Hoje é o Dia do Amigo! O curioso é que o dia foi inventado por um inimigo íntimo dos brasileiros: um argentino. Ele se inspirou na chegada do homem à Lua (20 de Julho de 1969) e viajou na batatinha ao considerar aquilo um primeiro passo para uma amizade com outros seres do Universo.
Falando de amizade, lembrei do Fedro, do Platão. É um diálogo em que Fedro lê o discurso de Lísias para Sócrates. O ponto que Lísias defende é que apaixonar-se é uma coisa ruim e traz ruínas a um homem. Pelo contrário, um amigo é muito mais valioso. Depois, Sócrates discute longamente o tema.... Recomendo!
Mas, como hoje é Dia do Amigo, focarei no discurso de Lísias. Lá, ele diz:
"Aquele que não é apaixonado [...] não sentirá inveja dos que cercam o amado; pelo contrário, odeia os que não querem ter convivência com ele, supondo que o desprezam, persuadido de que este pode ter proveito com o convívio dos bons amigos. [...] Ademais, a concupiscência de muitos amantes tem por alvo preferido muito mais a beleza do corpo do que o caráter e as condições pessoais. Em conseqüência disto, é sempre duvidoso que eles, uma vez satisfeito o desejo, esteja dispostos a continuar a amizade. [...] Aqueles a quem o amor não perturba, já antes haviam iniciado uma mútua amizade; não é provável, pois, que nesses a amizade diminua ou desapareça logo que o desejo se satisfaz. Ao contrário, na mútua amizade encontrarão outros motivos e garantias para novos favores."
2 comentários:
Prefiro pensar que o amor pode ser visto de outra perspectiva, traduzida a partir de outro trecho de Fedro que aqui deixo para ti...
"Só então a alma do amante segue, com receio e pudor aquele que ama. (...) Se antes, os seus amigos ou outras pessoas lhe denegriram esse sentimento, afirmando ser vergonhoso um tal consórcio amoroso, e se esses conselhos o afastaram do seu amante, o tempo que passa, a idade, a necessidade de amar e de ser amado, levam-no, de novo, aos braços do amante. (...) Quando o amado recebe o amante, que desfrutou da sua doçura e do seu convívio, compreende que o afeto de seus amigos e parentes em nada é comparável ao de um amante inspirado pelo delírio. Assim vivem, se vêem e se tocam, ora nos estádios, ora em outros lugares. Assim nasce essa emanação que Júpiter, quando amara Ganípedes, chamou de desejo. Esse desejo se insinua ao amante, e quando este se encontra cheio dele, transborda. (...) Ele ama, mas sem saber o quê. Nem sabe, nem pode dizer o que aconteceu consigo; assim como um contaminado de oftalmia desconhece a origem de seu mal, assim também o amado, no espelho do amante, viu-se a si mesmo sem dar por isso. Na presença do amado a dor do amante se esvai, e o mesmo sucede com este na presença daquele. Quando o outro está longe, o amante sente tristeza, e da mesma forma esta sacode o amado, porque ele abriga o reflexo do amor - acreditando, contudo, que se trata de amizade, e não de amor..."
Sim. Eu também prefiro assim. Eu disse que o tema é profundamente debatido e que o trecho que escolhi para transcrever tinha como razão de ser o "dia do amigo",e não minha opinião pessoal.
No "dia do amante", escolho outro trecho. Talvez de outros livros... Ou não... Rsrsrs
Aliás, deixo aqui uma sugestão de leitura, que lembrei agora: A crônica "O Dia da Amante", de Luís Fernando Veríssimo, no seu livro "Comédia da Vida Privada".
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