domingo, 30 de setembro de 2007

ENFPC - Parte I

Entre 24 e 28 de setembro, houve o XXVIII Encontro Nacional de Física de Partículas e Campos, em Águas de Lindóia, SP. O comitê deste ano, liderado pelo professor Silvio P. Sorella, passou por uma saia justa: receberam 60 mil reais a menos do que no ano passado. Disseram que o motivo disso foi que houve atraso na nomeação de um ministro, que resultou no atraso na nomeação para outros cargos e tudo isso finalmente implicou que a FINEP atrasou a abertura de editais para financiamento de eventos e este órgão em nada contribuiu. Como resultado, tivemos cancelamento de uma peça (E Agora, Sr. Feynman? do grupo Arte e Ciência no Palco), que estava no programa inicial, e algumas outras restrições. Mas a comissão conseguiu fazer um bom trabalho e considerei um ótimo evento.

Em outras postagens, falarei um pouco de algumas palestras que lá houve. Nesta aqui, em que já comecei com política, encerro este assunto, falando logo da assembléia que houve no segundo dia (veja a pauta, em PDF). Um dos tópicos que vieram à tona, foi a divulgação do site da Comissão de Partículas e Campos (CPC). O objetivo da CPC é representar a comunidade de físicos de partículas e campos junto à Sociedade Brasileira de Física (SBF). O site contém utilidades como, por exemplo, uma lista de eventos da área.

Há algum tempo, a CPC enviou emails para os pesquisadores brasileiros solicitando que informassem a atual ocupação dos seus ex-orientandos. O objetivo é conhecer a absorção dos físicos de nossa área no mercado de trabalho. Mas somente 6 respostas foram recebidas... não é coincidência o fato de que 6 também é o número de membros da CPC... Talvez nossos pesquisadores estejam muito envolvidos em entender a origem do Universo... Disse Einstein que "política é para o momento, mas uma equação é para a eternidade". Mas (acho que) foi este mesmíssimo cientista quem disse: "Aprenda com o ontem, viva o hoje e tenha esperanças pelo amanhã".

O professor Nathan J. Berkovits, que fez parte da organização da última Escola de Verão Jorge André Swieca, fez um protesto contra a política das agências de fomento, que restringem o uso do dinheiro, e não permitem que seja usado para pagar despesas de alunos interessados em ir à Escola. Nathan argumentou, com razão, que os cursos ali apresentados tem como público-alvo os estudantes. O professor Victor O. Rivelles, membro da CPC, falou que a Comissão procurará meios de resolver o problema com o auxílio financeiro para estudantes.

... Se eu lembrar de algo mais que ocorreu na assembléia, acrescentarei aqui depois.

sábado, 22 de setembro de 2007

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Quem somos nós?

Umas vezes, penso que somos um bolinho químico com tais e tais características que vieram de tais e tais fontes. Mas estas características são mudadas com o tempo, o que me leva a crer que somos nossas memórias. Afinal, entre gêmeos as diferenças parecem vir de fatos ocasionais, as vivências e aprendizados... Assim, nosso "eu" vai crescendo com o tempo, e nossa essência vai, por assim dizer, se formando, sem nunca estar pronta. Pensando assim, me pergunto o que é a reencarnação... Em que possível sentido posso ter sido "eu" o fulaninho trespassado por uma lança de um espartano? O que há de mim lá? A alma? Que é isso? Não lembro de nada, não tenho o mesmo corpo, as mesmas idéias, etc. Mas aí, já é outra história. No começo, queria só me achar, e eis que já me encontro morto, ora essa!

De volta à vida, penso no livre-arbítrio, em que eu posso modificar meu corpo (quase) como bem entender. Troca-se de fígado, de coração e de sexo. Fazem lobotomia, tranquilizam-nos por remédios e dão o próprio sentimento de amor à vida aos depressivos em caixas com tarja preta. Seguindo assim, somos nossas escolhas. Mas... E o que rege tais decisões? As memórias, os aprendizados, ou talvez uma disposição genética.... Aí, estamos noutra parte de nós, e fechamos o ciclo.

Por vezes, isso me parece uma realização quase material do Id, Superego e Ego. O primeiro são os instintos, o segundo, a moral e o terceiro, um coitado aturdido, sem saber a quem agradar. O primeiro é o corpo e os instintos que nossos ancestrais escreveram nos genes. O segundo, o que aprendemos com mamãe e papai, e as lembranças de vida. O terceiro somos nós, angustiados, com uma decisão pra tomar, buscando satisfazer o corpo, sem desonrar nossa história.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Boicote à Dell

O físico nuclear brasileiro Paulo Gomes, da Universidade Federal Fluminense comprou dois computadores da Dell para seu laboratório. Ao se identificar como físico, a empresa exigiu que fosse assinado um documento em que o físico se comprometeria a não usá-los em colaboração com cientistas do "Eixo do Mal":
"Não transferiremos, exportaremos, ou reexportaremos, direta ou indiretamente, quaisquer produtos adquiridos da Dell para: Cuba, Irã, Coréia do Norte, Sudão, e/ou Síria, ou a qualquer estrangeiro com dupla nacionalidade, ou a qualquer outro país sujeito a restrições sob leis e regulamentos aplicáveis onde não estejamos situados, sob o controle de um indivíduo natural ou residente deste país"
O cientista brasileiro, que tem trabalhos em colaboração com um físico cubano, recusou-se a assinar e devolveu os computadores à Dell, que deve devolver o dinheiro ao CNPq. Comunicou o ocorrido à Sociedade Brasileira de Física (leia boletim aqui), ao Ministério da Ciência e Tecnologia e a outros físicos, solicitando que seja feito um boicote à Dell Inc, empresa norte-americana e segunda maior fabricante de computadores do mundo.

Leia mais sobre o assunto nos sites [1, 2, 3], ou nos blogs [4, 5].

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Trava-língua quântico

Saiu hoje um trabalho cujo título é um verdadeiro trava-língua quântico:

Would Bohr be born if Bohm were born before Born? (*)

Postei isso aqui só porque achei o título do trabalho engraçado. Mas, já que começei, deixem-me dizer mais ou menos do que se trata. Os três homens são grandes personalidades na história da mecânica quântica.

Max Born propôs, em meados da década de 1920, que a o quadrado da função que aparecia na equação de Schrödinger fornece a probabilidade de a partícula estar em um determinado estado. Baseado nesta idéia, Niels Bohr fundou a chamada "interpretação de Copenhague da mecânica quântica", segundo a qual a Natureza não nos permite um conhecimento completo de um sistema físico, mas apenas em termos probabilísticos.

Já David Bohm, tomou um rumo diferente. Sua interpretação era de que a mecânica quântica era uma teoria incompleta e que o aspecto probabilístico era devido à "variáveis ocultas". Formulou então uma interpretação determinística por volta de 1950.

Segundo H. Nikolic, autor daquele título (o trabalho é o de menos... pra mim, ele é o "autor do título"!), a interpretação de Copenhague, que é hoje a mais aceita pela comunidade de físicos, teria menos adeptos se a interpretação determinística de Bohm tivesse surgido antes daquela probabilística de Born.

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(*) Em português, perdemos parte da graça, mas a tradução literal do título do trabalho é "Teria Bohr nascido se Bohm tivesse nascido antes de Born?".

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Telecinética é possível?

Mover um objeto usando apenas o pensamento para fazê-lo é algo denominado telecinese e é um prato cheio para ficções científicas. Muito embora não do modo como a Jean Grey ou o professor Xavier fazem em X-men, talvez isso venha a ser parte do nosso cotidiano em algumas décadas.

Possível, já é: Fizeram uma cadeira de rodas que movimenta-se através de comandos mentais:




Vi esta notícia no New Scientist e o projeto The Audeo pretende criar aparelhos que produzem sons obedecendo a comandos mentais. Pessoas que não falam há anos por problemas físicos, poderiam voltar a falar. (Se entiver interessado em maiores detalhes - muito mais detalhes, na verdade - a equipe do The Rehabilitation Institute of Chicago oferece informações, demonstrações e notícias para quem se cadastrar aqui).

Atualmente, por exemplo, o físico inglês Stephen Hawking movimenta apenas um dedo e o usa para movimentar sua cadeira de rodas e buscar palavras num monitor acoplado à sua cadeira de rodas e depois dar o comando para que o sintetizador de voz as pronuncie... Isso faz com que ele demore muito para completar uma sentença. (Mas Stephen diz que o seu único problema é o sotaque americano!) Se perdesse o movimento deste dedo, somente coisas como o que propõe o The Audeo permitiria que Stephen falasse.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

E se alguém lesse sua mente?

...Sua casa não tem paredes
Nem seu quarto de dormir
Sua coberta não te cobre
Feche bem os olhos
E tente dormir...
(Janela Indiscreta - Lulu Santos)

Conseguiram ler a mente de um rato! Antes de falar disso,deixe-me dizer uma outra coisa sobre o autor do trabalho: Joe Z. Tsien, atualmente na Boston University, foi manchete (inclusive na revista Time) nos idos 1999 quando descobriu que a memória está relacionada ao material genético. Usando ratos geneticamente modificados, ele obteve animais com aparente capacidade de memorização superior à normal ao alterar moléculas como os "receptores NMDA" [1]. (Para testar a capacidade de memorização, Tsien deu choque nos bichos e, dias depois, preparou o mesmo ambiente. Aqueles geneticamente modificados demostravam mais medo. Além disso, apresentaram aos animais peças de montar. Tempos depois, apresentaram a mesma peça e outras novas. O camundongos "mais espertos" dedicaram mais tempo às peças novas, enquanto os outros deram igual atenção a todas as peças, sem distinção entre novas e as "já conhecidas").

Bom, uma vez apresentado o homem, vamos ao que ele fez no ano passado ["Organizing principles of real-time memory encoding: neural clique assemblies and universal neural codes" - PDF]. Ele (juntamente com Remus Osan) usou métodos matemáticos que não vi explicado (e nem entenderia se visse) para reconhecer padrões na atividade neuronal e representar isso num gráfico (chamam-no "MDA - análise de discriminantes múltiplos".... se vc quiser pesquisar...). Viu que haviam áreas distintas: Uma representava o estado de repouso, outra quando o animal era submetido à um terremoto (botavam o podre bicho numa caixa e sacudiam: veja vídeo), outra para queda e outra para um ataque de uma coruja (em laboratório, simulavam isso através de um jato repentino de ar nas costas do rato).

O legal é que esses gráficos podem ser interpretados e, vendo quais bolhas estão ativas, dá pra saber o que ele está passando naquele momento. Ou seja, se a atividade passa da bolha de repouso para aquela de terremoto, vc já sabe que o rato está na caixa vibrante (99% de acerto, dizem eles!). Mais do que isso. Após o evento, a atividade vai e volta entre os estados "de repouso" e "de terremoto", só que com menos intensidade. Isso é interpretado como sendo o rato lembrando-se do que houve.

E outra: esses impulsos, ou seja, a passagem de uma zona pra outra podem ser codificadas em binários. Por exemplo, estabelecendo "SUSTOterremotoQUEDAataque", teríamos que 1100 é um rato que se assustou com um terremoto em algum momento, 1010 é uma queda repentina, etc. Aí, vc já sabe: Pôs em código binário, fez tudo! Daí a fazer download dos pensamentos ou usar isso para comandar máquinas é uma questão de tempo. Aliás, a equipe de Tsien fez uma caixinha com uma porta que abria quando o comando "1100" era dado. Aí, os caras sacudiam a caixa e a porta se abria se houvesse um rato lá dentro!

Com isso, desenvolveram o Código da Memória, baseado no que eles chamaram de "cliques neurais", cuja idéia principal é que a memória é guardada de forma hierárquica. Ou seja, no código binário descrito na parágrafo anterior, os eventos "terremoto", "queda" e "ataque" têm em comum o número 1 no início, pois são todos eventos assustadores. Os números seguintes, especificam mais o evento. Há até mesmo especificação além disso, havendo um código diferente se a caixa sacudida for azul, ou preta, por exemplo. Mas estas especificações estão agrupadas em "terremoto", de modo que há uma certa hierarquia e associação no modo como guardamos memórias.

Isso pode ser usado para melhorar os detectores de mentira, para saber sobre a atividade mental de alguém em estado vegetativo e desenvolver aparelhos que obedecem ao pensamento... Este último já foi até feito!! Mas vou falar disso noutra postagem.

(Leia mais sobre a "Mecânica da memória" aqui.)

terça-feira, 4 de setembro de 2007

A eterna busca, por C. F. Gauss

Disse Carl Friedrich Gauss:
A busca pela verdade te dá o mesmo prazer do que antes? Certamente não é o saber, mas o aprender, não é o possuir, mas a aquisição, não é o estar lá, mas o ir para lá, que proporciona a maior satisfação. Se algo se torna claro pra mim, ou se eu esgotei um assunto, eu o deixo para entrar novamente na escuridão. Assim é este homem insaciável tão estranho; quando ele completa uma estrutura, não foi com o intuito de a habitar confortavelmente, mas sim para costruir outra.
Por que a gente é assim??

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O Teorema Zero da história da física

Nem sabia que havia tal coisa, mas hoje um artigo apareceu no arXiv dando exemplos que corroboram esta "Lei Zero da História da Física". (Chamam-na "teorema" (Nullte Theorem), mas acho que é um nome inapropriado para uma ciência não-exata.)

O tal teorema, proposto por Ernst Peter Fischer em Julho de 2006 diz:
Uma descoberta (regra, regularidade, ou idéia) que leva o nome de alguém não se originou com aquela pessoa.
No artigo do arXiv, analisam, entre outros, o caso do calibre de Lorenz (i.e., escolher um potencial Aa que tenha um divergente nulo: Aª,a = 0), em que adicionam um "t" ao nome, atribuindo erroneamente essa condição ao holandês Hendrik Antoon Lorentz quando a primazia deveria ser atribuída à Ludvig Valentin Lorenz. Outro exemplo que o artigo dá é a função delta de Dirac (i.e, uma função que assume um valor infinito num ponto e zero em todos os outros), que já aparecia num texto anterior de Oliver Heaviside.

Comentam ainda sobre o "Efeito Mateus", proposto por Robert K. Merton. O nome vem da passagem bíblica (Evangelho Segundo São Mateus): "A todo aquele que acredita mais fé lhe será dada em abundância; e daquele que não crê lhe será tirado". Em outras palavras, mais à quem tem muito, menos à quem tem pouco. Em ciência, este efeito occore, por exemplo, quando o líder de um grupo de pesquisa é creditado pelas descobertas dos estudantes vinculados ao grupo.