domingo, 27 de janeiro de 2008

Bipedalidade e mulheres empinadas

Platão disse certa vez (se alguém souber, me responda: "Em qual livro?") que "o homem é um bípede sem penas". A definição é por demais simplista mesmo para os conterrâneos e contemporâneos de Platão, que provavelmente não conheciam cangurus e (muito menos) dinossauros. Tanto é assim que conta-se [1, 2, 3] que Diógenes, conhecido como "o cão" e pioneiro no cinismo, mostrou uma galinha depenada a um grupo dizendo "Eis o homem de Platão".

Mas é verdade que a bipedalidade é uma característica marcante do ser humano. A definição de Platão poderia ser refinada afirmando que "o homem é um bípede habitual, sem cauda e que se sente confortável dessa maneira". Os outros bípedes não caminham sobre duas pernas habitualmente, ou, se o fazem, como os cangurus e as avestruzes, necessitam de uma cauda para equilibrar o corpo que mantém uma postura quase horizontal. Pinguins e ursos são capazes de ficarem eretos, mas não se sentem confortáveis nesta posição, já que os primeiros preferem deslizar de barriga no gelo ou nadar e os últimos correm como quadrúpedes.

O ser humano, entretanto, mantém seu corpo ereto e sente-se confortável nessa posição. Do ponto de vista anatômico, esse conforto é justificado pelo formato da coluna vertebral, cuja curva logo na sua base atua como uma mola para tornar o andar confortável. O centro de massa do nosso corpo fica localizado na bacia e sua localização não costuma variar no caso dos homens, o que não é verdade, entretanto, para as mulheres. Quando elas ficam grávidas e o feto tende a desequilibrá-las pra frente, elas arrebitam o bumbum para que o acréscimo de massa na parte anterior do corpo seja compensada. Ao longo dos séculos, as mulheres, que ficavam a maior parte do tempo grávidas, desenvolveram uma ligeira diferença nos ossos da coluna em relação ao homem. Os ossos da coluna de um homem têm o formato cúbico enquanto que nas mulheres, apresentam um formato de cunha, facilitando a arrebitada.

As últimas linhas do parágrafo anterior é, na verdade, uma descoberta bem recente. Na edição de 13 de Dezembro de 2007 da Nature, os antropólogos Katherine K. Whitcome, Liza J. Shapiro e Daniel E. Lieberman apresentaram esse estudo no artigo entitulado Fetal load and the evolution of lumbar lordosis in bipedal hominins (O transporte do feto e a evolução da lordose lombar em hominídeos bípedes). O mais interessante deste trabalho é que uma estrutura do corpo possa ser praticamente deduzida por argumentos teóricos, baseados na evolução de nossa espécie. E mais: esta diferença nas vértebras lombares havia passado desapercebida até agora!

Devido à facilidade em arrebitar-se, a mulher o faz ainda que não esteja grávida, enquanto o homem não o faz ainda que tenha desenvolvido um buxão de cerveja... Aliás, isso explicaria por que os homens gostam de mulheres com bumbum empinado... Eu arriscaria dizer ainda que o salto alto é artigo feminino por razões relacionadas à esta predisposição pela lordose fisiológica.

2 comentários:

Dayse Raquel dos Anjos de Medeiros disse...

Professor o nome do livro é Político, acho que depois de tanto tempo alguém já deve ter falado, e você já deve até ter lido,mas achei válido responder já que não tinham comentários respondendo,aproveito para dizer que adorei o texto, esse e alguns outros que li, não tinha como para de ler...

Leandro disse...

Obrigado :-)