sábado, 28 de abril de 2007

Sensacionalismo científico

Dia desses ouvi no rádio: "Cientistas descobrem a criptonita". Era a manchete. Depois, falaram mais um bocado. Disseram que "ao contrário do material que enfraquece o Super-Homem, aquele encontrado pelos cientistas não é verde".

Fiquei curioso. Em que sentido era "criptonita"? Pesquisei um pouco mais e descobri que o material a que se referiam é branco, tem a textura de um pó, não é radiativo e foi descoberto na Terra. A criptonita é verde, sólida, radiativa e extraterrestre.

Pior que isso, só as revistas Superinteressante e Galileu, cujas edições de dezembro sempre trazem a manchete: "A verdadeira história de Jesus Cristo". Ou variações do mesmo tema sem sair do tom.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Nova interação fundamental?

De acordo com o modelo que temos para descrever o Universo, há 4 interações fundamentais. Três delas (eletromagnética e as nucleares forte e força) são descritas num mesmo arcabouço, denominado Modelo Padrão das Interações Fundamentais. A quarta força é a gravidade.

No caminho para uma descrição unificada da natureza, a dificuldade é incluir a gravitação no modelo (as três outras forças podem ser descritas quanticamente, enquanto a gravitação não possui uma descrição quântica satisfatória*).

Acontece que há algumas décadas um outro ingrediente surgiu. Nossas observações mostram apenas 1% da massa que nosso Universo deveria ter. Um explicação para isso, é que 99% é feito de um tipo especial de matéria que não podemos enxergar. Denominamos este ente desconhecido de "matéria escura"... Como estudá-la, já que não podemos vê-la?

Algumas observações astronômicas podem nos dar auxílio nesta empreitada. Observa-se, por exemplo, algumas emissões de raios gamma, bem como de elétrons e pósitrons além do esperado. Uma proposta recente foi feita para explicar estes dois fenômenos:

As "partículas escuras" (invento e uso este termo até que me digam um melhor) interagem entre si através de uma força até então desconhecida por nós. Seria a "força escura" (de novo :-o). No processo de interação, as partículas escuras emitiriam um elétron e um pósitron. A radiação gamma seria explicado por um choque entre matéria escura e antimatéria escura.

Esta nova força tem características próprias (não agiria na matéria comum, para dizer o mínimo) e, portanto, deve ser adicionada à nossa lista, sendo um quinto tipo de interação fundamental. Um passo para trás no nosso caminho para a unificação...

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(*) Para quantizar a gravitação, temos atualmente duas propostas principais: Teoria de Cordas e Gravitação Quântica de Laços. A primeira não tem evidências experimentais. A segunda, nem experimentais, nem teóricas.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Simetrias do raciocínio

Considere a seguinte situação: Um homem cai do 13° andar e sobrevive. Não falta quem diga que foi, obviamente, um milagre e que isso é uma evidência da existência de Deus, que foi Ele, o próprio Deus, quem salvou a criatura da morte certa..... A palavra "milagre" é usada neste caso por tratar-se de um acontecimento extraordinário, onde as chances para ocorrência são mínimas. Este uso é aceitável para muitos.

A mesma palavra deveria aplicar-se a um outro episódio. Imagine quão improvável é que dois aviões se choquem em pleno ar. Um acontecimento desses, deveria, por simetria de raciocício, ser chamada também de "milagre". Diríamos que foi o próprio Deus quem bateu os aviões. Este segundo uso é inaceitável para as mesmas pessoas que tão prontamente aceitaram o uso anterior.

Outro caso. Nenhuma mãe diz que leva o filho de 5 anos para o vestiário feminino por que o garoto será um garanhão. Dizem que a criança nem entende o que se passa. Tal raciocínio deveria aplicar-se também às filhas... Porém, estas mesmas mães não aceitariam que o pai levasse a filha de 5 anos ao vestiário masculino.

E mais, até. Imagine uma mãe passeando com a filha pela praça. A menina deixa cair algo. Sendo loira a garotinha, gritaríamos: "Ei, loirinha! Você deixou cair, ó!". A mãe sorriria e agradeceria a ajuda. Sendo negra a garotinha, diríamos, por simetria "Ei, negrinha! Você deixou cair, ó!". As mães que se incomodariam com isso jamais admitiriam que são preconceituosas, quando o são.

E tantos outros exemplos demonstram os preconceitos que, se perguntados, dizemos não ter.

sábado, 21 de abril de 2007

Mecânica quântica e Realidade

O que chamo de "realidade objetiva" é o seguinte: As coisas existem mesmo quando não observadas.

Isso é uma questão antiga. Muitas vezes apresentada assim: "Uma árvore cai no meio da floresta e ninguém está por perto. A queda fez barulho?" Se a realidade for algo subjetivo, somente faz sentido perguntar-nos sobre aquilo que observamos e que determinado fenômeno só acontece realmente quando é observado. Note, entretanto, que "observador" não é, necessariamente o homem, podendo ser uma câmera de vídeo, ou algum equipamente que guarde aquela informação de modo irreversível. Ou seja, nada tem a ver com a "consciência" humana.

A coisa interessante é que a revista Nature desta semana contém um artigo que afirma ter mostrado experimentalmente que a tal realidade objetiva pode não existir. Para continuar falando disso, uma rápida digressão:

A não-localidade é a suposição de que um evento pode influenciar, instantaneamente, um outro que esteja arbitrariamente distante. O paradoxo EPR, proposto por Einstein, Podolsky e Rosen, sugeria que a mecanica quântica era não-local. Estes autores argumentaram que isto seria uma falha na teoria quântica, já que nenhum sinal poderia ser transmitido com velocidade superior a da luz.

Em 1964, entretanto, o irlandês John Bell mostrou um modo de verificar a existência da não-localidade. O experimento foi realizado na década de 80 pelo francês Alain Aspect, que mostrou que realmente a mecânica era não-local, mas que isso não violaria o postulado de que nenhuma informação pode ser transmitida à uma velocidade maior do que a da luz. Ou seja, há , de fato, uma correlação entre dois sistemas separados, mas essa correlação não pode ser utilizada para trasmitir informação de um ponto para outro do espaço-tempo (o melhor lugar onde eu vi isso discutido foi no livro do prof. Mysés Nussenzveig, Curso de Física Básica vol.04).

Um resultado semelhante ao de Bell, mas desta vez focado no aspecto "realidade" da mecânica quântica, foi obtido pelo físico norte-americano Anthony Leggett (premio Nobel de física em 2003 por suas contribuições no estudo da supercondutividade e superfluidez). Tal resultado permitia uma verificação experimental da realidade objetiva. O artigo de que falei da Nature descreve um experimento (feito pela equipe de Anton Zeilinger e Markus Aspelmeyer) no qual concluiu-se que a não-localidade não é compatível com a realidade objetiva. Como a não-localidade já havia sido demosntrada, a realidade corre perigo...

É importante chamar atenção ao fato de que estes resultados não justificam as fantasias loucas que baseiam-se na mecânica quântica, como a "Lei da Atração", sobre a qual falei no post anterior.

Para ler mais sobre este assunto interessantíssimo, sugiro algumas referências: [1], [2], e [3].

quinta-feira, 19 de abril de 2007

O Segredo - o filme

Assisti O Segredo. Só uma parte do mesmo, na verdade, pois tudo o que há para dizer é dito em uns 15min. O resto do filme é uma repetição da mesma idéia. A idéia é que há um "segredo", que ao longo da história somente foi revelado a poucos.

O "segredo" é pensar positivo para conseguir as coisas. Acredito que isso é uma coisa boa e penso que a maioria das pessoas que obtiveram sucesso acreditavam em si mesmas. Há uma série de explicações possíveis para isso. Para citar apenas uma, acreditar em si mesmo faz com que você não desista facilmente e, por insistência, você atinge seus objetivos.

Mas a explicação que Rhonda Byrne (autora do livro "O Segredo") dá para a relação otimismo/sucesso é bem mais mirabolante: Supõe que há uma lei universal chamada "Lei da Atração" que faz com que o Universo conspire para dar a você algo que vc queira muito. Em princípio, pode haver tal lei, embora a história nos mostre que as explicações mais simples em geral são as corretas (lembre-se dos epiciclos no sistema geocêntrico de Ptolomeu).

O grosseiro e desleal da idéia é falsamente basear-se na mecânica quântica, que nada fala sobre a "Lei da Atração". Essa má utilização da mecânica quântica para explicar as idéia estapafúrdias das pessoas têm se tornado assustadoramente comum. Já falam até da "empresa quântica"!!! Já ouvi muitas vezes a frase "Mas isso é provado científicamente...". Falam sobre mecânica quântica e relatividade, mas, quando perguntados sobre estas teorias, fica claro que não conhecem nem mesmo seus postulados básicos.

Além dessa barbaridade, o filme contém ainda outra coisa bastante desagradável: é extremamente materialista. Para dar exemplos de como usar o "segredo" a seu favor, falam quase sempre em mentalizar o carro que vc deseja, ou o colar, ou uma bicicleta. Chegam a afrmar que é só mentalizar o valor em dinheiro que vc quer receber por ano e esperar que o Universo fará o que tem que ser feito para você!!! Sim! Dizem para ESPERAR.

Não assisti até o fim. Pela linha que seguiam, não duvido que ao fim do filme digam que é possível ressuscitar sua bisavó se vc quiser muito isso...

sábado, 14 de abril de 2007

Profissão: Filósofo.

Certo dia, um vizinho o viu na varanda, espichado numa rede, olhando para o vazio.

- Bom dia, seu Patrício! Descansando, hein?
- Na verdade, estou trabalhando! - respondeu o outro.

Rindo da pilhéria, o vizinho seguiu seu caminho. Ao fim da tarde, passando novamente em frente à casa do filósofo, encontrou-o de calção, sujo de terra e encharcado de suor, às voltas com seu jardim.

- Opa, seu Patrício! Muito trabalho, aí?
- Agora, estou descansando um pouco....

Sorrindo, o vizinho comentou para si mesmo:

- Não tem jeito, esse seu Patrício! Sempre de brincadeira! Uma figura... 


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P.S. Sei lá quem é o autor... Acho que é do tal Anônimo, um prolífico escritor francês, alemão, brasileiro, húngaro, mexicano, chinês, canadense, egípcio, colombiano, australiano...

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Livre arbítrio

Para algumas pessoas, o livre arbítrio é um problema com o qual não conseguem lidar.

Se saem para comprar uma calça, por exemplo, de tanto escolher para ter "a melhor", ficam em dúvida entre A, B e C e acabam frustradas, sem decidir por alguma. Se, por outro lado, ganham de presente de aniversário qualquer uma das três, ficam felizes e não lhes perturba a idéia de que pode haver uma melhor.

A aparente liberdade de poder ter o melhor resulta na incapacidade de ter algum.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Crítica à leitura

Acabo de ler "A Arte de Escrever", que é uma coletânea de 5 textos retirados do Parerga e Paralipomena (1851), de Arthur Schopenhauer (filósofo alemão, 1788 - 1860). Nele o autor discorre sobre a literatura, o estilo dos autores e pensamento filosófico. Muito bom!

Comecei a ler o livro num feriado em que todos viajaram e me vi confinado em casa durante 3 dias. Angustiado com a solidão, busquei companhia nos livros. Começava a ler quando acordava e parava para dormir, praticamente sem pausas. E dei boas risadas com a coincidência de ter escolhido justamente este livro para ler. Eis alguns trechos:

"Ler significa pensar com uma cabeça alheia, em vez de pensar com a própria. Nada é mais prejudicial ao pensamento próprio [...]"

"Desse modo, o excesso de leitura tira do espírito toda a elasticidade, da mesma maneira que uma pressão contínua tira toda a elasticidade de uma mola."

"Assim, uma pessoa só deve ler quando a fonte de seus pensamentos próprios seca, o que ocorre com bastante frequência mesmo entre as melhores cabeças. Por outro lado, renegar os pensamentos próprios, originais, para tomar um livro nas mãos é um pecado contra o Espírito Santo."

Tem toda razão! Lia para não pensar...

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Maravilhas tecnológicas

Veio assim tudo de repente
Cinco séculos em turbilhão
Passando rápido à sua frente
Belezas chocantes da evolução.

Viu passando uma carruagem
Diferente, pois avançava rápida
Sem que se visse nenhuma imagem
Da incrível cavalaria intrépida.

Fascinado, viu os pequenos seres
Presos numa caixa com uma tela
Luminosa de divinos poderes
E a dança dinâmica da aquarela.

E foi com admiração e horror
Que viu a grande ave metálica
De canto agudo, ensurdecedor
A voar inerte... fantástica!

Assim veio o Apocalipse, o Último Dia.
De início, viu o próprio Demônio
Que a grande ave metálica trazia.
Sentiu o presságio do pandemônio.

Na placa ao lado, leu "Hiroshima".
Havia tumulto e gritos de crianças.
Hesitante e com pavor, olhou pra cima
Sentiu fugir-lhe as esperanças.

Acordou trêmulo, mas aliviado
Não havia caixas com arlequim,
Nem cavalos ocultos ou Demo alado...
Ainda não veio o nosso fim!

terça-feira, 10 de abril de 2007

Visita ao Planetário

No domingo (chuvoso) de páscoa, visitei o planetário do Ibirapuera. A única parte proveitosa foi aquela em que mostraram o céu que veríamos em São Paulo não fosse a poluição. Todo o resto, um martírio sem fim. Informações acavaladas e sem sequência. Nada inspirador.

Não são as informações em si. É vomitá-las todas em 60 minutos que torna a coisa extremamente desinteressante, cansativa e desagradável. Em apenas uma hora, deveriam aproveitar o interesse das pessoas que pagaram para assistí-los (num domingo - chuvoso!! - de páscoa) para mostrar a beleza da ciência e não cuspir números e nomes. Será que alguém ficou particularmente fascinado ou pensou em ser cientista quando descobriu quem foram Ejnar Hertzprung e Henry Norris Russel?? Francamente!!

E havia crianças assistindo aquilo...

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Como Raul já dizia...

Mas é que se agora
Pra fazer sucesso, pra vender disco de protesto
Todo mundo tem que reclamar
Eu vou tirar meu pé da estrada
E vou entrar também nessa jogada

...

Mas agora eu também resolvi
Dar uma queixadinha
Porque eu sou um rapaz
Latino-americano que também sabe se lamentar
E sendo nuvem passageira
Não me leva nem à beira disso tudo
Que eu quero chegar
E fim de papo