quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Preconceitos sobre o preconceito

Há quem diga que os preconceitos são maléficos. Não são. A habilidade de julgar alguma coisa antes de conhecer é fundamental para nossa segurança em muitos casos. É assim que tomamos decisões. Não conhecemos o futuro. Baseamos-nos tão somente nos nossos pré-julgamentos. E estes últimos baseiam-se em experiências anteriores que tivemos, ainda que tais experiências não tenham sido nem vastas, nem completas e, muitas vezes, nem livre de enganos.

O problema começa quando estes pré-julgamentos são usados para justificar o injustificável. Você é LIVRE para ACHAR que alguém que vc acabou de conhecer não é capaz, que é sujo, ou perigoso, ou que é estúpido, corrupto, etc. Mas vc NÃO pode agir COMO SE ele fosse tudo isso! Devemos ter em mente que preconceitos são preconceitos, apenas. Que são esboços sujeitos a reparos. Devemos considerar a possibilidade de estarmos errados em nossa hipótese inicial.

Recentemente, James Watson, que fora um dia aclamado como um "benfeitor da humanidade" (em princípio, condição necessária para se ganhar um Prêmio Nobel), foi imensamente criticado por ter declarado que negros são menos inteligentes do que brancos por razões genéticas. O deslize de Watson é evidente: Como uma autoridade no assunto, sua opinião pode ser tomada como um fato científico e justificar maltratos maiores à gente que já sofre muito.

O preconceito sobre o preconceito é tanto que há preconceitos que têm o mesmo caráter daquele racial, mas é, entretanto, apoiado pelo povo. Para dar um exemplo recente, o filme Tropa de Elite retrata uma polícia violenta e corrupta. Quando alguém sai do filme dizendo que os policiais são violentos e corruptos, essa opinião não é atacada. O mesmo para os políticos corruptos. Ninguém acha absurdo a classe de piadas que tem como elemento central o fato de que "não existe político honesto", ou que "todos os políticos vão para o Inferno". Por outro lado, o filme Cidade de Deus retrata uma favela violenta e cruel. Mas não se diga que favelados são violentos e cruéis. Piadas sobre isso são chamadas "humor negro", ou "de mal gosto".

É claro que não estou defendendo aqui que as pessoas que vivem em favelas são todas ligadas ao tráfico. O argumento é justamente o inverso. Quero convencê-los de que xingar e criticar toda a classe de políticos e policiais deve ser condenável tanto quanto falar da favela quando se vê o caso de um traficante. O mesmo para atores, ou cantores de axé, ou negros, ou playboys, ou gays, ou...

Novamente: Preconceitos não são ruins. Ruins são os usos. Xingamentos, violências e humilhãções são coisas ruins quer estejam baseadas em preconceitos, ou não.

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