quarta-feira, 27 de junho de 2007

Overdose de água

Navegando pelo site da Scientific American, vi uma manchete que me chamou a atenção: "Beber muita água pode matar". Logo pensei: "Pronto! Agora, água faz mal!!" No artigo eles falam que o excesso de água reduz o nível de sal no sangue e pode provocar uma doença chamada hiponatremia.

E falam que uma mulher da Califórnia morreu aos 28 anos após tomar seis litros de água em três horas... Ela participava do concurso "Hold Your Wee for a Wii", algo como "Prenda Seu Xixi por um Wii" (Wii é um video-game da Nintendo).

É. Assim, faz mal.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Mais física numa casca de noz

(Em tempo: "in a nutshell" é uma expressão idiomática em inglês que significa "em poucas palavras". Literalmente, significa "numa casca de noz")

Recentemente (abril/2007) foi lançado o livro "String Theory in a Nutshell", de Elias Kiritsis. A princípio, pensei que o livro fosse apenas uma versão não-grátis do famoso "Introduction to Superstring Theory", um review de Kiritsis de 1997. Mas não é. O livro preenche bem o espaço entre o livro de Barton Zwiebach (A First Course in String Theory) e os dois volumes de Polchinski (String Theory).

O livro do Zwiebach é um ótima introdução mas não fornece elementos à quem deseja fazer pesquisa em teoria de cordas. Por outro lado, o Polchinski é terrível! Confesso que somente recorro ao Polchinski quando o assunto não é tratado por nenhum outro autor.

O livro do Kiritsis me parece bem abrangente e bastante claro. Embora alguns assuntos sejam deixados de fora como, por exemplo, os formalismos de Green-Schwarz e os espinores puros de Berkovits.

O livro é mais um dos grandes assuntos da física a serem espremidos numa casca de noz. Em 2002, Stephen Hawking lançou O Universo numa Casca de Noz (The Universe in a Nutshell), que achei bem difícil de ler mas, por algum motivo, foi um sucesso aqui no Brasil.

Anthony Zee foi outro que usou uma noz como recipiente para um assunto muito vasto. Seu livro, Quantum Field Theory in a Nutshell, é agradabilíssimo. A melhor introdução à teoria de campos quânticos que eu já vi. A leitura desse livro proporciona até risadas em alguns momentos. Cito apenas a última frase do livro: "As the Beatles said, Quantum Fields Forever!"

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Teoria de cordas prevê novo objeto astrofísico.

Os cientistas Eric G. Gimon e Petr Horava escreveram um artigo em que propõem um modo de encontrar evidências experimentais para a teoria de cordas!!

Um dos grandes problemas da teoria de cordas é que, embora a idéia original tenha sido proposta há quase 40 anos, não há previsões que possam ser testadas para dar suporte à teoria.

O grande problema em fazer previsões é o fato de que a teoria só é consistentemente formulada em 10 dimensões e é muito difícil (no momento, é impossível), encontrar um modo seguro e único de obter resultados como apareceriam em 4 dimensões.

Entretanto, é possível fazer algumas coisas. Por exemplo, é possível descrever alguns aspectos dos buracos negros. O resultado mais interessante, na minha opinião, é a dedução da entropia de Hawking a partir da contagem de estados microscópicos. Mas o post não é sobre isso, embora seja tentador falar de algo tão interessante!

A idéia do artigo que citei é a seguinte: Algumas soluções da relatividade geral são consideradas não-físicas por possuírem singularidades nuas (cf. censura cósmica). Dentre estas soluções, há algumas que têm o problema da singularidade resolvido por contribuições advindas da teoria de cordas.

Há a possibilidade, por exemplo, de que exista um buraco negro com momento angular maior do que o permitido pela relatividade geral. Estes objetos foram denominados pelos autores de "superspinars". A pergunta, passível de teste experimental, então, é: Existem superspinars no Universo?

Como encontrá-los? Bom, se houver uma estrela próxima a um superspinar, ele sugará a massa da estrela. Este fluxo de matéria, friccionando em si mesmo, emite radiação. Isso acontece em buracos negros comuns, que emitem raios X desse modo. No caso dos superspinars, a radiação emitida é raios gama ultraenergéticos.

É claro que muito cuidado será necessário para analisar dados e a própria teoria, já que a dupla Gimon e Horava não escreve explicitamente estas soluções (na verdade, dizem que apenas supõem que existam!). Mas eu não posso deixar de lembrar de um post que escrevi tempos atrás. Nele, eu comentei que os astrônomos observam emissões de raios gama além do previsto...

terça-feira, 19 de junho de 2007

A Alegoria da Floresta

Nós, os vivos, somos retirantes
Atravessando uma grande floresta,
Onde passaremos alguns instantes,
Um naco de tempo que Deus empresta.

Ao que parece, não há comunicação
Possível entre aquele ainda por vir
E os outros, que na floresta estão.
(E nem com quem já teve que sair.)

Há aqueles que vão já avançados.
Cada um deles dá uma recomendação
Àqueles sôfregos recém-chegados,
Antecipando tudo que encontrarão.

"Haverá um trecho de escuridão total.
Não deixe de levar lanterna, eu lhe digo!
E haverá também um grande temporal,
Então sugiro que prepare logo um abrigo."

E descrevem os mais terríveis fatos
E o aparecimento de animais selvagens.
Explicando que, mais do que ornatos,
Precisarão de armas nas suas bagagens.

Mas os novos pensam, imprudentes,
Que podem diminuir seus fardos,
Não incluindo alguns ingredientes
Que só tornam seus passos tardos.

Assim andam bem mais rápido, realmente,
Devorando todos os frutos, floresta afora.
Mas eis que eles encontram, finalmente,
Tudo aquilo que lhes fora dito outrora.

Sem a lanterna para ver na escuridão,
Ou abrigos para suportarem a tempestade,
Refletem, angustiados com a situação:
"Os velhos falaram a mais pura verdade!"

Sem tempo para resolverem suas próprias vidas
Decidem buscar redenção nos novatos que chegam.
Previnem e mostram como provas suas feridas
Chegam a ser violentos, exigindo que os ouçam.

Mas os novatos pensam, imprudentes,
Que podem diminuir seus fardos,
Não incluindo alguns ingredientes
Que só tornam seus passos tardos...

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Pálido Ponto Azul

Um trecho do livro "Pale Blue Dot", de Carl Sagan:



A idéia do livro, surgiu assim:

As naves Voyager 1 e 2 foram lançadas pelos EUA em 1977 com a missão de fotografar as luas e os planetas do sistema solar.

Quando a Voyager 1 passou por Saturno, por volta de 1981, Carl Sagan sugeriu que tirassem uma foto da Terra. Alguns foram contra a idéia, já que, àquela distância, não obteríamos nenhuma informação relevante sobre nosso planeta, que apareceria como apenas um ponto...

Mas foi justamente pelo fato de que a Terra apareceria como um ponto que Carl Sagan sugeriu a foto. Nos daria uma idéia do nosso tamanho. Uma lição de humildade, talvez. Não teve jeito: a idéia foi recusada.

Esperaram mais. Em 1989, quando as espaçonaves já haviam passado de Plutão e não havia mais fotos a tirar, decidiram direcionar as câmeras para a Terra. (Contribuiu também o fato de que alguns dos técnicos envolvidos no projeto seriam remanejados para outros trabalhos... Seria naquele momento, ou nunca mais!)

A foto foi tirada e é conhecida como "The Pale Blue Dot", já que a Terra aparece como um pálido ponto azul.

domingo, 17 de junho de 2007

Roda-viva na internet

O Roda-Viva, programa transmitido pela TV Cultura às segundas-feiras às 22hs30min, poderá ser visto via internet! Será possível ter acesso ao acervo do programa, bem como a versão em texto das entrevistas.

A notícia [cf. 1, 2, 3 e 4] foi divulgada na última quinta-feira. A criação do Portal Roda-Viva é um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Para o desenvolvimento do portal e transcrição das fitas, cerca de R$ 280 mil foram investidos pela FAPESP.

Desde já, indico a entrevista que o Lima Duarte deu há uns meses atrás! Lembrei agora do Saramago! E... Deixa pra lá! São tantas... Boa notícia, essa!

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Encontre X

Coisas que computadores não fazem:

Veja um vídeo de Isaac Asimov falando de computadores como substitutos do cérebro humano no You Tube.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Números interessantes

TEOREMA: Todo número natural é interessante.

PROVA: Seja D={n°, n¹, n², n³, ...} o conjunto dos números desinteressantes. Por tratar-se de números naturais, podemos supor que estão em ordem crescente. Nesse caso, n° é interessante por ser o menor número natural desinteressante. Recursivamente, chegamos à conclusão que D deve ser um conjunto vazio (pois, se for unitário, o tal único número desinteressante seria interessantíssimo!). Q.E.D.

:-P

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Tecnologias

Quando vejo os filmes antigos, penso: "Será que eles achavam isso muito bom?". Pergunto-me se alguém olhava para aquela imagem preto-e-branco e tinha idéia de que aquilo poderia ser bem melhor. Colorido, pelo menos, já que não quero nem falar das técnicas de filmagem ou efeitos especiais. Vejo hoje a imagem da televisão e não consigo ver mudanças significativas para os próximos anos, além daquelas já propostas pela TV digital. (Talvez se reproduzisse cheiros... mas não sei se seria uma boa idéia...)

E penso o mesmo sobre o mundo. Será que alguém há 7 séculos tinha o sentimento de que estava mau o sistema de higiene? Que as cidades eram feias com suas estradas de terra? E aquela bicharada toda andando pelas ruas? Será que pensavam que estava tudo mau, mas que era o máximo que podiam fazer na época? Que no futuro talvez as coisas ficassem mais "limpas"?

Paro de pensar no passado e olho para o hoje. O que há neste mundo em que vivemos que será visto pelos homens do futuro como uma coisa antiga e estranha?

Claro que há muitas coisas. Mas há uma que eu sempre comentei. Os fios. Acho que há fio demais. São inconvenientes!

Essa introdução toda é bobagem minha. O post tem o objetivo apenas de dar uma notícia que me chamou a atenção: a transmissão de eletricidade pelo ar, chamada witricity. Esse termo foi formado pelas palavras "wireless" (sem fio) e "eletricity" (eletricidade).

Pesquisadores do MIT acenderam uma lâmpada de 60W a uma distância de mais de 2m sem nenhuma conexão física. A idéia é que uma bobina, ligada à rede elétrica gera um campo magnético oscilando numa determinada freqüência. A outra bobina, conectada ao aparelho, entra em ressonância com este campo, gerando a corrente elétrica.

Devido ao curto alcance conseguido até então, as possibilidades de aplicação são, principalmente, a alimentação de baterias de laptops e celulares. (Importante: dizem que tais campos magnéticos interagem muito fracamente com sistemas biológicos...)

terça-feira, 12 de junho de 2007

Notícia falsa

Ontem, alguns sites divulgaram a "notícia" de que um asteróide se chocará com a Terra em julho de 2007. A notícia faz referência ao site do "Observatório de Asteróides". Verdade seja dita: eles informam que é um "Informe publicitário". O problema é que isso está escrito entre parênteses, numa letra pequena, no fim da página. No topo, em letras grandes, lê-se: "Um site do associado ao International Astronomy Centre".

Entre os que divulgaram a "notícia", estão: iParaíba, Rádio Grande, UOL:

e Estadão:


A "notícia" faz parte da campanha publicitária da Citroen, que lançará em Julho o modelo C4 Pallas, nome em homenagem à deusa Atenas que era chamada também de Palas Atená. Atenas era a deusa da sabedoria e da guerra justa... Em homenagem à irresponsabilidade da campanha publicitária, eu sugeriria o nome Dionísio para o novo carro da Citroen.

... Isso me lembra um acontecimento de 1938, quando o livro A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells foi adaptado pelo ainda desconhecido Orson Welles e transmitida pela rádio CBS. Houve uma confusão geral na população que ligava o rádio e acreditava ouvir notícias de uma invasão extraterrestre real...

Errar é humano. Repetir o erro quando há tantos novos a cometer é, no mínimo, falta de criatividade.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Mundo relativístico

O site spacetimetravel.org (uma versão em inglês do projeto original, em alemão) apresenta simulações de computador para muitos efeitos relativísticos. Por exemplo, a visão de um observador próximo à velocidade da luz.

Além disso há coisas sobre relatividade geral, como o buraco negro. A imagem abaixo, por exemplo, é o que veríamos ao olhar diretamente para um BN:


Mais do que isso, o site contém uma seqüência de imagens de uma (suposta) viagem rumo à um buraco negro. As fotos apresentam o que veríamos a diferentes distâncias e em diferentes direções: A) Olhando diretamente para o buraco negro; B) Olhando para o lado, numa direção perpendicular à anterior e C) Olhando para trás, na direção contrária ao item A.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Cubo mágico: Bincadeira séria

Aquele maldito cubinho colorido cujo objetivo é deixar todas as faces iguais é também chamado de Cubo de Rubik (foi inventado em 1974 pelo húngaro Erno Rubik).

A novidade é que cientistas da Universidade de Northeastern, nos Estados Unidos, encontraram um algoritmo para solucioná-lo fazendo apenas 26 movimentos, independentemente do estado em que o cubo se encontra no início. Os caras usaram teoria de grupos e computadores para testar 100 milhões de movimentos por segundo... Isso faz eu me sentir melhor... Nunca consegui nada além de uma face naquela porcariazinha irritante! Rsrsrsrs

Em 1997, Richard Korf afirmou que a solução ótima para o problema é com apenas 18 movimentos!

... e quem quiser que tente aí: entrar na história é com vocês!

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Nobéis, física e a cura do câncer

Um das coisas que mais admiro na física é o alcance de suas descobertas. Para exemplificar isso, note que diversos físicos receberam o Prêmio Nobel. Os Nobéis de Física, nem preciso citar nomes... é claro que há físicos entre os laureados! Na área de química, receberam Ernest Rutherford (1908), Marie Curie (1911), Peter Debye (1936) e Alan Heeger (2000), além outros físicos.

E em todas as outras categorias, há pelo menos um representante da física: Aleksandr Solzhennisyn, graduado em 1941 pelo Departamento de Física e Matemática da Universidade de Rostov, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1970. O Nobel da Paz foi concedido aos físicos Andrei Sakharov (1975) e Joseph Roblat (1995). O de economia de 1997 foi atribuído à um estudo feito por Robert Merton, Myron Scholes e Fischer Black (este último, físico que, por ter morrido em 1995, não recebeu o prêmio). A equação obtida por eles é usada no cálculo de derivativos e opções (sei lá o que diabo é isso... Coloco os nomes para que vcs procurem, se quiserem).

Só falta citar representantes do prêmio de medicina/fisiologia. Em 1962, Francis Crick foi premiado pela descoberta da estrutura do DNA. Além disso, pelos desenvolvimentos no estudo dos eletrocardiogramas, tomografia assistida e imagens por ressonância magnética, foram premiados os físicos Willem Einthoven (1924), Allan Cormack (1979) e Peter Mansfield (2003), respectivamente.

Um ramo recente da física poderia aumentar o número de físicos laureados com o prêmio de medicina. Trata-se da plasmônica [1,2]. Há propostas para que isso seja usado na cura do câncer (inclusive, testes foram feitos em ratos!).

Tentarei explicar em poucas palavras como isso seria feito. Do mesmo modo que uma onda é produzida na superfície de um lago quando jogamos uma pedra, um feixe de luz induz a propagação de uma onda na superfície de um metal. Os plasmons são os quanta dessa onda (assim como os fótons são os quanta da onda eletromagnética e os fônons, do som).

Se incidido com determinada freqüência, o feixe de luz pode induzir uma onda ressoante. A idéia, então, é: Constrói-se minúsculas esferas de silício, revestidas com uma fina camada de ouro, que são injetadas na corrente sanguínea do paciente. Por algum motivo que desconheço, as células cancerosas atraem essas bolinhas injetadas. Em seguida, incide sobre o local uma radiação que atravesse a pele e induza uma oscilação ressoante de elétrons no interior das nanocápsulas. Isso faz com que a bolinha esquente e destrua as células cancerosas. O tecido saudável não é afetado, já que as partículas de ouro se concentram na região do câncer.

Isso saiu na edição de maio da Scientific American Brasil. Mas o artigo dá ênfase a outros aspectos da plasmônica (criação de chips menores, por exemplo). Na verdade, a ênfase em quase tudo que vi sobre plasmônica é seu uso na transmissão de informação. Mas achei interessantíssima a idéia de curar o câncer assim.