quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Preâmbulo d'A Arte de Amar

A meio caminhar de minha vida
tive em mim o pensamento incutido
de instruir alguma alma perdida

que ainda não tenha conhecido
as ardilosas sutilezas do Amor;
ou que ainda não tenha aprendido

a arte de dominar o seu furor.
Seria falso dizer que foi Febo
o meu guia e verdadeiro tutor.

Quem me dita esta obra, mancebo,
é tão-somente minha experiência!
Ah! Mas eu desde já me apercebo

que ao leitor falta indulgência;
para perdoar tamanho sacrilégio
de tratar tal assunto como ciência,

dessas que se aprende no colégio,
quando é claro que isso não se faz:
não se ensina o sentimento régio!

Mas digo que o Amor, tão contumaz
quanto das crianças a mais mimada,
pode, por um pulso firme e eficaz,

ser domado pela alma preparada;
assim como a própria tempestade
respeita o piloto de mão treinada!

Cada vez que o Amor me invade,
ou me fere o peito com sua lança,
eu vejo como uma oportunidade

de bem preparar minha vingança!
E é por isso que ele me obedece:
pois eu conheço dele cada nuança.

Todavia, o poema que aqui se tece
não se trata desse Amor bandido,
mas somente aquele que enaltece.

Cantarei aqui só o Amor permitido
e não ensinarei nenhum ato infame,
nada que possa ser repreendido.

Meu desejo é que aprenda e ame!

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