quinta-feira, 18 de outubro de 2007

As heresias de F. Dyson

Freeman Dyson é um físico norte-americano que deu importantes contribuições para a teoria quântica dos campos. Uma das mais importantes foi mostrar que a formulação de Feynman para a Eletrodinâmica Quântica (usando integrais de trajetória) é equivalente à formulação (canônica) de Schwinger e Tomonaga.

Em agosto deste ano, ele publicou o que chamou de "Pensamentos heréticos sobre ciência e sociedade". O primeiro destes pensamentos é que as heresias são necessárias. Em minha opinião, isso não chega a ser heresia, já que todo cientista sério concorda que a ciência necessita de gente que questiona as bases. Embora, é claro, tais heresias não são sempre recebidas de braços abertos. Dyson conta a história de um colega seu (Tommy Gold), que teve dificuldades em ter suas teorias aceitas... Mas este exemplo já está no texto do Dyson... Eu cito outro exemplo: No livro "Uma breve história de quase tudo", Bill Bryson conta a história do geólogo canadense Lawrence Morley, que encontrou dificuldades em publicar seu artigo (e portanto é desconhecido hoje) sobre a expansão do fundo do Oceano. Esta expansão serve hoje como base para o Modelo da Deriva Continental (que afirma que os continentes se afastam aos poucos). Segundo Bryson, o editor da revista Journal of Geophysical Research comentou: "Tais especulações seriam interessantíssimas num coquetel, mas não é o tipo de coisa para ser publicada numa revista científica séria". Quando tais opiniões são desfavoráveis à uma idéia que mostrou-se certa, achamos ridículas. Mas acho que a resistência à novas teorias é um fenômeno natural e, até certo ponto, aceitável. Cabe ao desafiante mostrar-se certo. (É claro que tudo isso poderia ser feito com menos arrogância!)

O texto de Dyson, entretanto, é dedicado a apresentar a sua maior heresia: Ele considera exagero tudo o que é dito sobre as mudanças climáticas. Afirma, com razão, que o sistema que tratam é extremamente difícil de ser modelado e que suas previsões não são confiáves. Há muitas coisas que não entendemos bem e isso pode influir nos cálculos. Em entrevista à Scientific American em julho de 2007, por exemplo, o glaciólogo brasileiro Jefferson Simões afirma que o aquecimento global provoca um derretimento ínfimo do gelo antártico. Segundo Simões, até 2100, teríamos uma elevação de apenas 10cm no nível do oceano. A situação é diferente, entretanto, para o norte. A Groelândia, por exemplo, derrete em uma taxa bem mais elevada. (ATUALIZAÇÃO: Veja este link.)

Acredito que nosso conhecimento sobre o planeta não nos permite fazer previsões seguras. Mas acho que o exagero é importante (e aqui vai minha heresia). Penso que é melhor exagerar nestes efeitos do que mostrar toda a insegurança que temos nos dados. Eu sei do compromisso da ciência com a verdade e blá-blá-blá. Mas acho que para o público geral, os costumes não se modificariam se disséssemos que "modelos imprecisos de computador indicam que o efeito do homem é nocivo"... As empresas, com sua mínima "preocupação ambiental", só o fazem por que parte da população está assustada. Gosto da campanha exagerada que está sendo feita. É importante que os cientistas tenham ciência das falhas e inseguranças. Mas ao público e aos governos, dizemos que o mundo vai se acabar!!! (Rsrsrsrs)

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