quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Trilha para o Nada

Certos pensamentos são recorrentes. De tanto o reproduzirmos na imaginação, indo e vindo, sentimos a mata cerebral afundada num trecho, uma trilha. Se queres, exemplifico. Se não queres, estou contigo: deixas quieto o que está quieto. Pensar faz mal pra gente. Tu paras aqui, portanto. Mas eu prometi ao outro um exemplo, e não mais posso negá-lo. Ei-lo: O sentido das coisas. É com freqüência que o assunto de uma conversa geral corre para a física, para a matemática ou teoria de cordas, talvez por ser eu um físico, no departamento de física-matemática, estudando as cordas... "Para que serve isso na vida de uma pessoa?", perguntam. E já fico triste direto, porque o pensamento segue o rasgão na mata mental. Segue a trilha até o Nada.

A trilha começa com a idéia de que tem razão quem pergunta. É abstrato, não serve. Mas.... não seria abstrata a TV? E a cerveja? Dá, sim, pra viver sem isso. E gostamos de amizades e amores. Mas, tomados um a um, são todos dispensáveis. As faltas provocam choro, mas não a morte. Pensando bem a fundo, não há realmente necessidade de nada além de comida para se viver. E mais: comer para que? Para morrer ao final? E sobra o que? Aqui é já o fim da trilha, onde encontro o Nada e minha tristeza.... E se isso te pareceu bobo a primeira vista, não leia de novo, não tente ver, não deixe que te pegue. Eu juro que não faz bem.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Cientistas chineses sem medo de tentar

A China estuda a possibilidade de fazer uma emenda na lei dizendo:
"Scientists and technicians who have initiated research with a high risk of failure will still have their expenses covered if they can provide evidence that they have tried their best when they failed to achieve their goals."
Em bom português: "Cientistas que reportem um erro não serão privados de financiamento (se mostrarem evidências que deram tudo de si)".

O curioso disso é pensar que essa emenda é necessária. Os cientistas chineses tinham tanto medo de publicar erros e fracassos em seus projetos que somente neste mês, foram registrados 13 casos de fraudes!! Além disso, um número grande de pesquisadores confessaram plagiar e até mesmo subornar para terem seus trabalhos publicados!!!

É claro que isso é um absurdo! Quem se arriscaria a fazer uma proposta nova e arriscar perder financiamento para novos projetos? Para quem não sabe, Thomas Edison testou mais de 3000 materiais diferentes até conseguir a lâmpada elétrica.

Por falar nisso, um elogio ao governo Lula que, mesmo após sucessivas falhas na tentativa de termos nosso próprio foguete nos ares, manteve o investimento no projeto... E nós tentamos, tentamos... até conseguir!

Pra terminar, Raulzito: "Levante sua mão sedenta e recomece a andar... Se é de batalhas que se vive a vida, Tente outra vez!"

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Profissão: Futurólogo

Kssianu Xaves sempre quis trabalhar no ramo empresarial e havia direcionado seus estudos para a futurologia, que seu pai considerava uma área promissora.

Tinha 19 anos no ano de 2178 e estava na fila para fazer seu primeiro exame de Futurologia Aplicada. Irratava-se com a demora e sabia que escolas mais avançadas de seu país tinham um leitor ótico por aluno. Além disso, em alguns lugares do mundo, a própria impressão era desnecessária, já que a escrita manual tornara-se uma habilidade desnecessária e fazer os alunos decorarem os caracteres que representam cada fonema era um absurdo incompreensível para ele. No mais, conhecia grandes homens que tiveram sucesso profissional sem saber escrever o próprio nome sem o auxílio do decodificador de voz.

Chegando sua vez, Kssianu fixou o olhar no ponto vermelho e aguardou sua prova ser impressa. Como havia imaginado, o computador escolheu uma questão sobre decodificação de personalidade por mapeamento genético, já que havia sido 20% menos participativo nas aulas sobre este tópico.

Debruçando-se sobre a prova, leu a primeira questão:
Na figura abaixo, encontra-se um trecho do mapeamento genético de um estagiário. Com base nestes dados, responda: (a) O estagiário possui inclinação para doença grave antes dos 70 anos? Se sim, qual? (b) Esboce a reação mais provável do estagiário diante de uma crítica. (c) Você o contrataria para um cargo permanente? Justifique sua resposta.
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OBS: Este é um texto ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é... Bom, é assustadora!

domingo, 26 de agosto de 2007

A máquina do tempo do Dr. Amos Ori

Numa primeira análise, a relatividade estabelece a possibilidade de viagens no tempo. Afinal de contas, quem já leu qualquer coisa sobre a teoria de Einstein viu que uma de suas idéias básicas é que tempo e espaço não são entidades distintas, mas sim conceitos intimamente relacionados.

A imaginação vai adiante e diz que, já que podemos fazer uma curva fechada no espaço, ou seja, voltar pro ponto de onde partimos, a teoria diria que podemos fazer a mesma curva no tempo! Isso significaria que podemos andar no tempo de modo a voltar para o ponto inicial. Em palavras mais explícitas, voltar no tempo!

Mas isso é em primeira análise... As equações de Einstein para a gravitação (que diz que tipos de curvas temos no espaço-tempo), não impõem restrições aos outros campos. As soluções da teoria devem satisfazer uma série de outras exigências (além de ser solução das equações da relatividade geral) para serem consideradas aceitáveis, ou "reais".

Entre estas condições, está a de que o tensor energia-momentum (ou seja, a distribuição de matéria que gera o campo gravitacional) deve satisfazer certas condições de energia. Além disso, como na ausência de campo gravitacional o espaço-tempo é euclideano (ou seja, podemos usar nele a geometria que aprendemos na escola), as soluções devem tornar-se cada vez mais próximas da geometria euclideana à medida que nos afastamos da fonte. (As soluções que contêm curvas do tipo tempo violam alguma destas condições).

O que o Dr. Amos Ori apresentou num artigo divulgado no arXiv em janeiro de 2007 e publicado recentemente na Physical Review D, foi uma solução que contém curvas fechadas no tempo e satisfaz as condições desejadas.

Uma crítica comum às máquinas do tempo é que, se estas forem possíveis em algum momento do futuro, os viajantes do tempo voltariam ao nosso tempo e, portanto, nós os veríamos hoje. Isso nos garantiria que jamais farão viagens no tempo....

Mas é preciso destacar que no caso das curvas fechadas do tipo tempo, é permitido a volta ao ponto de partida, ou seja, permite-se que volte ao ponto onde se começou a usar a "máquina do tempo", não sendo possível retornar à tempos em que tais configurações do espaço-tempo não haviam sido configuradas.

Outra coisa: Estas viagens supõem uma manipulação do espaço-tempo. É verdade que este é distorcido pela presença de massas, mas uma mudança significativa só é observada quando enormes quantidades de matéria estão envolvidas. (Lembre-se de que vc usa a geometria da escola no seu dia-a-dia e ela funciona bem.... i.e., TODA a massa da Terra foi capaz de encurvar só um pouquinho o espaço em torno dela!).

Ainda que encontremos um modelo teórico satisfatório, a execução do plano seria algo extremamente difícil. (Verdade seja dita: Anos antes da bomba atômica ser detonada, Albert Einstein disse que a relação massa-energia não seria viabilizada na prática por envolver enormes dificuldades técnicas).

sábado, 25 de agosto de 2007

Frases de Nietzsche

Algumas frases tiradas de A Gaia Ciência:

  • O egoísmo é a lei da perspectiva no âmbito do sentimento, segundo o qual o que está próximo parece grande e pesado; e, à medida que se afastam, todas as coisas decrescem no tamanho e no peso.
  • Vejam! Vejam! Ele está correndo das pessoas; mas elas o seguem, porque ele corre adiante delas - de tal modo são o rebanho!
  • Todo hábito faz nossa mão mais engenhosa e nosso engenho menos destro.
  • "Bem e Mal são os preconceitos de Deus" - disse a serpente.
  • Quais são, afinal, as verdades do homem? - São os erros irrefutáveis do homem.
  • O que você ama nos outros? - Minhas esperanças.
Mais frases de Nietzsche, neste link.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

O Todo Poderoso e eu

É fato que não podemos estudar a mente de Deus. Mas do que sabemos sobre Ele, junto com o que sabemos sobre nós mesmos, podemos usar um pouco de lógica para concluir algumas coisas.

Suponha que C é uma grandeza que mede a capacidade de perdão. Desconheço o valor absoluto de C, mas acho que todos os religiosos, os crentes fervorosos e os teólogos concordariam com esta desigualdade:

CLeandro < CDeus

em que CLeandro é a minha capacidade de perdão e CDeus é a d'Ele. (Acredito que concordariam com a afirmação ainda que tivéssemos Ca, para todo a pertencente à raça humana... Mas para meus propósitos, não é necessário ser tão geral).

Agora, eu uso o conhecimento que eu tenho de mim mesmo: Se eu construísse um mundo e o povoasse com seres pensantes e jamais me mostrasse a um destes seres em particular, eu não o culparia se o pobre infeliz não acreditasse na minha existência. Ou seja, CLeandro é suficiente para perdoar uma criatura que não crê em seu criador.

Com base na inequação acima, afirmo: "Mesmo não acreditando em Deus, uma pessoa tera todas as regalias que terão os Seus outros filhos".


______
P.S. Na verdade, se me mostrasse deliberadamente à algumas das minhas criaturinhas e à outras não, eu sentiria um certo desconforto para com os que não me veriam... Afinal, porque somente alguns?..... Mas isso é outra história (Talvez se introduzíssemos uma nova variável J, que mediria a capacidade de ser justo...)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Como resolver um problema secular em 150 paginas.

Autora da façanha: Janeen Hunt.


Em 1954, cerca de um ano antes de sua morte, Albert Einstein escreveu, em carta ao seu amigo Michele Besso:

"Em todos estes cinqüenta anos de reflexão, não cheguei nem perto de responder à pergunta: 'O que é o quanta de luz?'. Hoje em dia, todo Antônio, Ricardo e Haroldo pensa que sabe respondê-la, mas ele está enganado."


Poor fellow...

domingo, 19 de agosto de 2007

Barreira do som

Quando um avião viaja mais rápido do que o som, as ondas sonoras acumulam-se na parte de trás da aeronave (normalmente, o som iria em todas as direções, mas nesse caso o avião ultrapassa as ondas que iriam à frente). Assim, a densidade de ondas fica acumulada numa região, e o efeito é que quando o avião passa por nós, ouvimos um boom, que é o barulho todo acumulado, por assim dizer.

Pode acontecer ainda de uma nuvem se formar na parte de trás quando a barreira do som é ultrapassada. Vejam:
(leiam mais clicando na figura).

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Vencedores e vencidos

Disse Nietzsche (A Gaia Ciência, Livro III, § 258):

"Nenhum vencedor acredita no acaso"

Pensando bem, não é de todo extraordinária esta afirmação. Quando alguém é derrotado, a idéia de que a derrota veio "apesar de todos os esforços", dá a tranqüilidade de ter feito um bom trabalho. Dizer que foi o acaso quem determinou o resultado a um perdedor é dar-lhe um consolo, é eximir-lhe da culpa.

Dizer à um vencedor que foi o acaso quem lhe deu a vitória é como dizer-lhe que não foi por competência que ele atingiu seu objetivo. É quase um insulto dizer a um vencedor que é o acaso quem determina os resultados.

Interessante como a mesmíssima idéia tem funções tão distintas: dar e tirar o mérito...

terça-feira, 14 de agosto de 2007

O Mundo de Beakman

Saudades do Beakman... Vejamos um em que Paulo Curioso, de Laboratoriópolis pergunta "Como os cientistas descobrem as coisas?". Eis a exposição a la Beakman do método científico:



No Beakmania, uma seqüência de respostas curtas a várias perguntas. Abaixo, ele responde a: "Chiclete é feito de que?"; "Quanto tempo dura uma nota de um dólar?"; "É verdade que os grilos escutam pelos joelhos?"; "Lesma dorme?" e "Por que choramos ao cortar uma cebola?". Com vocês, o primeiro, o único, o Beakman:

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Light at end of tunnel



- Oh, stars of the night!
Why are you so bright?
I'd like to get your light...

- So, we have to fight!

- Ok, let's do it tonight

- Yes! Just pick up a site!

- Then I'll claim the light
That is mine by right.

- Well... not quite!


OBS: Clique nas figuras para ampliá-las e ler sobre elas

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Amor à primeira vista

Não acredito nisso. Não é que nunca tenha tido uma experiência à qual pudesse atribuir tal explicação. É que acho que o que há é uma "atração à primeira vista". É diferente! Afinal, várias são as possibilidades, já que há casos em que essa atração inicial é maculada pelo conhecimento mais aguçado e não são raros os casos em que um amor se desenvolve sem que tenha havido tal atração inicial.

Não me refiro à relacionamentos, apenas. Refiro-me a tudo o que se ama. É assim com a música, nossos ídolos, com os livros que gostamos e as ciências que nos interessam. Se não nos dispusermos a conhecer melhor aquilo que nos atraiu num primeiro instante, estaremos naquele momento decidindo que não o amaremos. Nesse sentido, o amor não é assim tão arredio à razão quanto se diz por aí. Embora a atração inicial esteja além da nossa compreensão, os passos seguintes podem ser escolhas conscientes.

Por outro lado, temos a opção de dar uma outra chance àquilo que num primeiro momento não nos despertou interesse. Muitas vezes o nosso interesse está fortemente ligado às nossas experiências passadas e algo realmente novo pode não nos despertar interesse. Uma tentativa de conhecê-lo mais profundamente pode (não há garantias, é claro!) nos levar à um prazer ainda desconhecido. Quando insistimos em algo ao qual não nos sentimos atraídos à primeira vista e por fim nos descobrimos a amá-lo, reconhecemos que foi nossa ignorância a responsável pela ausência de interesse inicial... E quantos novos amores não nos foram negados pela ignorância?

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

ArXiv contra o plágio

Os físicos já sabem o que é o arXiv. Para quem não sabe, digo que, em minha opinião, é uma das maiores idéias da década passada. É um site onde publicam-se artigos. Simples assim! A vantagem é que os artigos publicados lá são gratuitos e são publicados bem antes de as revistas especializadas publicarem. O ruim é que não passa pela revisão rigorosa antes de ser publicado (por isso é publicado rapidamente).

Novidades no arXiv: Agora, um programa comparará frases do artigo submetido e informará ao autor: "your article has x% overlap with article 'a'. Do you really want to do this?". (Veja o artigo "Experimenting with Plagiarism Detection on the Arxiv", de Tony Feder, na edição de março da Physics Today. PDF do artigo aqui)

A idéia é desencorajar o plágio (para um caso recente, veja [1, 2, 3]), inclusive o auto-plágio (i.e., publicar o mesmo resultado muitas vezes).

O programa não considera frases comuns como, por exemplo, "this work was supported by". Parece que o programa será melhorado no futuro para comparar não somente as palavras, mas o conteúdo dos parágrafos, dificultando a vida de quem troca a as palavras para "ocultar" o plágio.

(Leia mais sobre o assunto aqui)

domingo, 5 de agosto de 2007

O Primo Basílio

Motivado pelo iminente lançamento do filme, estou lendo o livro de Eça de Queiroz. Destaco alguns trechos interessantes, tomando o cuidado para nada revelar sobre o enredo:

Tinha a certeza do seu direito a estas felicidades, e como elas tardavam chegar ia se tornando despeitado e amargo; andava amuado com a vida. (Gostei deste trecho pq resume bem o que penso sobre o amor-próprio ou auto-confiança que, quando fora de controle nos conduzem à tristezas mais do que ao sucesso.)

Porque nos temperamentos sensíveis as alegrias do coração tendem a completar-se com as sensualidades do luxo. (Desconheço a intenção do autor... em minha interpretação, isto é uma ironia: "sensíveis" deve ser entendido como "fracos", e "completar-se" deve ser compreendido como "confundir-se".)

- Que nos importa a nós o princípio da vida? Importa-me tanto quanto a primeira camisa que vesti! [...] O fisiologista, o químico, não têm nada com os princípios das coisas; o que lhes importa são os fenômenos! (Uma crítica à ciência básica em prol da aplicada... Deixo registrado que não sou de acordo com tal opinião!)

Já não havia aquelas conversas pueris, cheias de risos, divagadas e tontas, [...] em que esqueciam, depois da hora ardente e física, quando ela ficava numa lassitude doce, com o sangue fresco, a cabeça deitada sobre seus braços nus!

- [...] Queres que me atire de joelhos, que declame, que revire os olhos, que faça juras, outras tolices?...
- São tolices que tu fazias...
- Ao princípio! - respondeu ele brutalmente. - Já nos conhecemos muito para isso, minha rica. (Um trecho tristemente verossímil... "Conhecer muito" uma pessoa não deveria ser motivo... mas costuma ser, por aí...)

Onde estava o defeito? No amor mesmo, talvez! [...] Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois!... Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?... ( Será?)

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Edital Universal e Doutores Brasentinos

Da série "Notícias curtas":

  • O CNPq publica o Edital Universal que destinará 100 milhões de reais para projetos inscritos até 27 de setembro. É a maior quantia já destinada pela agência num único edital.
  • A CAPES faz parceria com a Argentina. Agora, o título de doutor emitido por qualquer um dos países é válido em ambos, automaticamente. Doutorando brasileiros podem completar seu curso em universidades argentinas e vice-versa.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Sobre a utilidade da Arte

É certamente nebuloso fazer classificações do conhecimento humano. Para os propósitos deste post, vou dividi-lo em dois: Arte e Ciência.

No princípio, era a Filosofia. Simplesmente, o amor ao conhecimento. Uma manifestação do desejo de saber que temos quando crianças e que escorre ao longo da vida em alguns casos... Pois bem, Filosofia teve duas filhas.

Na classificação incompleta e questionável que faço aqui, a Ciência estuda a Natureza fora de nós. Explora o comportamento e constituição daquilo de que somos feitos. É a filha da Filosofia que chegou a tal grau de sucesso que é hoje útil até mesmo àqueles que não a conhecem, pois chegou à compreensão objetiva das coisas. E tal compreensão permite manipular a Natureza para fazer máquinas que, depois de prontas, servem àqueles que acreditam nos princípios da Ciência, bem como aos ignorantes e rebeldes. Serve aos próprios inimigos.

Na tentativa de estudar o que havia dentro de nós, encontramos um terrível empecilho. Se nos fatiam, nos matam. Se nos monitoram, nos alteram. Se nos medem, nos assustam. Se nos perguntam, mentimos... E foi daí que surgiu outra filha. A Arte tem como propósito fornecer a explicação de ti somente a ti mesmo. Quando um poema é escrito, ele tem tantas funções que os autores chegam mesmo a considerá-lo sem função alguma. (Pausa para recomendar o prefácio de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Leia-o em inglês, ou em português.)

As inúmeras máquinas construídas com Ciência, têm uma utilidade independente do usuário. As sete construções da Arte, só servem ao usuário. E a cada um, de modo distinto. Música, dança, pintura, escultura, literatura, teatro e cinema são tentativas de nos entender. Mas o autor não tem esse desejo. Buscam entender a si mesmos e, no caminho, mostram-nos situações absurdas, e relações que desconhecíamos. Expõem suas experiências, medos e frustrações.

A utilidade, é somente compreendida por aqueles que, diante destas exposições, procura em si explicação para si. Diferente de sua irmã, Arte mostra-se útil somente aos seus amigos.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Pan 2007 - Mais do Mesmo

Henrique Guimarães escreveu um post digno de ser lido no blog Ciência e idéias. Ele fala das vaias durante o Pan, no Rio. Especialmente ao presidente Lula.

Às vezes penso que de tanto dizerem que o "brasileiro esquece das coisas", que "aceitam pacificamente" e que "é um país corrupto", as pessoas tendem a metralhar o que vêem pela frente quase sem pensar. Não defendo os políticos, mas acho que grande parte das críticas, quando questionadas, são justificadas com um vago "é um ladrão, safado".

No texto do Henrique há uma citação à Luís Fernando Veríssimo, que disse em "Cumplicidade" (leia o texto na íntegra no Zero Hora):

“ Veja onde você está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice. A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece. Enfim: antes de entrar num coro, olhe em volta.”