocorrer a ninguém -nem aos personagens, nem ao público- a possibilidade de ele virar biólogo, meteorologista ou mesmo técnico em ciência.


Uma das minhas obsessões é folhear a revista dominical do jornal "O Globo". Existe ali uma seção na qual eles abordam jovens descolados na saída da praia, de cinemas, lojas e livrarias, para conferir o que andam vestindo. No pé da imagem, informa-se o nome e a profissão da pessoa.


Acompanho essas páginas há um bom tempo, e estatisticamente o resultado é assombroso. Conto nos dedos o número de engenheiros, médicos ou biólogos que vi passar por ali. Eles não podem ser tão malvestidos assim. De duas, uma: ou são relativamente poucos, ou a revista prefere destacar as profissões que considera mais charmosas.


As duas alternativas são muito ruins, mas a segunda me incomoda particularmente, pois sei por experiência como é poderosa a atração exercida por algumas profissões com alto cachê simbólico.


Existem no Rio quatro universidades que oferecem cursos de cinema; no Brasil, são ao todo 28, segundo o Cadastro da Educação Superior do MEC. No ano passado, a PUC-Rio formou três físicos, dois matemáticos e 27 bacharéis em cinema.


Existem 128 cursos superiores de moda no Brasil. Em 2008, segundo o INEP, o país formou 1.114 físicos, 1.972 matemáticos e 2.066 modistas. Alimento o pesadelo de que, em alguns anos, os aviões não decolarão, mas todos nós seremos muito elegantes.


Segundo dados de um relatório do IEDI, a taxa de formação de engenheiros no Brasil é inferior à da China, da Índia e da Rússia, países emergentes com os quais competimos.


Compramos coisas que foram pensadas lá longe, as quais serão brevemente superadas por outras coisas que também não terão sido pensadas aqui. É um processo estéril. Escritores, cineastas e editores de suplementos dominicais se espantariam em saber que, na China, a proficiência em matemática desfruta de uma forte valorização simbólica.


Na Índia, um jovem programador de software se sente no topo do mundo.


Enquanto isso, como lembra o matemático César Camacho, diretor do IMPA, várias universidades brasileiras têm vagas abertas para professores de matemática, não preenchidas por falta de candidatos. A valorização das ciências entre nós é pífia. Sempre me espanto com a presença cada vez maior de projetos sociais que levam dança, música, teatro e cinema a lugares onde falta quase tudo.


Nenhuma objeção, mas é o caso de perguntar por que somente a arte teria poderes civilizatórios. Ninguém pensa em levar a esses jovens um telescópio ou um laboratório de química ou biologia? Centenas de estudantes universitários gostariam de participar de iniciativas assim.


É imprudente tomar uma decisão definitiva aos 18 anos de idade, mas é exatamente o que têm de fazer os alunos ao entrar na universidade - embora, como norma, eles não saibam para o que têm vocação.


Se em algum momento a vocação se manifesta, em geral o aluno e sua família consideram que é tarde. Circunstâncias econômicas ou psicológicas dificultam muito um ajuste de rota. (Começar de novo exige determinação férrea... Sei bem como é, porque foi o meu caso.)


É absolutamente certo que, neste momento, alguns milhares de jovens estão prestes a cometer o mesmo equívoco.


Muitos se revelarão apenas medianos ou preguiçosos, e é provável que a ciência não tenha como alcançá-los. Sem desmerecer os excelentes alunos de cinema, letras ou sociologia, é impossível negar que, para alguém sem grande talento ou dedicação, será sempre mais fácil ser medíocre num curso de humanas do que num de exatas.


Alguns desses jovens sem orientação provavelmente terão inclinação para as ciências e ainda não descobriram. É preciso criar mecanismos que os ajudem a escolher o caminho certo. Infelizmente, as artes e as humanidades, pelo menos por enquanto, não colaboram muito. Ao contrário. Nós disputamos esses jovens e, infelizmente, até aqui estamos ganhando a guerra.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Crítica à Marcelo Gleiser

Em terra de cego, quem tem um olho é rei. Acho que o sucesso que o Marcelo Gleiser faz por aqui como divulgador científico tem a ver com não haver no Brasil uma divulgação científica de alto nível (DEFINIÇÃO: Alto nível = Sagan, Asimov, Penrose, ...).

Li e gostei muito d'A Dança do Universo. Depois que li outros livros, pecebi que os exemplos que ele dá estão em qualquer livro, que não há ali nenhum ponto de vista, nada de novo. Como escritor, ele é tão competente quanto um tradutor (quer dizer: tem lá seu talento, é claro, mas não é propriamente um autor). O prazer que me deu a leitura se explica pela minha ignorância. Suporte para essa idéia é eu ter lido anos depois O Fim Da Terra E Do Céu, Cartas A Um Jovem Cientista, e parte dos Retalhos Cósmicos... Tentei ler as colunas na Folha também, mas me entediei logo: tudo lugar-comum.

Mas eu gosto do trabalho dele. Faz algo que deve ser feito no Brasil. Quando eu pensei em ser físico aos 14 anos de idade, me preocupava a idéia de que o único físico vivo que eu conhecia era o Stephen Hawking. Eu não sabia o que os físicos faziam. Tinha a impressão de que não havia físicos no Brasil. Talvez hoje, os programas do Fantástico que o Marcelo fez ajude alguém a pelo menos saber que há pesquisas sendo feitas hoje. Até que apareça algo melhor, o Marcelo Gleiser faz um excelente trabalho aqui...

... aqui, só aqui!

Por aí pelo mundo, não há muito espaço para os lugares-comuns. Não vi o novo livro dele, mas li reportagens sobre o assunto, declarando a tese principal, a de que talvez não exista uma Teoria Unificada e que talvez esta busca esteja fadada ao fracasso. (Aliás, pelas resenhas, supus que não havia idéia nova: o que ele afirma parece basicamente idêntico ao que Lee Smolin afirma na sua crítica à teoria de cordas.... mas eu de fato não sei, é só um preconceito!)

Como disse, eu não li o livro, de modo que não posso mesmo falar sobre isso. Mas escrevi esta postagem para dar este link aqui. É uma crítica feroz de Lubos Motl ao livro (e ao próprio Marcelo, que tem suas publicações analisadas por Lubos, o que resulta em um comentário maldoso: "O cara é um idiota. É um exemplo da fábula 'A Raposa E As Uvas', em que uma raposa tenta pegar três uvas, falha, e decide que as uvas eram azedas. Gleiser afirma que tendo ele próprio fracassado como um indivíduo, toda a física deve fracassar também.").

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Advertência

Nos romances e novelas, freqüentemente se encontra alguma variante da seguinte advertência:
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou eventos reais é mera coincidência.
Pois bem, livros de divulgação científica deveriam conter algo semelhante... algo como:
Esta é uma obra de divulgação. Como tal, faz uso de analogias e simplificações, que não qualificam o leitor a discutir os fundamentos da teoria. O propósito desta obra é tão somente convidar o leitor ao estudo aprofundado para, só depois desse estudo criterioso, nos ajudar no entendimento da Natureza, discutindo as idéias aqui introduzidas.
Seria até bom que esse tipo de aviso fosse obrigatório, como aqueles de saúde em maços de cigarro...

domingo, 22 de junho de 2008

O cientista apaixonado

O sentimento de paixão é bom para o apaixonado. Mas nem sempre o é para o objeto de sua paixão.

Também é assim com o sentimento de paixão com que o cientista encara o seu estudo. Os mistérios convidativos e a beleza da Natureza enchem os corações dos pesquisadores, que têm o seu momento de gozo no momento da descoberta.

O dito popular é que a paixão é cega. Essa cegueira faz com que o cientista pense ser a ciência algo tão belo que não precisa de adornos ou propaganda. Com isso, perdemos mentes para a religião que adorna seus deuses e acolhe seus seguidores.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Conselhos a um jornalista

Na edição de Abril/2008 da SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, J.R. Minkel entrevista o físico H. Jeff Kimble, do California Institute of Technology sobre teletransportes. Após algumas perguntas sobre os avanços em teletransportes quânticos [1, 2], o entrevistador tenta (bravamente !) uma guinada no assunto:

[MINKEL] Mudando de assunto - esse novo filme, Jumper, é sobre um menino e outro personagem que se teletransportam de um lugar para o outro.

[KIMBLE] Não sabia disso.

[MINKEL] Se você assistir a X-Men 2, o Noturno...

[KIMBLE] Também não assisti a X-Men.

[MINKEL] Você assiste à série Heroes?

[KIMBLE] Não. Assisto a alguns jogos de futebol americano.

[MINKEL] Mas conhece o capitão Kirk...

[KIMBLE] Gostaria de lhe dar um conselho. Não fale sobre teletransportar pessoas em seu artigo. Existe um pioneirismo incrivelmente emocionante na ciência atual que não existia há 15 ou 20 anos [...] Há experiências acontecendo que são realmente estimulantes.

sábado, 13 de outubro de 2007

Dia das Crianças na Estação Ciência

Ontem foi o dia das crianças e eu levei a minha pra visitar a Estação Ciência. Por causa da data, a entrada era gratuita e o local estava cheio de crianças. Eu já havia visitado a Estação outras vezes, mas desta vez foi muito melhor: todos os experimentos funcionaram bem e, além disso, há coisas novas como uma sala em que somos submetidos à um terremoto de grau 5 na escala Richter. Brinquei de gerador de Van der Graff e tive medo de me meter com a bobina de Tesla. Saí de lá suado, rouco, cansado e feliz. Como qualquer outra criança que tira o dia para brincar.

E quando vou nesses lugares, eu penso: "Ciência é massa! Como pode não gostarem?" E me lembro da minha prima de 8 anos que me disse, certa vez: "Eu odeio física!". Eu perguntei: "Você já viu física?!". Ela disse que não, mas que já odiava. E eu fico muito triste quando eu vejo isso... Mas ontem, eu vi crianças sendo apresentadas à ciência propriamente.

À certa altura, eu conversava com meus amigos sobre um dos experimentos da Estação (uns feixes de laser indicavam o caminho da luz num olho normal, hipermétrope e míope, depois mostrando como os óculos resolvem o problema). E um garoto.... devia ter seus 10 anos, não sei.... o moleque escutava a conversa atentamente e eu perguntei pra ele se ele entendia aquele experimento. Ele disse que não e eu expliquei. Quando avistou sua mãe, ele disse, feliz: "Mãe! Eu entendi como funciona isso!". E explicou à sua mãe. Mas não ouvi a explicação, saí de perto para dar-lhe confiança de continuar sem ter um "árbitro" julgando suas palavras. Afinal, ele já tinha entendido o principal: É divertido.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

O Mundo de Beakman

Saudades do Beakman... Vejamos um em que Paulo Curioso, de Laboratoriópolis pergunta "Como os cientistas descobrem as coisas?". Eis a exposição a la Beakman do método científico:



No Beakmania, uma seqüência de respostas curtas a várias perguntas. Abaixo, ele responde a: "Chiclete é feito de que?"; "Quanto tempo dura uma nota de um dólar?"; "É verdade que os grilos escutam pelos joelhos?"; "Lesma dorme?" e "Por que choramos ao cortar uma cebola?". Com vocês, o primeiro, o único, o Beakman:

terça-feira, 24 de julho de 2007

Viagem ao Centro da Matéria

Nos tempos de Rutherford, as partículas eram aceleradas na direção de um material e um aluno era encarregado de contar quantas passaram direto, voltaram ou o quanto foram desviadas.

Hoje, mesmo um empenhado estudante não é capaz de monitorar os resquícios das colisões dos grandes aceleradores de partículas. O Grande Colisor de Hádrons (LHC) entrará em funcionamento em maio do próximo ano (se não adiarem de novo.... estava previsto para novembro de 2007...)

Para lidar com a enorme quantidade de dados gerados, precisaremos de um supercomputador, e o modo de fazer isso é através de uma rede global (grid). O Brasil contribuirá nessa empreitada com o seu Centro Regional de Análise de São Paulo (SPRACE).

O SPRACE desenvolve muitos outros projetos. Entre eles, a divulgação da física de partículas. Nas escolas, vemos tabelas periódicas espalhadas por toda parte. Há tabelas periódicas até em agendas não-escolares. Mas já sabemos mais sobre a matéria há mais de meio século! Sabemos, por exemplo, que os prótons têm uma estrutura interna e que eles interagem com os neutrôns através da força forte. O nosso conhecimento atual da estrutura da matéria é conhecido como Modelo Padrão das Interações Fundamentais e um dos projetos do SPRACE é por esta informação num cartaz e divulgá-lo para todas as escolas brasileiras até o fim deste ano. [O projeto chama-se "Um cartaz em cada escola". [Clique para ampliar].


Como entregar um cartaz bonitinho não é suficiente para ensinar física, o SPRACE mantém o site Estrutura Elementar da Matéria, onde há um fórum de discussão para responder as dúvidas de alunos sobre o assunto.

Espero que os professores das escolas brasileiras se encarreguem de explicar a importância deste estudo para os alunos que tendem a queixar-se com seus amigos, freqüentemente via MSN, sobre a inutilidade da física. (NOTA: a internet como conhecemos hoje foi desenvolvida no CERN, um laboratório de física nuclear, onde está localizado o LHC).

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Notícias curtas

Manter isso atualizado e conduzir o doutorado é tarefa além de minhas capacidades, às vezes...

... Mas há muita coisa legal pra ser comentada. Devido à falta de tempo, vai assim, como notícia relâmpago:
  • Na última Ter, 10 de Julho, Brian Greene e Janna Levin publicaram um troço legal! Propõem usar a energia de Casimir devido ao tamanho finito das dimensões extras pra explicar por que elas ficam encolhidinhas. E por que há somente 4 expandindo. De quebra, argumentam que essa energia seria observada em 4dim como uma energia escura.
  • Estou cada vez mais inclinado a crer que não somos em nada especiais... Duas coisas:
  1. Bernd Heirinch e Thomas Bugnyar fizeram uns experimentos com corvos... Botavam a comida de tal forma que o bicho só podia pegar se executasse uma seqüência de movimentos bem definidos. A configuração da coisa era tal que não fazia parte da experiência cotidiana deles, ou seja, era a primeira vez que viam tal "problema" diante de si. Os corvos olhavam para a comida por um tempo considerável e depois faziam a seqüência certinha. Ou seja, NÃO era na base da tentativa-e-erro! Eles planejam, raciocinam, é o que dizem os autores. Há mais experimentos que eles fizeram.... Isso é a 5ª reportagem listada em [1]
  2. Na Scientific American desse mês, descrevem um experimento feito com ratos. Os ratos tinham a opção de entrar ou não no "jogo". Se não entrassem, ganhavam um POUCO de comida. Se entrassem, mas não conseguissem o objetivo do jogo, não ganhavam nada, nem perdiam. Se entrassem no jogo e conseguissem atingir o objetivo, ganhavam MUITA comida. E não é que os desgraçados só participavam do jogo quando era fácil!? Chamam isso de "metacognição", a habilidade de avaliar suas próprias capacidades, seus próprios conhecimentos.
  • Por último, mas não menos importante: O Brasil ocupa agora o 15º lugar em publicação científica. Passamos Suécia e Suíça, que estavam na frente em 2005. O presidente da CAPES espera que subamos mais uma posição, passando a Rússia em dois anos, ou menos.
É isso.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Transplante de genoma

Na semana passada, a revista Science publicou um artigo entitulado "Transplante de genoma numa bactéria: Transformando uma espécie em outra", de pesquisadores do Instituto Craig Venter (EUA). Introduziram o material genético de uma espécie em outra e conseguiram obter uma cópia do original no fim do processo. Agora, se conseguirem montar um genoma num laboratório, já sabem como transformá-lo num ser vivo. É uma questão de manipulação de átomos, parece.

Houve um tempo em que haviam deuses responsáveis para segurar os céus, levar o Sol de uma ponta a outra da abóbada celeste, fazer chover, etc. Destes, na nossa cultura, restou um só, que seria responsável por criar o Universo e conversar conosco, ouvindo nossas lamúrias. A gente viu que Ele não precisa ficar empurrando o Sol todo dia. Basta que Ele tenha escrito, de uma vez por todas, bem no início, que as coisas funcionariam se atraindo com uma força cuja intensidade varia com o inverso do quadrado da distância. Também não precisa conversar com o Sol, pois este não tem vida. Regido por leis bem determinadas, Deus apenas faria o trabalho de vê-lo funcionar, o que não parece um trabalho muito.... muito.... digamos, Divino.

Eu sei que essas leis não se aplicam aos seres humanos, ou mesmo aos seres vivos em geral, já que somos imprevisíveis, parecendo ter livre arbítrio. Entretanto, não houve já um tempo de tanta ignorância em que o Sol parecia ter vondade própria ao passar mais tempo no céu algumas vezes e menos tempo em outras? Em que o momento da passagem de um cometa era tão arbitrário quanto o momento em que alguém acende um cigarro?

Será possível chegarmos à tal nível de compreensão dos mecanismos da Natureza que a alma teria a mesma função em relação à nós como tem Deus hoje para com o Sol?

Fico triste quando a possibilidade de sermos somente um punhado de átomos aparece na minha cabeça como a mais provável. Mas minha tristeza não é argumento para refutar o pensamento... Mas há algo de especial em nós: é extremamente improvável que a disposição de átomos que está em você agora seja reproduzida em algum outro momento ou lugar. Talvez haja coisas que somente esta precisa configuração possa fazer do modo como faz. É necessário, então, aproveitar este arranjo aleatório de átomos antes que seja destruído. (Sabemos que, cedo ou tarde, são todos destruídos...)

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Pálido Ponto Azul

Um trecho do livro "Pale Blue Dot", de Carl Sagan:



A idéia do livro, surgiu assim:

As naves Voyager 1 e 2 foram lançadas pelos EUA em 1977 com a missão de fotografar as luas e os planetas do sistema solar.

Quando a Voyager 1 passou por Saturno, por volta de 1981, Carl Sagan sugeriu que tirassem uma foto da Terra. Alguns foram contra a idéia, já que, àquela distância, não obteríamos nenhuma informação relevante sobre nosso planeta, que apareceria como apenas um ponto...

Mas foi justamente pelo fato de que a Terra apareceria como um ponto que Carl Sagan sugeriu a foto. Nos daria uma idéia do nosso tamanho. Uma lição de humildade, talvez. Não teve jeito: a idéia foi recusada.

Esperaram mais. Em 1989, quando as espaçonaves já haviam passado de Plutão e não havia mais fotos a tirar, decidiram direcionar as câmeras para a Terra. (Contribuiu também o fato de que alguns dos técnicos envolvidos no projeto seriam remanejados para outros trabalhos... Seria naquele momento, ou nunca mais!)

A foto foi tirada e é conhecida como "The Pale Blue Dot", já que a Terra aparece como um pálido ponto azul.

domingo, 17 de junho de 2007

Roda-viva na internet

O Roda-Viva, programa transmitido pela TV Cultura às segundas-feiras às 22hs30min, poderá ser visto via internet! Será possível ter acesso ao acervo do programa, bem como a versão em texto das entrevistas.

A notícia [cf. 1, 2, 3 e 4] foi divulgada na última quinta-feira. A criação do Portal Roda-Viva é um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Para o desenvolvimento do portal e transcrição das fitas, cerca de R$ 280 mil foram investidos pela FAPESP.

Desde já, indico a entrevista que o Lima Duarte deu há uns meses atrás! Lembrei agora do Saramago! E... Deixa pra lá! São tantas... Boa notícia, essa!

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Mundo relativístico

O site spacetimetravel.org (uma versão em inglês do projeto original, em alemão) apresenta simulações de computador para muitos efeitos relativísticos. Por exemplo, a visão de um observador próximo à velocidade da luz.

Além disso há coisas sobre relatividade geral, como o buraco negro. A imagem abaixo, por exemplo, é o que veríamos ao olhar diretamente para um BN:


Mais do que isso, o site contém uma seqüência de imagens de uma (suposta) viagem rumo à um buraco negro. As fotos apresentam o que veríamos a diferentes distâncias e em diferentes direções: A) Olhando diretamente para o buraco negro; B) Olhando para o lado, numa direção perpendicular à anterior e C) Olhando para trás, na direção contrária ao item A.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Ciência interessante.


"Quase 40% da população demonstra pouco interesse por assuntos de ciência e tecnologia por não entenderem do que se trata".

Ao fazer divulgação científica, devemos, mais do que dar informações, encantar o interlocutor. Nesse processo, uma explicação precisa de um fenômeno é desnecessária e maléfica. Uma vez convencido de que ciência é um assunto interessante, a própria pessoa busca por mais detalhes.

Um outro trecho do artigo:

"Do total da amostra de 2004 entrevistas, 27% apontaram que os jornalistas são os que inspiram maior confiança como fonte de informação. Logo em seguida vêm os médicos com 24%; cientistas que trabalham em universidades com 17%; religiosos, 13%; representantes de organizações de defesa do consumidor com 7%; cientistas que trabalham em empresas, 4%; escritores, 3%; militares, 3%; políticos, 1%".

Incrível!! É um lugar comum dizer que a imprensa é parcial e sensacionalista. E tanto se mostra casos de erros médicos, com mortes e aleijamentos. A medicina diz que o café faz mal. Depois, que faz bem... As leis da mecânica formuladas por Isaac Newton há 320 anos continuam valendo, para todos os corpos que vemos nas proximidades da Terra.

sábado, 28 de abril de 2007

Sensacionalismo científico

Dia desses ouvi no rádio: "Cientistas descobrem a criptonita". Era a manchete. Depois, falaram mais um bocado. Disseram que "ao contrário do material que enfraquece o Super-Homem, aquele encontrado pelos cientistas não é verde".

Fiquei curioso. Em que sentido era "criptonita"? Pesquisei um pouco mais e descobri que o material a que se referiam é branco, tem a textura de um pó, não é radiativo e foi descoberto na Terra. A criptonita é verde, sólida, radiativa e extraterrestre.

Pior que isso, só as revistas Superinteressante e Galileu, cujas edições de dezembro sempre trazem a manchete: "A verdadeira história de Jesus Cristo". Ou variações do mesmo tema sem sair do tom.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Visita ao Planetário

No domingo (chuvoso) de páscoa, visitei o planetário do Ibirapuera. A única parte proveitosa foi aquela em que mostraram o céu que veríamos em São Paulo não fosse a poluição. Todo o resto, um martírio sem fim. Informações acavaladas e sem sequência. Nada inspirador.

Não são as informações em si. É vomitá-las todas em 60 minutos que torna a coisa extremamente desinteressante, cansativa e desagradável. Em apenas uma hora, deveriam aproveitar o interesse das pessoas que pagaram para assistí-los (num domingo - chuvoso!! - de páscoa) para mostrar a beleza da ciência e não cuspir números e nomes. Será que alguém ficou particularmente fascinado ou pensou em ser cientista quando descobriu quem foram Ejnar Hertzprung e Henry Norris Russel?? Francamente!!

E havia crianças assistindo aquilo...