domingo, 5 de agosto de 2007

O Primo Basílio

Motivado pelo iminente lançamento do filme, estou lendo o livro de Eça de Queiroz. Destaco alguns trechos interessantes, tomando o cuidado para nada revelar sobre o enredo:

Tinha a certeza do seu direito a estas felicidades, e como elas tardavam chegar ia se tornando despeitado e amargo; andava amuado com a vida. (Gostei deste trecho pq resume bem o que penso sobre o amor-próprio ou auto-confiança que, quando fora de controle nos conduzem à tristezas mais do que ao sucesso.)

Porque nos temperamentos sensíveis as alegrias do coração tendem a completar-se com as sensualidades do luxo. (Desconheço a intenção do autor... em minha interpretação, isto é uma ironia: "sensíveis" deve ser entendido como "fracos", e "completar-se" deve ser compreendido como "confundir-se".)

- Que nos importa a nós o princípio da vida? Importa-me tanto quanto a primeira camisa que vesti! [...] O fisiologista, o químico, não têm nada com os princípios das coisas; o que lhes importa são os fenômenos! (Uma crítica à ciência básica em prol da aplicada... Deixo registrado que não sou de acordo com tal opinião!)

Já não havia aquelas conversas pueris, cheias de risos, divagadas e tontas, [...] em que esqueciam, depois da hora ardente e física, quando ela ficava numa lassitude doce, com o sangue fresco, a cabeça deitada sobre seus braços nus!

- [...] Queres que me atire de joelhos, que declame, que revire os olhos, que faça juras, outras tolices?...
- São tolices que tu fazias...
- Ao princípio! - respondeu ele brutalmente. - Já nos conhecemos muito para isso, minha rica. (Um trecho tristemente verossímil... "Conhecer muito" uma pessoa não deveria ser motivo... mas costuma ser, por aí...)

Onde estava o defeito? No amor mesmo, talvez! [...] Só os começos são bons. Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois!... Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?... ( Será?)

3 comentários:

Unknown disse...

Já que falou sobre o filme, poderia ser interessante uma entrevista que o diretor Daniel filho concedeu a revista Carta Capital:

http://www.cartacapital.com.br/2007/08/456/domador-de-publico

Um Abraço.

Leandro disse...

Trecho selecionados:

Da entrevista coletiva, segue para o SBT, onde participaria do programa da Hebe. [...] Ao saber que dividiria o sofá com Adriane Galisteu, com a jogadora de basquete Janete e com o KLB, franze a testa. “O que é KLB? Roquezinho?” O assessor de imprensa do filme, que o acompanhava, diz que o KLB é uma espécie de Sandy e Junior. “Ah! É sertanejo?” Explicam que é um grupo pop, que sempre aparece na tevê. “Nunca vejo tevê”, diz Daniel, a voz mais baixa.

“Você viu que loucura é fazer televisão? É o circo eletrônico mesmo”, diz, [...] Sobre o papel que a Globo desempenhou nos anos da ditadura militar ou sobre uma possível função apaziguadora das novelas, [...] “Teve um momento, no final dos anos 70, em que eu me senti meio Mefistófeles. Eu era responsável pelas novelas e tinha que fazer boas novelas. Aí existia aquela idéia de que a novela tinha a função de deixar o povo tranqüilo. Me perguntei sobre o que eu fazia. Mas passou logo”, sorri.

Sobre a recepção da crítica, não doura a pílula: “Todos os meus filmes foram mal recebidos. Há um preconceito. Ou é preconceito ou eles têm razão”. Mas o dia não é para desavenças. Daniel está com o sorriso fácil, a fala solta e gentil, feliz de poder alimentar o próprio mito. “Já dei muita entrevista e às vezes fico de saco cheio de responder as mesmas perguntas. Então, vou melhorando as histórias conforme conto. Mas faz bem ao ego saber que, aos 70 anos, ainda desperto interesse. Como te disse, achei estranho a CartaCapital querer falar comigo. Vê lá o que você vai fazer, hein?”

Leandro disse...

P.S. O filme é muito ruim. Aconselho a quem gostou do livro que o releiam, ao invés de ver o filme.