quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Os Efeitos Colaterais de uma Maçã.

Em diversos sítios [1, 2, 3] há uma crônica de Luís Fernando Veríssimo sobre a curiosidade humana, que começou com uma mordida numa maçã que Deus proibira e avançou a tal ponto que gastamos cerca de R$ 10 bilhões para construir um túnel de quase 27 km para chocar dois prótons (coisa que a maioria das pessoas nunca viu, e provavelmente nunca verá) só para ver se de lá surge uma partícula chamada Higgs (que ninguém nesse planeta viu até agora). Além disso, com o Grande Colisor de Hádrons (LHC) pretende-se descobrir [4, 5, 6] porque há mais matéria do que antimatéria (novamente, coisa que poucos já ouviram falar.... depois do livro do Dan Brown, o termo ficou até mais familiar para alguns, mas estes continuam a saber nada sobre o assunto). E otras cositas más (supersimetria [7], buracos negros, plasma de quarks-glúons, etc), mas quero falar é sobre a crônica do Luís Fernando Verísimo.

É claro que somente ficamos sabendo o que o Veríssimo pensa sobre o assunto pq contamos hoje com um sistema de troca de informação chamado internet, que foi desenvolvido na Organização Européia de Pequisas Nucleares (CERN), local onde o povo estuda essas coisinhas que ninguém vê. Mas eu não vou repetir toda aquela história de ciência básica, nem recontar a velha história de Michael Faraday perguntando à rainha da Inglaterra pra servem os bebês, muito menos pesquisar tudo o que foi desenvolvido à partir de idéia que eram, à princípio, apenas curiosidade, ou 'vaidade científica', como diz o Veríssimo... Abaixo, reproduzo na íntegra essa crônica, que tirei de uma das fontes que dei acima:

A Doença da Curiosidade - (Luís Fernando Veríssimo)

Santo Agostinho escreveu que entre as tentações, uma das mais perigosas era a “doença da curiosidade”, que nos levava a tentar descobrir os segredos da natureza, “aqueles segredos que estão além da nossa compreensão, que em nada nos beneficiarão e que o Homem não deve tentar saber”. Foi, em outras palavras, o mesmo conselho que Deus deu a Adão e Eva no Paraíso, advertindo-os a não comer o fruto da árvore do saber para não contrair a doença. Eva – sempre elas – não se agüentou e comeu o fruto proibido. Resultado: o Homem perdeu o paraíso da ignorância satisfeita e está, desde então, tentando descobrir que diabo de lugar é este em que o meteram, esta bola girando entre outras bolas num espaço imensurável, sem manual de instrução. Santo Agostinho e outros tentaram nos convencer a aceitar os limites da fé como os limites do conhecimento. Tentar compreender mais longe só nos traria perplexidade e angústia e nenhum benefício. Mas a doença já estava adiantada demais.

A fase mais aguda da doença da curiosidade chegou com a inauguração, esta semana, num subterrâneo na fronteira da Suíça com a França, do tal acelerador gigante que jogará prótons contra prótons em condições inéditas para tentar reproduzir a origem de tudo, liberar uma subpartícula atômica que até agora só existe em teoria e chegar mais perto de descobrir como funciona o Universo. Quer dizer, os descendentes de Adão e Eva pretendem levar a rebeldia do casal ao máximo e espiar por baixo do camisolão de Deus. Segundo alguns, o que o novo acelerador também pode trazer é um castigo terminal pela desobediência humana: o desaparecimento num buraco negro não só dos cientistas envolvidos e de alguns suíços e franceses na superfície, mas do mundo todo. Com você e eu, que não temos nada a ver com a história, atrás.

O cataclismo é improvável, mas mesmo que a insubmissão do Homem não seja punida, resta a outra questão posta por Santo Agostinho, a do benefício. Que proveito, salvo para a vaidade científica, trará descobrir o que pretendem? Quanto mais se sabe sobre o funcionamento do Universo mais aumentam a perplexidade e a angústia por não se saber mais, por jamais se poder compreender tudo – pelo menos não com este cérebro que mal compreende a si mesmo.

Mas a toxina daquela fruta era forte e ainda age no organismo. E a doença é incurável.

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... Um texto muito bom, como são sempre os textos do Veríssimo. Mas nos deixa com a idéia de que a ciência básica é apenas um capricho... Depois que provamos daquela maçã, não só tivemos em nós a curiosidade despertada, como também a vergonha e talvez a auto-crítica. O homem quase que instintivamente analisa seu próprio comportamento em sociendade e, para ver até onde nossas emoções podem chegar, criamos imagens e textos que nos provocam a alma. Seguindo a mesma linha de raciocínio, eu me pergunto se não seria a arte, a música e a literatura também apenas um fruto da 'vaidade humana', ou seja, mais um efeito colateral da maçã... Afinal, um livro como Comédias da Vida Privada não tem pretensões de curar doenças. Apenas nos conduz à uma viagem pesoal através dos nossos próprios sentimentos, dos comportamentos do 'homem civilizado', e das nossas emoções. E quem de nós viu isso? Quem de nós viu o amor mais do que a um próton? Penso que não só os cientistas, mas todos os seres humanos estão condenados pela mordida que Adão e Eva deram naquela maçã, quando ainda eram apenas inocentes macacos.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

LHC

Foi posto hoje em funcionamento o Grande Colisor de Hadrons (Large Hadron Collider - LHC). Abaixo, um rap que resume bem as atividades do LHC.