sexta-feira, 7 de setembro de 2007

E se alguém lesse sua mente?

...Sua casa não tem paredes
Nem seu quarto de dormir
Sua coberta não te cobre
Feche bem os olhos
E tente dormir...
(Janela Indiscreta - Lulu Santos)

Conseguiram ler a mente de um rato! Antes de falar disso,deixe-me dizer uma outra coisa sobre o autor do trabalho: Joe Z. Tsien, atualmente na Boston University, foi manchete (inclusive na revista Time) nos idos 1999 quando descobriu que a memória está relacionada ao material genético. Usando ratos geneticamente modificados, ele obteve animais com aparente capacidade de memorização superior à normal ao alterar moléculas como os "receptores NMDA" [1]. (Para testar a capacidade de memorização, Tsien deu choque nos bichos e, dias depois, preparou o mesmo ambiente. Aqueles geneticamente modificados demostravam mais medo. Além disso, apresentaram aos animais peças de montar. Tempos depois, apresentaram a mesma peça e outras novas. O camundongos "mais espertos" dedicaram mais tempo às peças novas, enquanto os outros deram igual atenção a todas as peças, sem distinção entre novas e as "já conhecidas").

Bom, uma vez apresentado o homem, vamos ao que ele fez no ano passado ["Organizing principles of real-time memory encoding: neural clique assemblies and universal neural codes" - PDF]. Ele (juntamente com Remus Osan) usou métodos matemáticos que não vi explicado (e nem entenderia se visse) para reconhecer padrões na atividade neuronal e representar isso num gráfico (chamam-no "MDA - análise de discriminantes múltiplos".... se vc quiser pesquisar...). Viu que haviam áreas distintas: Uma representava o estado de repouso, outra quando o animal era submetido à um terremoto (botavam o podre bicho numa caixa e sacudiam: veja vídeo), outra para queda e outra para um ataque de uma coruja (em laboratório, simulavam isso através de um jato repentino de ar nas costas do rato).

O legal é que esses gráficos podem ser interpretados e, vendo quais bolhas estão ativas, dá pra saber o que ele está passando naquele momento. Ou seja, se a atividade passa da bolha de repouso para aquela de terremoto, vc já sabe que o rato está na caixa vibrante (99% de acerto, dizem eles!). Mais do que isso. Após o evento, a atividade vai e volta entre os estados "de repouso" e "de terremoto", só que com menos intensidade. Isso é interpretado como sendo o rato lembrando-se do que houve.

E outra: esses impulsos, ou seja, a passagem de uma zona pra outra podem ser codificadas em binários. Por exemplo, estabelecendo "SUSTOterremotoQUEDAataque", teríamos que 1100 é um rato que se assustou com um terremoto em algum momento, 1010 é uma queda repentina, etc. Aí, vc já sabe: Pôs em código binário, fez tudo! Daí a fazer download dos pensamentos ou usar isso para comandar máquinas é uma questão de tempo. Aliás, a equipe de Tsien fez uma caixinha com uma porta que abria quando o comando "1100" era dado. Aí, os caras sacudiam a caixa e a porta se abria se houvesse um rato lá dentro!

Com isso, desenvolveram o Código da Memória, baseado no que eles chamaram de "cliques neurais", cuja idéia principal é que a memória é guardada de forma hierárquica. Ou seja, no código binário descrito na parágrafo anterior, os eventos "terremoto", "queda" e "ataque" têm em comum o número 1 no início, pois são todos eventos assustadores. Os números seguintes, especificam mais o evento. Há até mesmo especificação além disso, havendo um código diferente se a caixa sacudida for azul, ou preta, por exemplo. Mas estas especificações estão agrupadas em "terremoto", de modo que há uma certa hierarquia e associação no modo como guardamos memórias.

Isso pode ser usado para melhorar os detectores de mentira, para saber sobre a atividade mental de alguém em estado vegetativo e desenvolver aparelhos que obedecem ao pensamento... Este último já foi até feito!! Mas vou falar disso noutra postagem.

(Leia mais sobre a "Mecânica da memória" aqui.)

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