quinta-feira, 26 de julho de 2007

Física às pressas. Rumo à glória

Antes de ontem, um artigo publicado no The New York Times causou um rebuliço nos blogs de física [1, 2, 3, 4].

O texto, escrito por Dennis Overbye, inicia contando uma história antiga. Em 1977, Steven Weinberg ouviu um rumor de que o Fermilab tinha observado um tripleto de múons. Rapidamente, Weinberg cancelou sua reserva num hotel no Parque Nacional de Yosemite para dedicar-se, juntamente com seu colega Benjamin Lee, à formulação de uma teoria para explicar os "trimúons". E publicaram seus resultados, dizendo, no resumo, que a teoria "dá conta dos recentemente descobertos trimúons"...

O problema é que depois verificaram que não havia tais múons! O rumor era falso. Anos depois, Weinberg afirmou “Eu sempre senti um desconforto com o fato de que nós conseguimos formular uma teoria”. (Até hoje, Weinberg não visitou o Yosemite...)

Mas o rebuliço foi devido ao que se segue no artigo de Overbye. Ele fala da notícia que surgiu em alguns blogs alguns meses atrás de que o Higgs foi encontrado no Fermilab. Alguns cientistas do Fermilab estão incomodados com a possível detecção do Higgs pelo LHC.

"Seria um feito fantástico para adicionar mais uma jóia à coroa de descobertas do Tévatron [acelerador do Fermilab]. Temos nosso orgulho.", disse Konigsberg, da Universidade da Flórida.

Sobre a possibilidade de o Higgs estar numa faixa de energia acessível ao Tévatron, Robin Erbacher, da Universidade da Califórnia, disse "Tê-lo diante dos olhos e não reportá-lo seria muito embaraçoso."

Parte da esculhambação vem do fato de que há, atualmente, dois grupos rivais no Fermilab. O Collider Detector at Fermilab (CDF) é o mais antigo. O outro, é o D-Zero Experiment (DØ) (com o qual o Brasil contribui através do SPRACE, mencionado dois posts atrás).

Tudo começou quando John Conway, membro do CDF, reportou no blog Cosmic Variance sua análise de uns dados que pareciam o Higgs. Isso gerou muito bá-fá-fá em torno do tema. Depois disso, Tommaso Dorigo (do CDF) escreveu um post no seu blog respondendo à um anônimo que perguntava sobre o D-Zero. Respondeu que não tinha acesso aos dados, já que não era do D-Zero, mas que tinha amigos de amigos de amigos... Bom, que ia tentar se informar. "Até conseguir informação", afirma ele, "sou livre para especular". Ao que um membro do D-Zero, o físico Gordon Watts, da Universidade de Washington, replicou dizendo que Dorigo estava "especulando sobre rumores". Dorigo respondeu dizendo: "se você foi chamado pela imprensa para comentar este rumor, você está fazendo um comentário de segunda-mão sobre o rumor!".

Bom, há material demais para ler sobre esta briga e eu transcrevi pra cá só o suficiente para dizer uma coisa: A CORRIDA DESESPERADA PARA FAZER PUBLICAÇÕES PODE NÃO SER UMA BOA IDÉIA E ATRAPALHAR A PESQUISA CIENTÍFICA.

Talvez se os grupos D-Zero e CDF trabalhassem em conjunto, teríamos algo mas científico para comentar aqui.

Aliás, lembrei de outra coisa: quatro meses após chegar em São Paulo, participei de um evento no Instituto de Física Teórica. Lá, Gastão Krein, diretor do IFT, disse aos participantes (em sua maioria, alunos de graduação): "Não ensine nada a ninguém. Faça as coisas por si e não mostre como chegou ao resultado ao seu colega, pois amanhã ele disputará um emprego com você!".

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