sábado, 13 de fevereiro de 2010

O Poeta

Gosta de poesia? O rapaz não entendeu a frase e virou-se pra pedir pra repetir, mas quando viu o poeta com o braço estendido e um papel na mão, fez um gesto negativo com a cabeça e seguiu seu caminho.

Gosta de poesia? Outro rapaz passou como se nada tivesse ouvido.

Gosta de poesia? Uma das duas moças que passavam rindo pegou o folheto que o poeta sacudia à sua frente e seguiu seu caminho, mas o homem apressou-se e elevou a voz. Só peço uma colaboração. A moça voltou dois passos e devolveu o folheto e pôs no rosto um sorriso desajeitado, moveu a cabeça de um lado para o outro e segiu com a amiga. Voltaram a rir depois de sete passos.

Gosta de poesia? A moça espantou-se com a abordagem súbita e virou-se para ver do que se tratava. Ergueu a mão aberta e a deixou parada no ar, indicando para ele parar o quer que estivesse fazendo. Voltou a caminhar na direção que seguia antes da perturbação.

Gosta de poesia? O rapaz pegou o folhetim e tencionava seguir. Mas o poeta o parou tocando lhe o ombro levemente. Só peço uma colaboração. O rapaz entregou o folhetim à moça que o acompanhava e tirou da carteira umas moedas, que entregou ao pedinte.

Poesia? Gosta de poesia? ...

Em cinquenta minutos o homem tinha conseguido apenas umas moedas que somavam menos de R$ 1,00. Haveria ali poesia?

Dizem que o dinheiro muda as pessoas. A falta, também. E, se mudamos com ou sem, nomear e classificar os agentes da mudança parece um mero exercício fútil que nos propomos para ocupar a mente.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A sinceridade é uma virtude?

A sinceridade ao falar de si só é reconhecida como virtude no homem medíocre. Naquele melhor do que a maioria, a sinceridade é tomada por arrogância; e no homem ruim, essa mesma sinceridade não é nada mais do que sem-vergonhice.