segunda-feira, 2 de julho de 2007

Transplante de genoma

Na semana passada, a revista Science publicou um artigo entitulado "Transplante de genoma numa bactéria: Transformando uma espécie em outra", de pesquisadores do Instituto Craig Venter (EUA). Introduziram o material genético de uma espécie em outra e conseguiram obter uma cópia do original no fim do processo. Agora, se conseguirem montar um genoma num laboratório, já sabem como transformá-lo num ser vivo. É uma questão de manipulação de átomos, parece.

Houve um tempo em que haviam deuses responsáveis para segurar os céus, levar o Sol de uma ponta a outra da abóbada celeste, fazer chover, etc. Destes, na nossa cultura, restou um só, que seria responsável por criar o Universo e conversar conosco, ouvindo nossas lamúrias. A gente viu que Ele não precisa ficar empurrando o Sol todo dia. Basta que Ele tenha escrito, de uma vez por todas, bem no início, que as coisas funcionariam se atraindo com uma força cuja intensidade varia com o inverso do quadrado da distância. Também não precisa conversar com o Sol, pois este não tem vida. Regido por leis bem determinadas, Deus apenas faria o trabalho de vê-lo funcionar, o que não parece um trabalho muito.... muito.... digamos, Divino.

Eu sei que essas leis não se aplicam aos seres humanos, ou mesmo aos seres vivos em geral, já que somos imprevisíveis, parecendo ter livre arbítrio. Entretanto, não houve já um tempo de tanta ignorância em que o Sol parecia ter vondade própria ao passar mais tempo no céu algumas vezes e menos tempo em outras? Em que o momento da passagem de um cometa era tão arbitrário quanto o momento em que alguém acende um cigarro?

Será possível chegarmos à tal nível de compreensão dos mecanismos da Natureza que a alma teria a mesma função em relação à nós como tem Deus hoje para com o Sol?

Fico triste quando a possibilidade de sermos somente um punhado de átomos aparece na minha cabeça como a mais provável. Mas minha tristeza não é argumento para refutar o pensamento... Mas há algo de especial em nós: é extremamente improvável que a disposição de átomos que está em você agora seja reproduzida em algum outro momento ou lugar. Talvez haja coisas que somente esta precisa configuração possa fazer do modo como faz. É necessário, então, aproveitar este arranjo aleatório de átomos antes que seja destruído. (Sabemos que, cedo ou tarde, são todos destruídos...)

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