quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Porque japoneses são todos iguais?

Retirei o texto abaixo do Jornal da Ciência, onde se encontra a versão integral.

Não, os japoneses não são todos iguais. O que acontece, mostraram agora os cientistas, é que o "software" de reconhecimento facial do cérebro tem as suas limitações, e uma delas é patinar sempre que se depara com um rosto de uma etnia diferente.


Os pesquisadores selecionaram mais de 20 voluntários, metade de Europa e metade da Ásia. Mostraram a eles faces genéricas de orientais e ocidentais. Enquanto isso, observavam a sua atividade cerebral.


Perceberam que os voluntários decoravam com facilidade rostos de gente da mesma etnia que eles. Mas quando um europeu começava a observar faces orientais, logo se perdia e já não sabia dizer se um novo rosto era inédito ou não - e vice-versa.


Ao observar o que estava acontecendo no cérebro do coitado do europeu, perdido tentando lembrar se aquele chinês não era o mesmo que já tinha aparecido lá no começo, os cientistas notaram um significativo aumento na sua atividade neural. [Por outro lado,] um japonês que nunca saiu do seu país, ao desembarcar, digamos, na Alemanha, vai achar todos aqueles loiros muito parecidos e se questionar como é que eles conseguem saber quem é quem no dia-a-dia.


A explicação evolutiva mais simples para esse bug cerebral passa pelo fato de que passear pelo mundo fazendo amigos é coisa recente. Por dezenas de milhares de anos, encontros com etnias diferentes eram muito raros. Só era necessário identificar gente parecida, e o cérebro se moldou para isso.


Roberto Caldara, neurocientista italiano da Universidade de Glasgow (Escócia) e autor do trabalho publicado na revista científica "PNAS", diz que é interessante notar como esse cérebro limitado se adapta às grandes cidades cosmopolitas do presente, com gente de todo tipo nas ruas.


Isso vale, então, diz, para São Paulo: para parar de confundir orientais (e irritá-los chamando, por exemplo, coreano de japonês), é necessário se entrosar socialmente - só passear no bairro da Liberdade não adianta.


Jean Charles foi vítima do "bug", diz o cientista:


Roberto Caldara diz que a dificuldade para reconhecer gente de outras etnias pode ter "consequências dramáticas". Ele cita o exemplo do estudante brasileiro Jean Charles de Menezes. Ele levou, em 2005, sete tiros da polícia da Londres no Metrô da cidade, antes que pudesse falar alguma coisa.


(Eu acho que a polícia foi vítima do "bug". Jean Charles foi vítima da estupidez! Bom, voltemos ao texto:)


Ainda existem dúvidas na área de estudo de Caldara, porém. Provavelmente os resultados encontrados se repetiriam com outras etnias (negros, por exemplo), mas é necessário testar.


Além disso, os pesquisadores acham que pode ser interessante estudar como o cérebro reage quando exposto a faces mestiças. "Queremos saber exatamente também onde e como isso tudo acontece no cérebro", diz o cientista.


(Ricardo Mioto)

(também publicado em Folha de SP, 2/11)

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